DOMINGO DE
RAMOS DA PAIXÃO DO SENHOR
29 de Março de 2015
ANO A
Evangelho - Procissão - Mc 11,1-10
Evangelho - Mc 14,1-15,47
PRIMEIRA
LEITURA - O Senhor deu-me língua adestrada para que eu saiba dizer palavra de
conforto à pessoa abatida. ...O Senhor
abriu-me os ouvidos...
Quando
Jesus disse que veio ao mundo para abrir os olhos dos cegos, dar audição aos
surdos e libertar os oprimidos, todos entenderam que Ele estava falando apenas
de curas. Não. O Mestre se referia não somente às suas curas físicas, mas
também da abertura dos olhos da alma, e a cura da surdez do nosso espírito, Ele
estava se referindo àqueles que vendo não enxergam, nem ouvem os apelos do Pai
para mudar de vida e colaborar na construção do seu Reino que também é nosso.
Jesus curou um mudo, que não falava
porque não ouvia. É assim que funciona. Se alguém não ouve, esse alguém também
não fala, porque não aprende a falar,
portanto está aí a causa da mudez. Os
franceses falam francês e não outra língua, porque desde pequenos eles ouviram
falar aquela língua. Crianças perdidas ou largadas na selva não falam quando
crescem. Apenas imitam os grunhidos dos animais. Do mesmo modo, as pessoas que
não ouvem a palavra de Deus, que não a estuda, acabam também ficando surdas com
relação à evangelização. Se não sei, se não ouvi, se não li, se não aprendi,
jamais poderei falar a respeito de um assunto. O papel do Espírito Santo, além
de nos inspirar, é de nos lembrar o que aprendemos, na hora de falar. Se não
aprendemos...
É interessante observar e copiar o
jeito de Jesus anunciar a palavra. Ele aproveitava o dia-a-dia daquele povo,
principalmente dos agricultores. "Um
homem saiu a semear..." "Vai trabalhar na vinha...". Assim
também hoje, não podemos anunciar a palavra de Deus isolada da nossa realidade,
do nosso dia-a-dia. O Evangelho é sempre atual porque ele precisa ser
confrontado com a nossa experiência vital, com o nosso aqui e agora. Senão a
palavra de Deus se torna MUDA.
Infelizmente,
existem muitos surdos na sociedade. Eles não conseguem ouvir a palavra. Estão indiferentes.
E as causas principais dessa surdez é o apego aos bens materiais, ao consumismo
desenfreado, e a influência dos amigos.
Você
reparou que ao batizar uma pessoa o padre coloca a mão nos nossos ouvidos e na
sua boca, e diz: “Efatá!”? Esse gesto
significa que nossos ouvidos e a nossa boca precisam estar abertos para ouvir e
anunciar a palavra.
SALMO- Meu Deus! Meu Deus! Eu sei que não me
abandonastes!
Jesus enquanto homem, na agonia do sofrimento
da cruz, sentiu-se por um momento que o Pai o havia abandonado. Nada disso!
Deus não nos abandona um só segundo, ainda mais o Seu Filho unigênito. Também nos momentos de desespero geralmente sentimos
um Deus distante de nós, um Deus que nos abandonou à própria sorte.
Meus irmãos. Isso não acontece! Deus está
sempre do nosso lado, mesmo quando o nosso sofrimento foi causado pela nossa
própria culpa, nossa grande culpa. Portando, rezemos: Meu Deus me ajuda aqui.
Salva-me de mais essa enrascada! Eu sei que não me abandonastes!
SEGUNDA LEITURA -
Jesus
enquanto natureza divina, podia realizar qualquer coisa, podia até mexer nas
forças físicas alterando o ciclo da natureza como o fez, acalmando a
tempestade, e resuscitado Lázaro depois de 4 dias morto... Porém, em nenhum
momento Jesus se vangloriou dos seus poderes, os quais não eram poucos. "A mim foi dado todo o poder no Céu e na
Terra".
Agora
vejamos como nós somos depois de receber algum tipo de poder: Quando somos
fracos, (Exemplo: as crianças). Olhamos os grandes de baixo para cima e os
obedecemos (aos pais). Quando crescemos,
(adolescentes). Começamos a olhar os demais de cima para baixo, e nos recusamos
a obedecê-los.
