Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel.
Este Evangelho narra Jesus chamando os doze Apóstolos. “Ide, antes, às
ovelhas perdidas da casa de Israel”. Nessa recomendação, é importante o
advérbio “antes”. O povo de Israel é o povo eleito por Deus que teve a missão
de preparar a vinda do Messias, por isso deve receber em primeiro lugar a Boa
Nova de Jesus. Mas depois será esclarecido que essa Boa Nova é para todos, sem
distinção: “Ide fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19). Quando Deus faz aliança, ele a
cumpre, mesmo que a outra parte não a cumpra.
Assim como os Apóstolos, todos nós somos chamados por Deus para cumprir
uma missão. Aliás, Deus não faz nada à toa; tudo o que ele criou tem uma
finalidade, e é feita de acordo com aquela finalidade. Aliás, isso acontece
também conosco; qualquer pessoa inteligente, se faz um objeto, é para uma
finalidade; ninguém faz nada à toa.
O cumprimento da vocação realiza e faz feliz. Já o não cumprimento deixa
a pessoa frustrada e “fora do eixo”. Ela fica andando pela vida como um carro
sem alinhamento ou sem balanceamento. E isso vale também para os objetos feitos
por Deus ou pelo homem. Imagine tentar fincar um prego na parede, usando uma
lâmpada! É o martelo que foi feito para isso. Deus criou a flor para perfumar,
a abelha para produzir mel e para espalhar as sementes pela terra.
A nossa vocação foi a primeira coisa que Deus pensou, já antes de nos
criar, pois fomos criados já adaptados ao seu cumprimento. Deus tem um plano
para a humanidade, e quer realizá-lo através das próprias pessoas que ele cria.
Existe o ecossistema, isto é, tudo na natureza é harmonioso e “trabalha”
em conjunto, cada coisa desempenhando a sua tarefa, desde a formiguinha até as
grandes estrelas. Nós fazemos parte desse conjunto, com um detalhe: somos os
reis da criação. Tudo foi feito para nos servir. “Deus disse: ‘Façamos o ser
humano à nossa imagem e semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, as
aves do céu, os animais... Eis que vos dou todas as plantas...” (Gn 1,26-29).
Os seres irracionais seguem automaticamente o chamado de Deus. Conosco é
diferente, temos de seguir livre e conscientemente o chamamento de Deus a nós.
Também a descoberta da nossa vocação não nos vem por si, mas é fruto de um
trabalho nosso. Descobrir a própria vocação é descobrir o caminho da
felicidade.
“Jesus chamou os doze discípulos e deu-lhes poder...” Assim como Jesus
deu poderes aos Apóstolos para cumprirem a sua vocação, ele no-los dá também.
Numa floresta, havia três leões. Como o leão é o rei dos animais, a
bicharada queria saber qual dos três era o rei. Numa assembléia, surgiu uma
proposta que os leões aceitaram. Havia no local uma montanha alta e rochosa,
dificílima de escalar. O leão que conseguisse subir até o topo da montanha seria
o rei. Como fiscais foram escolhidas as gaivotas.
O primeiro leão começou a subir, mas desistiu. Ao chegar embaixo, disse
para a assembléia: “Não dei conta”. O segundo leão foi, mas chegou a uma rocha
enorme e voltou para trás. Disse também para a bicharada: “É impossível subir
essa montanha”. O terceiro leão conseguiu ir até um pouco mais na frente, mas
também se cansou e voltou. Ele disse para os bichos: “Desta vez eu não
consegui. Mas é só por enquanto. No futuro conseguirei escalar essa montanha”.
Pronto, este foi coroado rei. Foi por causa das suas duas expressões: “desta
vez” e “por enquanto”.
Quem tem fé vai em frente no cumprimento da sua vocação e nunca
desanima, porque sabe que tem Deus ao seu lado, o qual tem poder infinito. E
quem tem fé tem esperança, sempre acredita que amanhã poderá dar um passo à
frente e ir mais longe, no cumprimento da vocação.
Muita gente desiste da própria vocação, devido aos problemas que
encontra. Basta ver o matrimônio, o sacerdócio, a vida religiosa...
Que Maria Santíssima, o melhor modelo, depois de Jesus, de resposta
vocacional, nos ajude.
Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel.
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