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quarta-feira, 25 de março de 2015

Se alguém observar a minha palavra, nunca morrerá-Dehonianos



Quinta-feira - 5ª Semana da Quaresma

Lectio
Primeira leitura: Génesis 17, 3-9
3 Abrão prostrou-se com o rosto por terra e Deus disse-lhe: 4 «A aliança que faço contigo é esta: serás pai de inúmeros povos. 5 Já não te chamarás Abrão, mas sim Abraão, porque Eu farei de ti o pai de inúmeros povos. 6 Tomsr-te-ei extremamente fecundo, farei que de ti nasçam povos e terás reis por descendentes. 7 Estabeleço a minha aliança contigo e com a tua posteridade, de geração em geração; será uma aliança perpétua, em virtude da qual Eu serei o teu Deus e da tua descendência. 8 Dar­te-ei, a ti e à tua descendência depois de ti, o país em que resides como estrangeiro, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e serei Deus para eles.» 9 Deus disse a Abraão: «Da tua parte, cumprirás a minha aliança, tu e a tua descendência, nas futuras gerações.
Regressado do exílio, o povo de Israel está reduzido a um pequeno «resto», privado dos dons prometidos a Abraão (v. 8), o mesmo Abraão que Deus tinha chamado «pai de inúmeros pOV09> (v. 5; cf. Gn 12, 2). A tradição sacerdotal lembra, nestes poucos versículos, a vocação de Abraão, para que o povo reencontre a esperança na certeza da aliança com Deus (w. 2.7; Dt 5, 4-7). Deus, com efeito, não pode renegar a aliança, porque não pode renegar a Si mesmo. Esta certeza é fundamento seguro para a esperança do povo, tal como já o fora Abraão que, por isso, esperou contra toda a esperança. Foi Deus quem Se revelou a Si mesmo (v. 1) e revelou a Abraão o nome novo: «pai de inúmeros pOV09> (v. 5), de acordo com um projecto divino de salvação (v. 6) no qual era chamado a ser protagonista. Esta vocação e missão implicavam caminhar diante do Senhor em integridade de vida (cf. v. 1). Abraão e da sua posteridade seriam de Deus, e Deus seria O Deus de Abraão e da sua posteridade. Abraão responde à proposta divina com um gesto de adoração e de acção de graças que se torna escuta. E Deus pode falar-lhe: «Abrão prostrou-se com o rosto por terra e Deus disse-lhe ... » (v. 3).
Evangelho: João 8, 51-59
Naquele tempo, disse Jesus aos judeus: 51 Em verdade, em verdade vos digo: se alguém observar a minha palavra, nunca morrerá.»52Disseram-lhe, então, os judeus: «Agora é que estamos certos de que tens demónio! Abraão morreu, os profetas também, e Tu dizes: 'Se alguém observar a minha palavra, nunca experimentará a morte?53Porventura és Tu maior que o nosso pai Abraão, que morreu? E os profetas morreram também! Afinal, quem é que Tu pretendes ser?»54Jesus respondeu: «Se Eu me glorificar a mim mesmo, a minha glória nada valerá. Quem me glorifica é o meu Pai, de quem dizeis: 'É o nosso oeusi". e, no entanto, não o conheceis. Eu é que o conheço; se dissesse que não o conhecia, seria como vós: um mentiroso. Mas Eu conheço-o e observo a sua palavra. 56 Abraão, vosso pai, exultou pensando em ver o meu dia; viu-o e ficou feliz.» 57Disseram-Ihe, então, os judeus: «Ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão?» 58 Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: antes de Abraão existir, Eu SOU!»59 Então, agarraram em pedras para lhe atirarem. Mas Jesus escondeu-se e saiu do templo.
Jesus afirma, com solenidade, - «Em verdade, em verdade vos dig(J» -, que a sua Palavra é vida e dá a vida a quem a acolhe. Os seus ouvintes, naquela ocasião não a acolheram, como se vê no versículo final: «Então, agarraram em pedras para lhe atirarem». Entre os dois versículos encontramos o diálogo-confronto que tem por horizonte a antítese vida-morte, e como ponto de referência Abraão, de quem os judeus se dizem descendentes. Jesus vai respondendo indirectamente às perguntas provocatórias que lhe são feitas. Mas, das suas respostas, emerge a clara afirmação de que é o Filho de Deus, cuja glória procura. É Deus que o leva a falar. Por isso, com verdade, pode dizer: «antes de Abraão existir, Eu sou». Só reconhecendo a Deus, que se manifesta no seu Filho feito homem, se pode ter a vida.
Há uma perfeita comunhão entre o Pai e o Filho. É para ela que se encaminha a história da salvação, prometida a Abraão que, na fé, entreviu a sua realização. Esta afirmação é um escândalo para os Judeus que, apenas segundo a carne, são filhos de Abraão.
Meditatio
A adesão à verdade leva à liberdade: «a verdade vos tornará Iivres» (Jo 8, 32).
Trata-se da liberdade do pecado, mas também da liberdade diante da morte: «se alguém observar a minha palavra, nunca morrere». Jesus promete tudo isto, comprometendo a sua palavra: «Em verdade, em verdade vos dig(J». Trata-se de uma fórmula solene, que garante a palavra dada com a própria personalidade de quem a pronuncia. No essencial, Jesus diz-nos que o segredo da liberdade é a obediência à sua palavra, uma obediência nascida do mais fundo do coração de quem a soube acolher.
