09 de maio
Irmãos e
irmãs, o Evangelho próprio da liturgia da Palavra de hoje, Jo 6,52-59, termina
expressando: «Jesus falou estas coisas ensinando, na sinagoga, em Cafarnaum»
(v. 59). Quando alguém visita a atual Cafarnaum, na Terra Santa, encontra uma
grande placa ao passar por uma das entradas daquela localidade, na qual se lê:
“Cidade de Jesus”.
Assim
Cafarnaum entrou para a história: o lugar utilizado como uma espécie de
“quartel general” de Cristo, pois de lá, muitas vezes, Jesus partia e retornava
das missões e se hospedava na casa da família de Pedro. Também se encontram,
ali, as ruínas da sinagoga frequentada por Cristo e citada no Evangelho de
hoje.
Neste
contexto material e geográfico, Jesus revela, surpreendentemente, um alimento
que não podia faltar naquela cidade, nos lares e na missão da Igreja: «Quem
se alimenta com a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o
ressuscitarei no último dia» (v. 54).
Um
alimento espiritual, sacramental e escatológico que se chama, antes de tudo,
Jesus Cristo! Jesus Eucarístico é o Pão Celestial! Ele estava em sua cidade e
próximo de lugares que O acolhiam, mas Ele quis mais… muito mais! Ele quis
fazer morada em nós e permanecer para sempre numa comunhão de vida
eterna, por fundamentar-se no amor eterno de Deus pela humanidade. Um Amor que
se traduz em entrega total e eucarística: “Quem se alimenta com a minha carne e bebe o
meu sangue permanece em mim e eu nele… Quem se alimenta com este pão viverá
para sempre” (v.
56.58).
Sabemos
o que é entrar e sair de uma casa e cidade, mas permanecer para sempre
realmente é uma experiência que foge completamente às capacidades puramente
racionais, físicas e temporais. O impacto do espaço e do tempo atualmente nos
tomam, como um peixe tomado e mergulhado na água. Mas fomos criados para águas
mais puras, refrescantes, cristalinas e incontamináveis, ou seja, no plano de
Deus todo ser humano foi criado para Ele. Por isso, Ele comunicou o Pão da
Palavra e instituiu, na Quinta-feira Santa, o Sacramento dos Sacramentos, o
qual nos leva a exclamar: “Graças e louvores se dêem neste e em todo o momento
ao Santíssimo Sacramento”. Assim, podemos antecipar – como penhor – pelo
Sacramento do Filho do Homem e Filho de Deus, a participação na vida eterna.
Ainda
que seja um desafio para a nossa fé e humilhação às inteligências orgulhosas, o
Sacramento da Eucaristia pode e precisa ser acreditado, celebrado, comungado e
adorado para ficarmos, então, surpreendidos positivamente pelas promessas e
realizações do Senhor, diferentemente de muitos que O acompanhavam e O seguiam
com espírito cético e provocador: «Como é que ele pode dar a sua carne a comer?» (v. 52). E o Pão da Vida não recuou e
nem contradisse as Suas palavras por medo de perder “público ou ibope”, muito
pelo contrário: fez questão de reforçar este dom e necessidade de cada um: «Em
verdade, em verdade, voz digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não
beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós» (v. 53).
Mas eu
não mereço tamanho dom de tomar, comer e beber deste Cálice! Realmente, em cada
Santa Missa, mirando o Corpo de Deus nas mãos dos sacerdotes, precisamos,
primeiramente, reconhecer a nossa indignidade: “Senhor, eu não sou digo de que
entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e serei salvo”. Mas também
não podemos deixar de ver, nesta insistência de Cristo, uma grande manifestação
da gratuidade divina.
O Papa
emérito Bento XVI, que hoje recorda o dia de sua eleição para ocupar a Cátedra
de Pedro, deixou claro esta graça que todos podem receber, ainda que exijam condições
básicas como o objetivo estado de graça: «Trata-se de um dom absolutamente
gratuito, devido apenas às promessas de Deus cumpridas para além de toda e
qualquer medida. A Igreja acolhe, celebra e adora este dom com fiel obediência.
O “mistério da fé” é mistério de amor trinitário, no qual, por graça, somos
chamados a participar» (BENTO XVI, Exort. Apost. Sacramentum
Caritatis, nº 8).
Neste
tempo pascal, a Igreja de Cristo convida-nos a dar – pessoalmente e
comunitariamente – nossa resposta perante o misterioso Dom da Eucaristia, Pão
da Vida que constrói moradas de Deus em meio e dentro dos homens e mulheres.
Pão da Cidade de Deus, capaz de dar sentido, alimentar e transformar as cidades
e lares dos homens. Pão que alimenta e santifica a Casa de Deus no mundo, a
Igreja, reanima a Igreja doméstica e encaminha para a nossa Páscoa pessoal e
eterna, ou seja, prepara-nos para morarmos para sempre na verdadeira e
permanente cidade de Jesus.
Padre Fernando Santamaria –
Comunidade Canção Nova
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