Quando
somos funcionários da empresa, tratamos os colegas de igual para igual, com
todo respeito. Assim que somos promovidos a gerente, ou a chefe de
departamento, mudamos completamente, e encaramos os demais de cima para baixo,
e ai daquele que não acatar as nossas ordens.
Quando
somos pedestres, paramos para os carros passar, conformados com a nossa
condição. Quando somos motoristas, olhamos os pedestres de cima para baixo, e
nos recusamos a sermos gentis com eles.
Quando
somos pobres, somos conformados com a nossa situação, e até podemos bajular os
ricos para conseguirmos a nossa sobrevivência. Já quando somos ricos, olhamos
os pobres com desprezo, achando que a sua pobreza é causada pela preguiça, e
achamos que não precisamos deles, portanto, não temos nenhuma obrigação de
agradá-los...
Quando
somos candidatos, somos suaves, nos mostramos amigos dos pobres, (porque é
deles que vem a maioria dos votos) e defensores da sua causa. Uma vez no poder
político, mudamos completamente. Arrogância, desmandos, e tudo mais o que bem
sabemos. Pois o poder corrompe. Só não corrompeu a Jesus!
EVANGELHO
A entrada do Filho de Deus na cidade de
Jerusalém foi na verdade, uma grande provocação, um ato revolucionário, de quem
está disposto a tudo, disposto a enfrentar, satirizando o poder dos reis e os
hipócritas vestidos de religiosos da época.
A impressão que nos dá é que Jesus quis
fazer uma paródia dos reis daquela época, os quais após dominar uma cidade com
seus poderosos exércitos, tomavam posse delas atravessando-as montando um
cavalo de guerra bem possante. Na verdade, Jesus estava desafiando o poder
político, e religioso. Pois Ele foi hosanado como um rei, e como o Messias.
Pois o povo ali presente, o aclamou como um Rei e como o Messias. Dizendo: Bendito o que vem em nome do Senhor!
Porém, Jesus escolheu não um cavalo de
guerra, mas um humilde jumento usado na agricultura pelo homem simples do
campo. Ou melhor, Ele escolheu uma jumenta. Valorizando assim, o sexo feminino,
valorizando a força da mulher na
construção do Reino de Deus, a começar por Maria.
O gesto humilde de Jesus, deve ser
seguido por nós. Devemos entrar na cidade, entrar na sociedade, com humildade,
não pilotando uma Ferrari, mas um carrinho modesto, apenas uma condução. Aquele
que pretende ser um seguidor de Cristo, um anunciador da palavra, tem de ser
como o Mestre! Humilde, porém corajoso!
Jesus não negou que Ele era Rei. "Tu o disseste". Foi a sua resposta
quando lhe perguntaram se Ele era mesmo um rei. Só que Jesus é o Rei da
justiça, um Rei humilde ao ponto de lavar os pés dos seus discípulos, um Rei
que se identificava com o pobres e excluídos. Um Rei que não era desse mundo,
mas sim, Ele veio para salvar o mundo!
A entrada de Jesus na cidade de
Jerusalém nos desperta para uma grande realidade: Assim como Ele mudou o mundo
não com armas, mas com o seu amor infinito, nós, seus seguidores, também
podemos contribuir para um mundo melhor, podemos derrubar o poder das armas derramando
na sociedade a palavra e a bondade divina. Para isso basta humildade, muita fé,
preparo,santidade, dedicação, coragem...
Vai e faça o
mesmo! Bom domingo, José Salviano.
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LEIA MAIS
RAMOS - A festa de ramos marca o início da Semana Santa que, por sua vez, é o
centro do grande acontecimento da nossa fé, ou seja, o Mistério da paixão,
morte e ressurreição de N.S.Jesus Cristo. Hoje Jesus vem a nós não como
um rei soberano, tirano e dominador. Mas como um Rei humilde e servidor.