Abraão soube acolher a palavra de Deus e obedecer-lhe. Tornou-se o modelo dos crentes, e exultou de alegria, na esperança de ver o dia de Jesus: «exultou pensando em ver o meu dia; viu-o e ficou teu», diz o Senhor.
Também nós somos chamados, neste tempo da Paixão e da Páscoa, a ver o dia de Jesus e a permanecer na alegria. Abraão viu o dia de Cristo, o dia da Ressurreição, em prefiguração, isto é, participando em acontecimentos que deixavam entrever o desígnio divino de ressuscitar o seu Cristo, principalmente no nascimento de Isaac e no seu sacrifício no Moriá. Sendo velho muito avançado em idade, e sendo a sua mulher estéril, acreditou que Deus é capaz de ressuscitar os mortos. E aconteceu o nascimento de Isaac, que o encheu de alegria. Quando Deus lhe pediu o sacrifício do filho, Abraão dispos-se a sacrificá-lo. Parecia que a promessa de Deus ia ficar por cumprir. Mas Abraão na hesita na sua fé: «Deus providenaerá», diz ele ao filho que lhe pergunta pelo cordeiro a sacrificar. E Deus providenciou. Isaac desceu vivo do Moriá. De certo modo, foi sacrificado e permaneceu vivo, tornando-se figura de Cristo morto e ressuscitado. São figuras imperfeitas, mas Abraão pôde já ver nelas o dia do sacrifício real de Cristo, premissa da Ressurreição para uma vida plena e gloriosa. Viu e alegrou-se!
A fé é um combate pela vida. A fé enfrenta a morte na sua forma mais insidiosa e quotidiana, aquela que se apresenta como a «inutilidade da existência». Jesus, o verdadeiro descendente de Abraão, no combate que opõe a morte à vida, revela uma fé que abre para uma inesperada esperança. No muro de angústia que nos aprisiona, abre uma brecha por onde pode irromper a vida, porque Ele é a vida: «antes de Abraão existir, Eu sou».
Abraão, como tantos outros servos e amigos de Deus do Antigo Testamento, preanuncia o "Ecce venid' de Cristo: "Eis-me aquI', diz o pai dos crentes, quando Deus o chama para o sacrifício de Isaac (Gen 22, 1). "Eis-me aqui" deve continuar no nosso "Ecce venio", unido ao "Ecce venio" de Cristo, porque "somos chamados na Igreja a procurar e a realizar, como o único necessário, uma vida de união à oblação de Cristo" (Cst. 26).
Como a nossa "vida religiosa e apostólica" está unida "de forma explícita ... à oblação reparadora de Cristo ao Pai pelos homens" (Cst. 6), assim também o nosso Ecce venio ... "configura a nossa existência com a de Cristo, pela redenção do mundo e para Glória do Pai" (Cst. 58).
A obediência religiosa radicada na Encarnação e na Páscoa de Cristo, participa da sua missão salvífica. É necessariamente apostólica. Como a obediência religiosa é comunhão de amor com o Pai, em Cristo (cf. Cst. nn. 53.56.58), assim também é comunhão de amor, de serviço em favor dos homens, sempre em Cristo, sob a influência do Espírito (cf. Cst. nn. 53.56.58).
Oratio
Senhor Jesus Cristo, cordeiro imolado e ressuscitado, para glória e alegria do Pai e para nossa salvação, nós Te louvamos e bendizemos, nós Te damos graças. Eis­nos aqui, dispostos a escutar a voz do Pai e a obedecer-Lhe, dispostos a unir o nosso «Ecce venio» ao de Abraão, e ao de todos os amigos de Deus, tanto do Antigo como do Novo Testamento, mas sobretudo ao teu. Ajuda-nos a viver na fé e na disponibilidade confiante no Pai e no seu projecto de amor e salvação. Ajuda-nos a viver na fé na tua ressurreição, a vencer permanentemente as forças da morte e a alegrar-nos, porque a tua vitória será também a nossa vitória. Ajuda-nos a vencer a morte, encarando-a e oferecendo-a como participação na tua morte. Ajuda-nos a vencer tudo quanto nos pode causar tristeza, pessimismo, desânimo, tudo quanto nos possa fazer capitular diante das dificuldades da vida. Que, em todas as situações, ressoe aos nossos ouvidos a tua palavra: «Coragem: Eu venci o mundo: (Jo 15, 33). Amen.
Contemplatio
Todos estes domingos nos colocam diante dos olhos o Antigo Testamento nos grandes acontecimentos que prepararam a redenção. Meditámos no pecado de Adão, depois no castigo do dilúvio. Eis o sacrifício de Abraão, uma das mais belas figuras do sacrifício redentor.
Deus quer mostrar-nos o preço daquilo que fez por nós e a grandeza do seu amor. Escolheu Abraão. Dá-lhe tardiamente um filho, Isaac, o filho da promessa, do qual nascerá todo um povo. Deste povo abençoado sairá o Messias. - E quando Isaac se tornou um adolescente, Deus pede a Abraão o seu sacrifício. Que provação! Não é apenas um filho, é o filho do milagre e da promessa, o filho pelo qual deve vir a Abraão toda a sua glória.
Abraão consente em sacrificá-lo, depois a intervenção divina impede a imolação.
Deus quis assim mostrar-nos que ao dar-nos o seu Filho e ao sacrificá-lo, nos testemunha um imenso amor. Como tão pouco o compreendi até a este momento! Como sou frio, ingrato, insensível!

Os grandes dias de páscoa aproximam-se, não vou sacudir a minha indolência? (Leão Dehon, OSP 3, p. 183)
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Se alguém observar a minha palavra, nunca morrerá» (Jo 8, 51).


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