Dia 6
Na caminhada para o Natal e para o jubiloso
encontro com Jesus, nós somos ajudados por grandes personagens. A começar pela
Virgem Maria, a aurora que anunciou a chegada do Sol. E vem depois o profeta
Isaías, que lá das distâncias dos tempos bíblicos entreviu com admirável
clareza os tempos do Messias. E ainda São Paulo, que é o sublime teólogo que
“contempla a grandeza de Cristo”. E, de modo muito particular, São João
Batista, o último dos profetas e o Precursor do Evangelho. Ele preparou o povo,
lá nas margens do Jordão, para receber a Cristo no início de sua vida pública.
E vem agora ajudar-nos na chegada do Natal.
João Batista é um profeta eminentemente austero.
No seu modo de vestir – uma roupa de pêlos de camelo e um cinto de couro – e de
se alimentar – gafanhotos e mel silvestre – na sua vida e na sua pregação. Dele
falara Isaías, quando disse: Voz do que clama no deserto: Preparai os caminhos do Senhor. Essa voz ressoou rude e
forte, conclamando os pecadores à conversão. E, apesar da dureza de suas palavras,
os pecadores vinham até ele e ouviam suas terríveis ameaças, duras, sobretudo
quando ele percebeu entre os seus ouvintes os fariseus e os saduceus. E
recebiam o batismo que ele ministrava nas águas do Jordão, preludiando o futuro
batismo do Cristianismo: Eu vos batizo com água, para
vos mover à penitência, mas o que vem depois de mim é mais forte do que eu… Ele
vos batizará no Espírito Santo e no fogo. E eram inúmeras as
conversões.
Nós também devemos ouvi-lo. Não nos assustemos
com a veemência de sua pregação. Cada estilo tem sua época. E cada homem tem
seu estilo. Hoje também temos pregadores que imitam de algum modo a rudeza da
pregação do Batista. São missionários cheios de zelo, e causam grande impressão
nos ouvintes, e dobram a dureza de muitos corações. Sobretudo pelo testemunho
de vida que acompanha suas palavras. São instrumentos de Deus para fazer sentir
a gravidade do pecado e o perigo da condenação. Sobretudo para aqueles que
andam adormecidos numa vida pecaminosa, confiando – quem sabe? – nos seus
privilégios de cristãos. João Batista dizia para os seus ouvintes:Não penseis que basta dizer dentro de vós mesmos: ‘Temos por pai
Abraão’. Porque eu vos digo que Deus pode destas pedras suscitar filhos de
Abraão. E se referia, sem dúvida, não simplesmente às pedras, tão
abundantes ali no deserto, mas às pedras dos corações endurecidos pelo erro e
pelo pecado.
João
preparou o caminho para Jesus. Ele é o Precursor. Seria maravilhoso que na
devoção popular a São João Batista – tão folclórica! – não faltasse esse
elemento. Saber que ele nos leva a Cristo. Ele não é um ponto de chegada! Ele é
o caminho. E nos leva a Cristo pela palavra, pelo exemplo, pelo desejo sincero
de levar todos a fugir do pecado e a conseguir a salvação.
Esse
mesmo Isaías que nos definiu com palavras tão felizes a pessoa de João Batista
– a voz que clama no deserto -, fala-nos de Cristo com palavras ainda mais
maravilhosas, que podemos encontrar a cada passo na liturgia. Neste domingo,
por exemplo, encontramos um verdadeiro perfil de Cristo, enquanto cheio da
presença do Espírito Santo: Ele é “um rebento da raiz de Jessé – isto é, um
descendente de Davi -, sobre quem repousa o Espírito do Senhor! Espírito de
Sabedoria e de discernimento, Espírito de conselho e de fortaleza, Espírito de
ciência e de piedade, e o encherá do Espírito do temor do Senhor! Notemos que
essa enumeração, adotada pelo texto da Vulgata, corresponde à nossa lista dos
“sete dons do Espírito Santo, como aparecem no ritual do sacramento da Crisma.
Esse
Cristo, cheio do Espírito do Senhor, transformará a terra numa terra de paz: o
lobo habitando com o cordeiro, o cabrito com o leopardo, a vaca com o urso, a
criancinha podendo pôr sem medo a mão na cova da serpente. Não haverá perigo,
porque o conhecimento do Senhor encherá a terra como as águas enchem o mar (cfr
Is 11,1-10). E o profeta conclui com esta proclamação de vitória: Naquele dia,
a raiz de Jessé se erguerá como sinal dos povos” (v. 10). Como um grande
estandarte levantado no coração da História. Como irá proclamar a carta aos
hebreus: “Cristo ontem, hoje e para todos os séculos! (Hb 13,8).
Espírito
que converte, toca o coração de todas as pessoas para que, abandonando seus
erros e vícios, voltem-se para Jesus, por uma sincera conversão.
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