Na mesma cidade onde o rei Davi havia entrado com uma pomposa
procissão, após a vitória sobre os filisteus e, entre cantos, trombetas, ramos de
palmeiras o povo o exaltava como o Rei vitorioso, o Rei Jesus entrou
de forma humilde montado em um simples jumento em vez de um pomposo cavalo para
mostrar que o seu reino não é desse mundo. E essa entrada triunfal de Jesus em Jerusalém foi para
mostrar também a presença de Deus no meio de seu povo. Deus que está
acima de todos os deuses, acima de todos os reis da Terra, desceu até nós para
realizar o seu Plano de Salvação da humanidade.
É comum a gente pensar que aquelas mesmas pessoas que aclamaram Jesus como rei
no domingo de ramos foram as mesmas pessoas que o condenaram dizendo em coro:
Crucifica-o! Crucifica-o!
A bem da realidade dos fatos não foi bem assim que aconteceu.
Porque a multidão que aclamou Jesus em sua entrada triunfal pela
cidade de Jerusalém, eram formada de pessoas agradecidas pelas grandes
maravilhas realizadas por Jesus, especialmente os milagres de curas. Foram
pessoas que reconheceram a divindade, o poder e o imenso amor de Jesus
principalmente para com os oprimidos.
Ao contrário, aquele grupo de pessoas manipuladas pelos fariseus que revoltadas
gritaram: Crucifica-o! não eram aquelas mesmas pessoas do domingo de ramos.
Veja: Jesus ao condenar as atividades comerciais do Templo,um covil de ladrões
como Ele disse, ao condenar a exploração ali realizada para fins
lucrativos, ao virar as mesas dos cambistas com um chicote na mão naquele
camelódromo do Templo, Ele arrumou muitos inimigos. E foram exatamente esses
inimigos insatisfeitos que os fariseus arrebanharam para aclamar a
sua condenação diante de Pilatos. E veja que Pilatos percebeu isso. Pilatos
estando consciente de que Jesus não tinha nenhum pecado, apresentou um
plano "B", sugerindo a morte de cruz ao ladrão Barrabás. Porém, as
pessoas insufladas pelos judeus, não aceitaram. Finalmente, Pilatos lavou as
mãos, se inocentando do sangue daquele inocente.
Por outro lado, notamos que na missa de Domingo de Ramos que a igreja
fica lotada. Será mesmo que todos estão consciente que se trata do início da
Semana Santa, do seu significado e importância para a nossa
salvação? Ou será que muitos estão ali ansiosos para pegar o ramo bento e
levá-lo para casa e se proteger de todo mal, numa atitude de quase superstição?
Qual seria melhor? Um ramo bento ou levar para casa em sua própria pessoa o
Cristo Eucarístico? O ramo é bom. Além do seu significado, ele é bento.
Mais é muito mais eficaz, o próprio Cristo na Hóstia consagrada, que recebemos
na comunhão e o levamos para nossa casa para que haja paz, harmonia e
para que Cristo sacramentado nos livre de todos os males, principalmente do
pior mal que é o mal de nos afastar de Deus.
PAIXÃO - Jesus morreu por nós. Jesus morreu pelos nossos pecados. Jesus é
o cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo.
Meus irmãos. Estas são frases que ouvimos sempre, principalmente da boca do
padre, mas que nem sempre entendemos o seu significado, sem nunca questionar.
Minha avó dizia isso e eu acredito. Acreditar sem entender não é uma atitude
científica diante do fenômeno psicológico da fé, mais sim uma atitude de uma fé
cega, que na adolescência pode cair, desfalecer, diluir-se diante das chacotas
dos amigos incrédulos.
Então vamos solidificar a nossa fé? Vamos entender para nunca duvidar?
Compreender e acreditar para não ser presa fácil dos incrédulos que movidos por
satanás, estão sempre tentando nos arrastar para a descrença?
Então. Nos tempos antigos, no Antigo Testamento, Moisés, Abraão, Isaac, Jacob
tiveram experiências com Deus, o qual mantinha com o seu povo através desses
patriarcas, uma ALINANÇA, ou seja, um acordo de Pai para filhos. E nessa
Aliança, era aceito por Deus, os sacrifícios de animais. Eles matavam o
melhor novilho, ou o melhor cordeiro do rebanho, e queimavam-no, e como a fumaça
da combustão subia, entendiam assim que estavam fazendo uma oferta a Deus, pelo
perdão dos seus pecados. E aquilo era chamado de holocausto, diziam que o
cordeiro foi imolado, oferecido ao Pai pelos pecados.
