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domingo, 11 de maio de 2014

Eu sou a porta das ovelhas - Claretianos

Domingo, 11 de maio de 2014
4º Domingo da Páscoa
Santos do Dia:Anastácio e Companheiros (mártires de Camerino), Anastácio de Lérida (mártir), Ansfrido de Utrecht (monge, bispo), Antimo de Roma (mártir), Asaf de Wales (bispo), Evélio de Pisa (mártir), Francisco Jerônimo (religioso), Fremundo de Dunstable (mártir), Gangulfo de Burgúndia (mártir), Inácio de Laconi (religioso capuchinho), Iluminado de São Severino (monge), Maiolo de Cluny (abade), Mamércio de Viena (bispo), Máximo, Basso e Fábio (mártires de Roma), Possessor de Verdun (bispo), Princípia de Roma (virgem), Sisínio, Dioclécio e Florêncio (mártires de Osimo), Walter de L'Esterp (abade agostiniano).
Primeira leitura: Atos dos Apóstolos 2, 14a.36-41.
Deus constituiu Senhor e Cristo a este Jesus.
Salmo responsorial: 22, 1-6.
O Senhor é o pastor que me conduz; para as águas repousantes me encaminha.
Segunda leitura: 1 Pedro 2, 20b-25.
Voltareis ao Pastor de vossas vidas.
Evangelho: João 10, 1-10.
Eu sou a porta das ovelhas.
A primeira leitura, tirada do livro dos Atos, pertence ao discurso de Pedro, ante o povo reunido em Jerusalém, no acontecimento de Pentecostes. Depois de interpretar o fenômeno da diversidade das línguas nas quais os discípulos se expressavam mergulhados pelo Espírito divino, Pedro evoca a vida e a obra de Jesus, anuncia-lhes o “Querigma”, a proclamação solene da Boa Nova, do Evangelho: Cristo morreu por nossos pecados, foi sepultado e ao terceiro dia o levantou da morte, libertando-o da corrupção do sepulcro e o assentou à sua direita, como haviam anunciado os profetas. Trata-se já, evidentemente, de uma primeira elaboração teológica do chamado “querigma”, ou síntese ou núcleo da pregação.
Logicamente, essa formulação do querigma está condicionada por seu contexto social e histórico. Não é porque aparece no Novo Testamento que ela se torna intocável e impossível de interpretação. As palavras, as fórmulas, os elementos mesmos que compõem esse querigma, hoje podem parecer estranhos, ininteligíveis para nossa mentalidade atual.
É normal, e por isso é também normal que a comunidade cristã tenha o dever de evoluir, de recriar os símbolos. A fé não é um “depósito” onde se retem e guarda, mas uma fonte, um manancial, que se mantém idêntico a si mesmo, ao mesmo tempo que oferece sempre água viva.
Em muitos países tropicais são quase desconhecidos os rebanhos de ovelhas, cuidadas por seu pastor. Eram e são muito comuns no mundo antigo de toda a costa do Mediterrâneo. Muito provavelmente Jesus foi pastor dos rebanhos da comunidade de Nazaré, ou acompanhou o pastoreio junto aos jovens de sua idade. Por isso, em sua pregação, são abundantes as imagens tomadas dessa prática da vida rural da Palestina.
No evangelho de João, a simples parábola da ovelha perdida (Mt 18,12-14; Lc 14,3-7), se converte em uma bela e longa alegoria na qual Jesus se apresenta como o Bom Pastor, dono do rebanho pelo qual se interessa, não como o ladrão e o salteador que escalam as paredes do redil para matar e roubar.
Ele entra pela porta do redil, o porteiro abre, ele faz as ovelhas saírem para pastar e elas conhecem sua voz. A alegoria chega a um ponto culminante quando Jesus diz ser a “porta das ovelhas”, por onde elas entram e saem do redil e encontram pastagem e água em abundancia.
Evidente que na alegoria, o rebanho, as ovelhas, somos os discípulos, os membros da comunidade cristã. A alegoria do Bom Pastor está inspirada no longo capítulo 34 do profeta Ezequiel, no qual reprova as autoridades judaicas por não ter sabido pastorear o povo de Deus e promete assumir ele mesmo este papel enviando um descendente de Davi. 
A imagem do Bom Pastor teve um êxito notável entre os cristãos que já desde os primeiros séculos da igreja representam Jesus como Bom Pastor carregando sobre seus ombros um cordeiro ou uma ovelha.
Tais representações se conservam nas catacumbas romanas e em numerosos sarcófagos de diferentes procedências. A imagem sugere a ternura de Cristo e seu amor solícito pelos membros de sua comunidade, sua mansidão e paciência, qualidades próprias dos pasgtores, inclusive sua entrega até a morte, pois, como no evangelho de hoje, o “bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas”.
