03 de Abril de 2015
Sexta-feira Santa ou simplesmente a Paixão e
Morte de Jesus. Somos levamos a contemplar e vivenciar o mistério da iniquidade
humana na pessoa de Cristo sim, mas – e sobretudo – o mistério do Seu triunfo
definitivo.
O rito da apresentação e adoração da cruz vem
como consequência lógica da proclamação da Paixão de Cristo. A Igreja ergue,
diante dos fiéis, o sinal do triunfo do Senhor, que havia dito: “Quando vocês levantarem o
Filho do Homem, saberão que Eu sou” (Jo 8,28).
Enquanto apresenta a cruz, o celebrante canta por três vezes: “Eis
o lenho da cruz, do qual pendeu a salvação do mundo”. A assembleia, cada vez,
responde: “Vinde, adoremos!”. Durante a procissão da adoração, entoam-se
cânticos apropriados.
Jesus morre no momento em que, no Templo, se imolam os cordeiros
destinados à celebração da Páscoa. A Sua imolação é “real”, um sacrifício
realizado de uma vez por todas, porque a vítima espiritual tornou inúteis as
vítimas materiais.
Outros pormenores completam o quadro: de Jesus não são quebradas as
pernas, em conformidade com as prescrições rituais (Ex 12,46); do Seu lado
transpassado, jorra o sangue, com o qual são misteriosamente assinalados os que
pertencem ao novo povo, aqueles que Deus salva (cf. Ex 12,7.13). Cristo
crucificado é, pois, o “verdadeiro Cordeiro pascal”: Ele é a “nossa Páscoa”
imolada (cf. 1Cor 5,7).
Os profetas, especialmente o Segundo Isaías (1ª leitura), descrevem
o Servo do Senhor no momento em que realiza Sua missão de libertar o povo dos
pecados e torná-lo agradável a Deus, como um cordeiro inocente, carregado dos
delitos do seu povo, e que, em silêncio, se deixa conduzir ao matadouro. E é de
sua morte, aceita livremente, que provém a justificação “para todos”.
O dramático diálogo com Pilatos mostra Jesus silencioso, enquanto a
autoridade, neste momento a serviço do pecado do mundo que cega o povo, decide
Sua morte e O condena.
Não seria completa a compreensão do mistério de Jesus se não
contemplássemos também – como o Apocalipse de João – o Cordeiro glorioso, que
está diante de Deus com os sinais das Suas chagas, dominador do mundo e da
história (Ap 5,6ss); o Cordeiro que se imolou por amor da Igreja e para o qual
ela tende cheia de amor. Na cruz se iniciaram as núpcias do Cordeiro, que terão
sua realização plena na festa do céu (cf. Ap 19,7-9).
Neste dia, “em que Cristo, nossa Páscoa
foi imolado” (1Cor 5,7), torna-se clara realidade o que
desde há muito havia sido prenunciado em figura e mistério: a ovelha verdadeira
substitui a ovelha figurativa, e mediante um único sacrifício realiza-se
plenamente o que a variedade das antigas vítimas significava.
Com efeito, a obra da redenção dos homens e perfeita glorificação
de Deus, prefigurada pelas Suas obras grandiosas no povo da Antiga Aliança,
realizou-a Cristo Senhor, principalmente pelo mistério pascal da Sua
bem-aventurada Paixão, Ressurreição dentre os mortos e gloriosa Ascensão,
mistério este pelo qual, morrendo, destruiu a nossa morte, e ressuscitando,
restaurou a nossa vida. Foi do lado de Cristo adormecido na cruz que nasceu o
admirável Sacramento de toda a Igreja.
A celebração da “Paixão do Senhor” focaliza o significado original
do sofrimento de Jesus que culmina em Sua morte na Cruz. Trata-se do amor em
plenitude que é assumido na cruz. Mas, é importante ressaltar que, antes de assumir
a cruz de madeira, Jesus assumiu outras grandes e difíceis cruzes.
Podemos ver neste mesmo dia muitas outras “cruzes” levadas por
Nosso Senhor: uma é a “cruz” da traição de Judas e outra a da negação de Pedro.
Há a “cruz” da condenação por parte de Pilatos e por parte do povo. E outras
“cruzes” são a minha e a sua, meu irmão.
Portanto, celebrar a morte de Jesus na Cruz nos faz pensar nas
muitas “cruzes” que, ainda hoje, colocamos sobre os Seus ombros através da
injustiça, do egoísmo, da falta de ternura, da impiedade, da violência, dos
vícios e assim por diante.
Faz-nos pensar também sobre as muitas “cruzes” que os filhos
colocam sobre os ombros de seus pais; as “cruzes” que os pais colocam sobre os
ombros frágeis de seus filhos; as “cruzes” que os esposos colocam-se mutuamente
sobre os ombros um do outro e sobre seus próprios ombros; as “cruzes” que todos
colocamos sobre os ombros da comunidade, da Igreja, da sociedade etc.
No entanto, não nos esqueçamos do mais importante: a Cruz de Cristo
nos leva à glória da Ressurreição para a Vida Eterna.
Padre Bantu Mendonça
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