Nos tempos de Jesus, o sacrifício de animais era um verdadeiro comércio. No
Templo havia a sala dos sacrifícios, onde o povo queimava animais, como bois,
cordeiros, e até pombas, que eram oferecidas pelos pobres, pois os animais
grandes oriundos das fazendas dos saduceus, custavam caro. Vinha gente de
todo lugar, até dos países vizinhos, para se purificar dos seus pecados,
mediante a queima de animais, o que deixava a elite judaica cada dia mais rica,
com o comércio dos animais para o sacrifício.
Jesus ficou indignado com aquilo, pois sabia muito bem que por traz da oferenda
a Deus, estava a exploração do povo pelos judeus, os quais ganhavam rios
de dinheiro.
Foi por isso que Jesus disse "Não quero sacrifício, mas sim
CARIDADE". Então, no lugar de matar e
queimar um animal, de preferência um cordeiro, para oferecer a Deus, nós
podemos e devemos fazer uma oferenda a Deus, na pessoa do irmão carente, pelo
perdão dos nossos pecados veniais, ou leves. E dando uma esmola ao pobre,
estamos dando a Deus e construindo um tesouro no Céu. "Todas as vezes que você der uma esmola a um pobre, foi a mim que
você deu".
Quanto ao holocausto, ao cordeiro imolado, Jesus virou a mesa, e propôs uma
nova solução, Jesus anunciou A NOVA ALIANÇA: Disse Ele que a sua
pessoa seria oferecida em sacrifício ÚNICO ao Pai pelos pecados de toda a
humanidade, e que não precisaríamos mais sacrificar os animais, nem fazer
nenhum tipo de sacrifício como oferenda pelos nossos pecados. "Não quero sacrifício, mas sim CARIDADE".
Jesus é o cordeiro de Deus, porque esse animal preferido nos holocaustos,
morre calado, sem dar nenhum gemido, não faz nenhum barulho ao contrário dos
demais animais. Jesus Morreu pelos nossos pecados, isto é, ofereceu-se ao Pai
em sacrifício por nossa culpas, SEM RECLAMAR, SEM MEDO, SEM CHORAR. "Pai. Tudo está consumado. A ti entrego o meu espírito"
CONCLUSÃO - Caríssimos. Que o verde dos ramos signifique para nós hoje, o verde da
ESPERANÇA de um mundo sem violência, de um mudo convertido, e o verde da
esperança da vida eterna.
Não façamos sacrifícios pelo perdão dos nossos pecados leves. Façamos caridade.
Promessas, subir de joelhos a escadaria do morro até a capela de Nossa Senhora
do Monte, nada disso agrada a Deus. Agrade-O na pessoa do irmão caído no chão,
sem teto, sem roupa, sem alimento, sem nada.
Vá i faça o mesmo.
Comece a Semana Santa com o pé direito.
Bom domingo de ramos.
José Salviano
Início da semana santa
Evangelho - Mt
26,14-27,66
Nesse domingo nós
festejamos a entrada triunfal de Jesus na cidade de Jerusalém montado em
uma jumenta. Episódio que significa a manifestação de sua grandeza, porém
com humildade.
O povo aclamou Jesus, reconhecendo a sua divindade. Hoje também existem
muitos cristãos pelo mundo todo que reconhecem Jesus como o Messias, o
enviado do Pai ao mundo para salvação da humanidade.
A liturgia de Domingo de Ramos retrata fielmente a sequência da
realidade vivida e sofrida pelo Filho de Deus na Terra. Ela
divide-se em duas partes:
1ª - PROCIÇÃO DE RAMOS - É uma cena de um rei se aproximando
vitoriosamente em uma cidade, aclamado pelo povo. Ele não vinha em
uma carruagem luxuosa puxada por vários cavalos fogosos, ou em uma limousine...
