1ª Leitura Ex 20, 1-17
07 de março de 2015
Salmo João 6,68 c “Tu tens as
palavras da Vida Eterna”
2ª Leitura 1Cor 1, 22-25
Evangelho João 2, 13-25
"MERCANTILISMO RELIGIOSO"
Um dia quando líamos esse evangelho
em uma reunião de equipe, levantou-se a Dona Maria, que veio lá do norte, e
disse que Jesus a fez lembrar-se dos fiscais que davam o “rapa” quando ela e o
marido tentavam vender mercadorias em uma rua de São Paulo, “eles chegavam
arrebentando tudo, virando a banca de pernas prá cima e a gente corria, senão o
cassetete de borracha “comia solto”, nunca pensei que Jesus Cristo também
perdesse a paciência e ficasse brabo desse jeito” – finalizou Dona Maria.
Foi quando uma catequista muito jovem,
perguntou-nos se Jesus estava realmente bravo, e com o que, qual a causa da sua
indignação ? O grupo ficou dividido, uns acharam que ele já estava cansado de
ver aquela exploração no templo, e que nesse dia, estando com o pavio curto e a
paciência esgotada, não se segurou e “soltou os cachorros” prá cima dos
exploradores gananciosos. Outro grupo achou que na verdade, o evangelista quer
colocar essa briga como o estopim que irá desencadear todo o processo contra
Jesus, já que era a semana da páscoa judaica e os vendedores que foram
expulsos, não iriam deixar barato aquela atitude de Jesus, mesmo porque, eles
vendiam com autorização dos sumo sacerdotes, que tinham interesse nas vendas,
uma vez que a maioria eram latifundiários, portanto “fornecedores” naturais de
animais para serem sacrificados, podendo então concluir que Jesus havia
“cutucado a onça com a vara curta, ou ainda, havia mexido com um vespeiro”
Como membro da comunidade e
freqüentador do templo, Jesus não concorda que haja uma segunda intenção
naqueles que trocam moedas e vendem animais para o sacrifício, porque
comunidade não é lugar de se fazer barganha, de se buscar interesses
particulares que não sejam os do bem comum, não é lugar para se fazer negociatas
e trocas de favores, e vem daí a indignação de Jesus para com as lideranças que
permitiam a exploração, porque a venda lhes trazia um lucro bem gordo. Muitas
vezes tranqüilizamos a nossa consciência quando pensamos que trabalhamos
realmente com amor e que nada buscamos para nós, na pastoral ou movimento onde
atuamos, entretanto, sempre há a tentação de ganharmos algo em troca do nosso
trabalho, quem é que não quer ser reconhecido por aquilo que faz?
Ser sempre ouvido, consultado, ter
a opinião mais importante, ter uma palavra de peso maior, ter poder de
influência no conselho e nas demais equipes, exercer um poder paralelo ao da
instituição, medir forças com outra liderança, com nossos pastores, ministros,
cooperadores, ter prioridade em ocupar salas ou outro espaço qualquer, fazer
certas exigências para desempenhar o trabalho. A grande verdade é que, embora
de uma maneira dissimulada, também temos nossas “barraquinhas” particulares que
faz da comunidade uma verdadeira feira livre ás vezes.
A indignação de Jesus é porque as
relações no templo tornaram-se mercantilizadas, e então o evangelho nos faz um
forte apelo chamando-nos a uma conversão sincera, para que a convivência na
comunidade seja sempre marcada pelo amor gratuito, pela docilidade e flexibilidade,
não nos faltando misericórdia, compreensão e paciência, e que possamos eliminar
do nosso meio as divisões, os ranços e azedumes, que magoa, fere e machuca os
irmãos e irmãs. Que não profanemos o templo sagrado que é a vida dos irmãos,
onde o Senhor está presente, senão, de pouco adiantará respeitarmos o ambiente
sagrado da igreja templo.
No êxodo, Deus caminhava no meio do
povo, habitando em tendas, depois, na monarquia ele foi “enlatado” no templo de
Jerusalém, para dar sustentação ao Rei, seu ungido que reinava em seu nome.
Deus estava no templo para ser adorado, receber as ofertas e sacrifícios, mas
agora, ao se colocar como novo templo, Jesus Cristo está dando um solene basta
a antiga religião, Deus deixará o templo para habitar na “Eclésia”, na assembléia
da igreja, no meio do povo da nova aliança, aberto a todos os homens que
quiserem participar do novo reino. Deus faz morada no mais íntimo do homem
dando um novo significado à vida humana, que entra em comunhão com o Divino,
tornando-se sagrada e indestrutível.
Aos homens que pensaram ter destruído Jesus
para sempre na cruz do calvário, Deus Pai o encheu de glória com a
ressurreição, os que hoje pensam ser capazes de enterrar o cristianismo,
ridicularizando os seus ensinamentos terão uma surpresa no final da história,
pois Jesus garante que esse Reino é eterno e atingirá a sua plenitude,
independente da vontade do homem.(Diácono José da Cruz – Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim SP – E-mail cruzsm@uol.com.br)
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