10 de maio -
Pelo que posso compreender a partir das
primeiras palavras de hoje “depois de ter ouvido isso” chego a conclusão de que
a divisão nasceu a partir do ensinamento de Jesus, sem explicitar o motivo
exato da discussão. As preocupações comunitárias dos versículos anteriores, a
afirmação de Jesus de que ele dá o seu corpo como pão da vida e o fato de que o
texto se dirige aos discípulos, indicam que provavelmente foi o discurso
eucarístico a fonte de divisão. Porém, a afirmação de Jesus de que ele “dá a
vida” e a identificação da sua palavra reveladora com “o pão vindo do céu” na
primeira parte do discurso, talvez tenham criado a controvérsia. De qualquer
maneira é importante notar que a divisão não se dá entre “os judeus”, mas entre
os próprios discípulos, muitos dos quais abandonam Jesus neste momento. Será
que isso também não acontece entre nós? Quando sem sabermos ao certo o
porque das palavras do líder, do pároco ou de quem exerce alguma autoridade na
paróquia ou no grupo, começamos logo a criticar e às vezes a sair do grupo de
oração, dos ministérios e por aí afora?
É muito interessante a reação de Jesus
diante do abandono da maioria dos seus discípulos. Ele não arreda pé, mas com
toda calma até convida os Doze para saírem, se não podem aceitar a sua palavra.
Jesus não se preocupa com números – mas com a fidelidade ao Pai. Talvez até
fique sozinho, mas não vai diluir em nada as exigências do seguimento da
vontade do Pai. Um exemplo importante para nós, pois muitas vezes caímos na
tentação de julgar o êxito pelos números! Igrejas cheias indicam sucesso! Mas
nem sempre é assim – é mais importante ser coerente com o Evangelho, custe o
que custar, do que “fazer média” com a sociedade, às vezes através duma
pregação tão insossa, que reduz a religião a um mero sentimentalismo, sem
conseqüências sociais.
Mas devemos cuidar de não interpretar
erradamente as palavras de Jesus quando diz: “É o Espírito que vivifica, a
carne para nada serve”. Às vezes usa-se essa frase para justificar uma religião
dualista, onde tudo que é “espírito” é bom e tudo que é material é do mal! Aqui
João não distingue duas partes do ser humano, mas duas maneiras de viver! A
carne é a pessoa humana entregue a si mesma, incapaz de entender o sentido
profundo das palavras e dos sinais de Jesus; o espírito é a força que ilumina
as pessoas e abre os seus olhos para que possam entender a Palavra de Deus que
se pronuncia em Jesus.
Diante do desafio de Jesus, Pedro resume
a visão dos que percebem em Jesus algo mais do que um mero pregador. A quem
iremos? Pois só Jesus tem as palavras de vida eterna! Declaração atual, pois é
moda na nossa sociedade – até entre muitos católicos praticantes – de correr
atrás de tudo que é novidade: supostas aparições, esoterismo, religiões
orientais, gnosticismo, escritos apócrifos e tantas outras propostas, às vezes
até sem cabimento, enquanto se ignora a Palavra de Deus nas Escrituras.
O texto de hoje nos convida a nos
examinarmos, a verificarmos se estamos realmente buscando a verdade onde ela se
encontra, ou se a deixamos de lado, achando – como a multidão no texto – que o
seguimento de Jesus “é duro demais”! No meio de tantas propostas de vida,
estamos convidados a reencontrarmos a fonte da verdadeira felicidade e da
verdadeira vida, fazendo nossa a experiência de Pedro, que descobriu que Jesus
“tem palavras de vida eterna”. E então, com ele, clamarmos: A QUEM IREMOS
SENHOR? SÓ TU TENS PALAVRAS DE VIDA ETERNA!
Muito boa a explanação das auas idéias. Parabéns! O mundo pós moderno vive hoje uma crise profunda na sua identidade espiritual, e como você mesmo descreveu as pessoas querem um deus com letras minúsculas que supra as suas futilidades e não um Deus com letras maiúsculas que indica vida eterna.
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