Mas o carinho daquele povo era de reconhecimento pelos milagres
recebidos, era uma recepção calorosa e sincera de pessoas simples que não
tendo nada para dar ao homenageado, dava o seu louvor, e colocaram
tapetes de folhagem gritando Hosana! Hosana ao rei que se aproxima
deles com toda glória, ao mesmo tempo com toda humildade.
2ª PAIXÃO E MORTE - No Domingo de Ramos, festejamos este fato
histórico, de grande alegria, para em seguida, depois da procissão, lembrar
outro fato histórico, o da paixão e morte daquele que veio ao mundo para nos
fornecer tudo o que precisamos para nos livrar do fogo eterno e um dia
desfrutar das maravilhas do Paraíso.
Muitos que viram aquela cena, ficaram admirados com a glória de
Jesus, semelhante a um rei quando entrava em Jerusalém. Já outros pensaram que
se tratasse de uma brincadeira festiva...
Um grande contraste marca então, a liturgia deste domingo: Na primeira
parte, alegria pela glória do Filho de Deus, entre os humildes. Para em
seguida, vermos o rosto de Jesus envolto em grande tristeza, por estar sendo
humilhado pelos algozes a mando da elite que o queria ver eliminado.
Na verdade são vários contrastes. Veja:
Guerrico d’Igny nos ajuda meditar na comemoração do
domingo dos ramos: “A procissão nos leva a pensar em honras reservadas ao rei;
a leitura da paixão mostra os castigos reservados aos ladrões. Num primeiro
momento ele é cercado de glória e honra, do outro não tem beleza nem formosura
(Is. 53,2). Na procissão ele é a alegria dos homens e glória do povo, do outro
lado, o opróbrio dos homens e objeto de desprezo dos homens” (Sl. 22,7). De um
lado é aclamado: hosana ao filho de Davi. Bendito o que vem, o rei, em nome do
Senhor” (Mc. 11,10); de outro lado é declarado digno de morte e é
ridicularizado o que se dizia rei de Israel. Num primeiro momento vai-se ao encontro
dele com ramos de palmas. Do outro lado as mesmas mãos machucam seu rosto e o
golpeiam com uma cana. Na procissão é cumulado de louvores, na liturgia no
templo é coberto de insultos. De um lado as pessoas cobrem a estrada por onde
ele passa com vestes e mantos, de outro lado é despojado de suas vestes. Num
momento é acolhido em Jerusalém como rei justo e salvador e de outro é expulso
de Jerusalém como um criminoso e um impostor. Senta-se sobre um asno, cercado
de honra, depois é suspenso no madeiro da cruz, marcado pela flagelação,
coberto de chagas, abandonado pelos seus… Se queremos, irmãos, seguir nosso
caminho sem vacilar tanto nos momentos felizes como nas adversidades,
contemplemos o senhor cercado de honra na procissão dos ramos, coberto de ultrajes
e de sofrimentos na paixão… tal mudança de circunstâncias não mudou seus
pensamentos….” (Guerrico d’Igny)
Depois da procissão, na leitura e reflexão do segundo Evangelho, nós
lembramos a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, aquele que se entregou por nós.
Aquele deixou que o matassem. Aquele que morreu em oferenda ao Pai pelo
perdão dos nossos pecados.
Iniciamos a homilia pela traição de Judas, aquele que entregou Jesus aos
soldados por trinta moedas. Muitos questionam: Mas Jesus não era conhecido de todos,
principalmente ao sumo sacerdote, doutores da Lei e escribas? Por que Ele teria
de ser entregue, ou identificado por Judas?
Sim. Jesus naquela altura de sua vida, era conhecido por muitos, mas não
para os soldados romanos que foram prendê-lO. Além disso, a prisão
de Jesus aconteceu à noite, e também tanto Jesus como os seus amigos, os
apóstolos, se vestiam mais ou menos iguais. Portanto, era necessário que
alguém, no caso Judas, mostrasse de alguma forma quem realmente era Jesus, para
que não fosse preso o homem errado. Não que os judeus estivessem preocupados em
não matar outra pessoa inocente, mas sim, porque eles estavam obcecados e
determinados a prender Jesus e não outro.