A imagem de “ovelhas e pastores” deve ser utilizada com cuidado, porque pode justificar a dualidade de classes na Igreja. Esta dualidade não é um temor utópico, mas foi uma realidade pesada e dominante no passado. O Concílio Vaticano I declarou: “A igreja de Cristo não é uma comunidade de iguais, mas uma sociedade de desiguais, não somente porque entre os fiéis, uns são clérigos e outros são leigos, mas, de uma maneira especial, porque na Igreja reside o poder que vem de Deus, pelo qual a uns é dado santificar, ensinar e governar e a outros não” (Constituição sobre a Igreja, 1870). Pio XI, por sua parte, dizia: “A Igreja é, pela força mesma de sua natureza, uma sociedade desigual.
Compreende duas categorias de pessoas: os pastores e o rebanho, os que estão colocados nos distintos graus da hierarquia, e a multidão de fiéis. E estas categorias, são de tal modo distintas entre si que somente na hierarquia residem o direito e a autoridade necessários para promover e dirigir a todos os membros para o fim a que a sociedade se destina.
Quanto à multidão, não tem outro direito que o de deixar-se conduzir e seguir docilmente a seus pastores” (Vehementer Nos, 1906). A verdade é que estas categorias de “pastores e rebanhos”, ao longo da historia da Igreja funcionaram quase sempre, ao menos no segundo milênio, de uma forma que hoje parece simplesmente inaceitável. É preciso ter muito cuidado para que nossa forma de utilização não veicule uma justificativa inconsciente das classes na Igreja.
O concilio Vaticano II supôs uma mudança neste sentido, com aquela sua insistência em que mais importante que as diferenças de ministério ou serviços na Igreja é a comum dignidade dos membros do Povo de Deus (o lugar mais simbólico a este respeito é o capítulo segundo da Lumen Gentium do Vaticano II).
Como é do conhecimento de todos, nas últimas décadas houve um retrocesso para uma centralização e falta de democracia. A queixa de que Roma não valoriza a “colegialidade episcopal” é um clamor universal. A prática dos Sínodos episcopais colocada em marcha depois do Concilio, foi rebaixada a reuniões meramente consultivas. As Conferencias Episcopais Nacionais, verdadeiro símbolo da renovação conciliar, foram declaradas como carentes de base teológica. Os “Conselhos pastorais” e os “conselhos presbiterais” estabelecidos pela prática pós-conciliar como instrumentos de participação e democratização, quase foram abandonados por falta de ambiente.
Os fiéia de uma paróquia ou de uma diocese, podem ter uma opinião unânime, porém se o pároco ou o bispo pensam o contrário, hão há nada que discutir na atual estrutura canônica clerical e autoritária. “A voz do Povo, é a voz de Deus”… em todas as partes, menos na Igreja, pois nela, para o povo a única voz segura de Deus é a da hierarquia. Assim a Igreja se converteu, na expressão Hans Küng, na última monarquia absoluta do Ocidente. Para quem não está de acordo, a resposta que a “Igreja não é uma democracia”, e é certo, porque é muito mais que isso: é uma comunidade, na qual todos os métodos participativos democráticos deveriam ser pequenos ante o exercício efetivo da “comunhão e participação”. O Concilio Vaticano II disse isso com máxima autoridade: “Devemos ter consciência das diferenças da Igreja e combate-las com a máxima energia” (Gaudium et Spes, 43).
Nos últimos tempos, o Papa Francisco tem dado encaminhamento a uma ampla reforma das estruturas da Igreja; com o passar do tempo certamente sentiremos os seus efeitos exatamente na linha da missionariedade, comunhão e participação.
Na Igreja daquele que disse que quem quisesse ser o primeiro fosse o último e o servidor de todos, em algum sentido, todos somos pastores de todos, todos somos responsáveis e todos podemos contribuir. Não se nega o papel da coordenação e do governo. O que se nega é sua sacralização, a teologia que justifica ideologicamente o poder autoritário que não se submete ao discernimento comunitário nem à crítica democrática. A Igreja não é uma democracia, mas muito mais que uma democracia. E, evidentemente, não é um rebanho.
Oração: Ó bom pastor, porta da vida, cuida de todos nós e já que nos alegramos pela alegria da Páscoa, dá-nos força para trabalhar com coragem pelo Reino e a alegria de vê-lo crescer, pouco a pouco, no mundo, de modo que a fraternidade universal seja cada dia mais real entre nós. Nós te pedimos com o olhar posto em Jesus de Nazaré, filho teu e irmão nosso. Amém.


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