24- Terça - Evangelho - Lc 21,5-11
Em meio ao barulho do povo no templo, alguns admiram a magnificência da construção. O templo, reconstruído depois do exílio, parece que foi realmente modesto se comparado com o primeiro, construído por Salomão. Contudo, para a época de Jesus, aquele modesto templo do pós-exílio era outra coisa totalmente diferente.
Herodes
o Grande, com mania de grandeza por natureza, buscando reconciliar-se com os
judeus, havia-se encarregado de remodelá-lo, com ampliações e com soluções que
ainda surpreendem a engenharia moderna. Isto para entender por que os
visitantes se maravilhavam tanto com aquela obra. Exceto a magnificência do
edifício e a pompa da obra como tal, sabemos que o templo significava tudo para
Israel, não somente por sua convicção de que era o lugar da Presença, lugar
onde habitava o Nome de Deus ou sua Glória (Ezequiel 43, 4), mas porque, como
estrutura institucional, determinava todos os destinos políticos, econômicos,
sociais e religiosos da nação.
Consideremos
só o religioso: o templo, como habitação do Nome, do lugar específico do Santo
dos Santos irradiava sua santidade para os demais lugares do templo:
primeiramente para o que estava mais perto do lugar da Santidade: o altar, em
seguida as casas e o pátio dos sacerdotes de Israel, depois as casas e os
pátios dos levitas, pátio dos israelitas legalmente puros, pátio dos impuros,
pátio das israelitas e das crianças, pátio dos estrangeiros, palácios próximos,
o resto da cidade, o país e o mundo; de modo que a santidade se deduzia pela
proximidade ou distância do lugar da Santidade divina. Nessa medida, o templo
era a réplica em miniatura da sociedade israelita estratificada por razões
sociais, econômicas e contraditoriamente, por razões religiosas.
Aqueles
que observam a maravilha arquitetônica não estão em condições de pôr em questão
tudo o que há por trás daquela estrutura de pedra; unicamente Jesus, que como
já vimos se orienta por outros critérios, com outros parâmetros, é capaz de
questionar e até se atreve a predizer sua destruição: o da ruína material pôde
tê-lo dito pela simples constatação histórica porque já havia ocorrido em 587,
mas também porque era um fato que os detentores do poder procuravam arruinar as
construções religiosas dos súditos para submetê-los com maior crueza.
Destruindo os templos, saqueando-os e, especialmente, retirando deles as
estátuas das divindades e demais símbolos religiosos, os invasores davam por
submetidos também os deuses dos povos conquistados, e estes tinham a obrigação
de submeter-se à religião do conquistador.
Já o
templo de Jerusalém tinha sido saqueado pelos babilônios, pelos gregos, e
faltavam os romanos, mas não tardariam. Contudo, a realidade da destruição do
templo Lucas já a devia conhecer e aproveita aquela imagem para pô-la na boca
de Jesus como profecia e como introdução a seu discurso escatológico que se
abre precisamente aqui a propósito das palavras de uns aterrorizados fiéis
diante daquela fortíssima construção.
Não
é necessário, portanto, insistir se Jesus predisse a destruição de Jerusalém e
seu templo em termos literais. O mais importante é que com a clareza de uma
consciência totalmente liberta e desprovida da alienação religiosa, própria de
seu tempo, Jesus manifesta sua mais profunda convicção e fé na queda de todo o
sistema montado ao redor do templo como estrutura geradora de injustiça
institucional. Não seria algo pacífico nem fácil, com a mesma violência e
injustiça com que se tinha levantado tudo aquilo, seria derrubado também. Não
porque Deus interviesse para que as coisas assim acontecessem, senão como uma
espécie de lei da vida.
Pai, teu Filho Jesus é sinal de tua presença no
meio da humanidade. Que eu saiba acolhê-lo como manifestação de tua
misericórdia, e só nele colocar toda a minha segurança.
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