E dessa forma, foi entregue um inocente para ser condenado a morte de
cruz. Hoje também muitos inocentes são presos por engano, ou são mortos
confundidos com outros que praticaram alguma atrocidade, ou que não cumpriram
os regulamentos do crime organizado.
Antes de sua morte, Jesus e seus apóstolos comemoraram a Páscoa, e nesse
encontro Jesus inventou: A missa, a Eucaristia e o sacerdócio.
A MISSA, porque aquele jantar foi a primeira missa realizada na Terra, e
que é repetida em todos os altares do mundo inteiro diariamente, pelos
sacerdotes e cristãos católicos.
A EUCARISTIA, porque Jesus tomando o pão e abençoando-o, disse: “Isto
é o meu corpo...”
O SACERDÓCIO, porque Ele disse: “Fazei isso em memória de mim...”
Dando o poder aos apóstolos, de transformar o pão e o vinho em seu corpo e seu
sangue. Também disse em outro momento: “Eis que estarei convosco até a
consumação dos séculos”, o que significa que aqueles primeiros padres
seriam substituídos por outros até o fim dos tempos.
Pedro O negou por três vezes. E você? E eu? Quantas vezes já
negamos a Jesus? Não dá nem para contar. Se tivéssemos agora em notas de
cem reais ou de cinqüenta, em relação às vezes em que negamos Jesus, estaríamos
ricos!
Negamos Jesus quando não respeitando os seus ensinamentos, agimos de
acordo com o nosso egoísmo, de acordo com o instinto, de acordo com os ditames
da carne, de acordo com a ditadura do liberalismo, de acordo com a moda, de
acordo com o consumismo, enfim, de acordo com o mundo. Negamos Jesus quando
temos vergonha de nos confessar cristãos diante dos homens e das mulheres, como
o fez Pedro com medo de também ser preso e morto. Negamos Jesus quando
não nos preparamos adequadamente para fazer um bom sermão, uma boa homilia, e
confiando no nosso conhecimento próprio, nos aventuramos a falar algumas
palavras de improviso, nos esquecendo que a catequese é a coisa mais importante
da santa missa, depois da Eucaristia. Negamos Jesus quando pecamos,
quando ignoramos o nosso irmão, quando o excluímos, quando o discriminamos,
etc.
Jesus começou a ficar triste e angustiado, e foi com os discípulos ao um
lugar chamado Getsêmani para rezar. Também nós por vezes ficamos
angustiados quando alguma coisa não está dando certo em nossa vida, quando
ficamos doentes, por exemplo, quando perdemos um ente querido, quando se
aproxima a nossa hora como foi o caso de Jesus Deus e homem. E para nos
dar o exemplo, Jesus enquanto homem se dirigiu ao Pai. Ele estava nervoso. Pois
enquanto Deus, Ele sabia de tudo pelo qual iria passar. E enquanto homem,
sentia uma tristeza mortal. "Então Jesus
lhes disse: 'Minha alma está triste até á morte. Ficai aqui e vigiai
comigo!'
Este mesmo Jesus-homem, sentiu-se abandonado pelo Pai nos seus
minutos finais de vida, e bradou: 'Meu
Deus, meu Deus, por que me abandonaste?'
Muitos de nós também já nos sentimos abandonados por Deus por várias
vezes na vida. E costumamos perguntar: Por que, meu Deus?!
Meus irmãos. Precisamos confiar mais em Deus! Precisamos rezar
mais. Aquele momento de angústia, assim como de desespero que
Jesus-homem experimentou, passou logo. Enquanto que nós, pela nossa falta de fé
e pela ausência de oração, podemos ficar dias angustiados e infelizes quando
algo ruim nos acontece.
Mas a final. Por que mataram Jesus? Esta
é uma pergunta que paira o tempo todo na mente daqueles que participam ou
assistem a Paixão de Cristo. Acontece que naqueles tempos, na Galiléia, lugar de gente explorada e marginalizada, para a qual a
missão de Jesus se tornou, de fato, uma boa nova, a qual trazia, junto
com suas ações as palavras, a libertação dos oprimidos, dos humilhados, dos
deixados de lado. E esse trabalho de conscientização, atraiu sobre a pessoa de
Jesus, a ira dos poderosos injustos. Jesus estava atrapalhando os seus negócios
tão lucrativos.
