SEGUNDA FEIRA DA V SEMANA DA QUARESMA 23/03/2015
1ª Leitura Daniel 13, 1-9.15-17
Salmo 22/23,4 a “Ainda que eu atravesse o vale escuro, nada
temerei, pois estais comigo”
Evangelho João 8, 1-11
“QUEM NÃO TIVER PECADO...”
Não sei se colocaram alguma câmera oculta ou o marido traído
contratou algum espião, o fato é que aquela mulher fora pega com a “boca na
botija” em flagrante adultério. Que prato cheio para os fofoqueiros de plantão!
Quando ouvimos alguma notícia de alguém da nossa igreja, que
cometeu algum pecado na área da sexualidade, parece que é o maior de todos os
pecados e nos apressamos em passar a notícia para frente. “Bem que desconfiei
que essa mulher não valia nada!” - “Pois é, tinha uma aparência de santinha,
mas de santa não tinha nada” – “Ah isso eu já desconfiava faz tempo, essa nunca
me enganou!”.
Tenho séria desconfiança de que isso aconteceu na comunidade do
evangelista João e que também já ocorreu em nossa comunidade em nível de
paróquia ou de diocese. Como é que reagimos diante de um escândalo?
A coisa é tão grave, que dependendo da pessoa, nos alegramos
interiormente, se dela já fazíamos mau juízo. Julgamos e condenamos, usurpando
de um direito que só pertence a Deus. E se encontrarmos a pessoa na comunidade
ficaremos horrorizados “Meu Deus, como é que pode, será que ainda não avisaram
o padre?”
Assim aconteceu com a mulher adúltera que já estava presa nas mãos
dos seus acusadores, que decidiram levá-la até Jesus, só para verem como é que
ele iria reagir diante de um caso que não tinha saída. É verdade que ela ainda
não tinha sido julgada pelo conselho do sinédrio, mas não tinha escapatória,
seria condenada à morte por apedrejamento em praça pública.
Pediram a opinião de Jesus, mas antes já tinham feito o julgamento
“ela foi apanhada em flagrante adultério e a lei de Moisés manda que seja
apedrejada em praça pública até a morte. E o senhor, o que é que diz?”
Quando vamos falar sobre o pecado que o irmão cometeu, também
fazemos assim: já o julgamos e condenamos, não importa o que o outro vá
dizer...
Mas Jesus passou de caça a caçador, concordou com o apedrejamento
como mandava a lei porém, mudou o foco da conversa, que até aquele momento era
o pecado da mulher “quem entre vós não tiver nenhum pecado, que atire a
primeira pedra”.
Como muda o que pensamos da pessoa do próximo, quando olhamos para
o nosso pecado! O evangelho afirma que
começando pelos mais velhos, todos se foram.
Os mais velhos da comunidade não têm direito de julgar e condenar a
ninguém porque a referência não é uma pessoa, por mais virtuosa que ela seja,
mas Jesus! Ele é a cabeça da igreja,
nós somos apenas os membros. Ele é o tronco, nós simplesmente os ramos!
Jesus não a condenou “Se ninguém te condenou nem eu te condeno. Vá
e não tornes a pecar”. A palavra “condenar” é própria do ser humano, mas não de
Deus, ele jamais irá condenar a ninguém. Quando em nossa mente projetamos a
imagem de um Deus que nos condena, estamos na verdade recusando todo o amor e a
misericórdia que ele manifestou no seu Filho Jesus.
O amor e a misericórdia que Jesus manifestou para essa mulher
pecadora, não foi motivado pelo arrependimento, em nenhum momento o evangelho
fala que a pecadora estava arrependida, estava sim humilhada porque seu pecado
fora descoberto, parece que a dor moral era maior do que o medo das pedradas
que estavam por vir. Todos contra ela, apoiados no rigorismo da lei, porém
Jesus coloca a vida e a dignidade humana acima da lei, quando ficou a sós com a
mulher, não lhe perguntou se estava arrependida do que fizera, não lhe lembrou
a gravidade do seu pecado e não fez nenhum discurso moralista, apenas a orientou
para que não mais pecasse.
Às vezes o nosso perdão dado ao próximo que errou, é acompanhado de
tanto palavrório e discurso, que faz ficar mais pesado o sentimento de culpa do
outro. O verdadeiro perdão cura a dor da culpa e resgata ao pecador a dignidade
perdida. É assim que Deus age conosco, foi precisamente para isso que Jesus
veio ao mundo, missão definida pelo precursor João Batista “eis o Cordeiro de
Deus, aquele que tira o pecado do mundo”.
Portanto, antes de olharmos
para o pecado do irmão, com uma boa lupa de aumento, olhemos para a nossa vida
e sintamos o quanto Deus nos ama, sem nunca nos ter julgado e
condenado.(Diácono José da Cruz – Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim
SP – E-mail cruzsm@uol.com.br)
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