19- Quinta - Evangelho - Lc 19,41-44
Irmãos e irmãs, é muito interessante o contexto celebrativo, em que Nosso Senhor Jesus Cristo se comunica em Jo 10, 31-42. Aconteceu que o rei Antíoco IV Epífanes (cf. 1 Mc 4,36-59; 2 Mc 10,1-10) promoveu uma profanação do Templo, e a chamada “Festa da Dedicação” fazia memória da reconsagração do Templo por volta de 164 a.C. Portanto, respirava-se um clima festivo de reconquista e consagração.
Por tudo isso, o justo motivo de uma grande festa
judaica. Convém também lembrar que os cristãos da comunidade joanina estavam
diante de um Evangelho escrito posteriormente à destruição definitiva do Templo
de Jerusalém (70 d.C.), por ocasião da invasão do exército romano. Realidade
prevista por Cristo, mas não desejada, como testemunha o Santo Evangelho:
«Quando Jesus se aproximou de Jerusalém e viu a cidade, começou a chorar. E
disse: “Se tu também compreendesses, hoje, o que te pode trazer a paz! Agora,
porém, está escondido aos teus olhos! Dias virão em que os inimigos farão
trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados. Esmagarão a ti e a
teus filhos, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não reconheceste o
tempo em que foste visitada» (Lc 19, 41-44).
Palavra realista de um Deus apaixonado, que não
podia impor a Sua vontade nem a verdade! Mas também uma revelação que serve de
alerta para a responsabilidade humana e suas consequências perante as
indispensáveis visitas de Deus na história pessoal e universal. Ele continua a
agraciar o povo amado de Deus e revelou-se como Deus Uno e Trino: «Eu e o Pai
somos um» (Jo 10, 30).
Jesus Cristo, um com o Pai, no Espírito Santo!
Ele é a manifestação do mistério do Deus Triúno pelo Seu ser, agir e falar, mas
que espera uma resposta de fé e adesão igualmente livre: «Se não faço as obras
de meu Pai, não acrediteis em mim. Mas, se eu as faço, mesmo que não queirais
crer em mim, crede nas minhas obras para que saibais e reconheceis que o pai
está em mim e eu no Pai» (vv. 37-38).
Assim Jesus se revela como sendo maior do que o
venerável Templo, ainda que o Senhor não o despreze. Ele se apresenta como o
Dedicado e o Consagrado por excelência do Pai, que O enviou para obras de
salvação. E caso O quisessem destruir (matar), como de fato tentaram e
conseguiram, a Sua Palavra e poder é quem dará sempre a última palavra, pois
ela é definitiva, e não a ignorância e maldade humana: «Destruí vós este templo
e em três dias eu o reerguerei» (Jo 2, 19).
Com outra palavra de vida eterna, Jesus Pascal
iluminou também a Semana Santa que se aproxima: «Ninguém me tira a vida, mas eu
a dou por própria vontade. Eu tenho poder de dá-la, como tenho poder de
recebê-la de novo. Tal é o encargo que recebi do meu Pai» (Jo 10, 18).
Na proximidade da Solenidade das solenidades – a
Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo -, somos convidados a um mergulho no amor
encarnado e crucificado, que venceu o mal e a morte, reconquistando
gratuitamente para nós a nossa comunhão com Deus e entre nós. O único Redentor
do gênero humano consagrou-nos na verdade que liberta (cf. Jo 17), isto pela
Sua oração, graça e santo Batismo; também pelos méritos infinitos mereceu-nos a
participação numa festa eterna, atualizada, prefigurada e antecipada por obra
do Espírito Santo.
Realidades e possibilidades que nos convidam a
uma participação ativa e frutuosa na Sagrada Liturgia da Igreja, principalmente
neste tempo forte que se aproxima. Por isso, desde já, tenhamos uma Santa
Semana em torno do mistério do Amor Pascal e não meçamos esforços para tomarmos
posse das graças alcançadas por Quem não mediu esforços para nos salvar! Santa
Páscoa!
Padre Fernando Santamaria – Comunidade Canção Nova
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