Para entender melhor isso, é importante aqui nos reportar a realidade
político-econômica e social porque passava a sociedade do tempo de Jesus:
Além da invasão romana, aquela sociedade, os cristãos da
Galiléia, estava sofrendo o ataque ou a invasão dos “bandidos” que
fizeram uma verdadeira tomada de Jerusalém. Aconteceu que pequenos
proprietários rurais que perderam suas terras pelos altos impostos, e pela
improdutividade gerada pela infertilidade do ano sabático, que
segundo o judaísmo, era um ano sem plantar, e a isso convém acrescentar os
altos juros cobrados pelos saduceus os quais lhes emprestavam dinheiro,
esses pequenos proprietários rurais revoltados passaram a assaltar em grupos.
Eles se escondiam nas cavernas, e assaltavam principalmente as caravanas
romanas, e num trabalho semelhante ao de Robin hood, eles repartiam o produto
do roubo com os excluídos. Por isso, os chamados “bandidos”, contavam com
o apoio e a simpatia do povo faminto e explorado pelos ricos proprietários de
terras, entre eles, os sumos sacerdotes e doutores da Lei.
A fúria e a revolta desses pequenos proprietários de
terra chegou ao ponto deles invadirem Jerusalém onde se achavam os arquivos e
os documentos de suas dívidas injustas dos seus credores exploradores, entre
eles, os anciãos, membros do Sinédrio, sumos sacerdotes. Naquela ocasião, que
foi no ano de 66, os “bandidos” queimaram os referidos documentos e
mataram os seus respectivos credores.
Foi por isso que Jesus foi escolhido no lugar de Barrabás,
condenado e morto como se fosse um bandido, e até sendo crucificado entre dois
deles, numa manifestação da prepotência da elite judaica que arrolou o poder
romano para concretizar aquela chacina, ou a morte de um inocente, o qual
foi condenado exatamente por ser justo. Por defender os pobres da exploração
dos ricos.
O ladrão Dimas que Jesus perdoou no seu momento final na cruz, na
realidade, não era um assassino cruel, mas sim um daqueles chamados “bandidos”
que na companhia de outros agricultores revoltados, reclamava, apesar de
forma violenta, os seus direitos de ter um a vida com abundância.
Jesus foi preso à noite. Por isso, era necessário alguém, que no caso
foi Judas, para indicá-lo aos soldados romanos que vieram prendê-lo.
A morte de
Jesus já estava decretada pelas autoridades religiosas. Só restava apenas
pegá-lo quando menos se esperasse. Por isso mesmo, Jesus só ficava em Jerusalém
durante o dia, à noite dormia fora da cidade. Ele bem sabia que entre os
discípulos havia um traidor. Assim se explica o aspecto clandestino da
ida de Jesus à noite a uma casa da cidade para celebrar a Páscoa.
Jesus é a vida que nasce da morte. No mundo
inteiro, a repetição diária da celebração da Paixão do Senhor na Santa Missa, é
necessária e indispensável para nos fazer entender o que significa a vitória do
derrotado, o sucesso do fracassado, a glória da humilhação, a vida que nasce da
morte.
A morte de Jesus, portanto, não ocorreu por acaso, mas é resultado de um
plano diabólico de morte arquitetado pelos líderes religiosos e políticos, para
anular a sua ação libertadora.
Porém, nada disso adiantou. Jesus
ressuscitou e está vivo no meio de nós, assim como suas idéias, a sua Boa Nova,
o Evangelho, que continua vivo até hoje no nosso meio, fertilizando as nossas
mentes para semearmos o amor de Deus e a conscientização entre os oprimidos e os
explorados.
Então vai, e faça o mesmo!
Bom domingo.
José Salviano.
José Salviano, bela reflexão, que Deus te abençoe.
ResponderExcluirGosto da forma como expõe seu pensamento. Aprendo sempre!
ResponderExcluirsempre utilizo sua reflexão nas celebrações de minha comunidade. são palavras de puro amor.
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