Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi.
Hoje nós celebramos a festa do Apóstolo S. Matias. A escolha dele, em
substituição a Judas Iscariotes, está narrada na primeira Leitura: At 1,15-26.
Fizeram um sorteio. Nós hoje escolhemos os nossos líderes geralmente através da
votação. Mas no fundo quem escolhe é sempre Deus, seja através do sorteio, da
votação, ou de qualquer outro sistema eleitoral.
Não somos nós que escolhemos a Deus, mas é ele que nos escolhe. Da nossa
parte, cabe a disponibilidade, como teve S. Matias. Ele não escolheu ser
Apóstolo, foi a Igreja que o escolheu. Ou melhor, foi Deus que o escolheu
através da Igreja.
É interessante o discursinho de S. Pedro, que está na primeira Leitura.
O que ele fez foi um discernimento junto com a Comunidade, isto é, uma busca da
vontade de Deus. Usando outras palavras, Pedro disse: Deus quer que haja doze
Apóstolos, porque foi assim que Jesus constituiu o grupo, que é uma continuação
das doze tribos de Israel. Mas Judas nos deixou. Portanto, Deus quer que um de
vocês ocupe o lugar dele.
Com essas palavras, Pedro motivou a Igreja ali reunida, umas cento e
vinte pessoas, a buscarem uma saída, indicando candidatos para preencher a
vaga. Pedro ainda deu critérios para a escolha: “Há homens que nos acompanharam
durante todo o tempo em que o Senhor Jesus vivia no meio de nós, a começar pelo
batismo de João até o dia em que foi elevado ao céu. Agora, é preciso que um
deles se junte a nós”. Esses são os chamados setenta de dois discípulos. A
Comunidade trocou idéias e apresentou Matias e José Barsabás.
A Comunidade escolheu através de um sorteio. Nós hoje costumamos fazer
votação ou outro sistema qualquer. É a mesma coisa. No fundo, quem escolhe é
Deus, seja através do sorteio, ou dos votos, ou de qualquer outro sistema
eleitoral.
O importante é a Comunidade fazer as três coisas que essa Comunidade
fez: 1ª) Ter o desejo de fazer a vontade de Deus, não a própria vontade. 2ª)
Rezar, pedindo a Deus que ilumine e dirija na hora de votar ou de escolher. 3ª)
Os membros fazerem a sua parte, conversando entre si e trocar idéias sobrem
quem é o mais indicado para o cargo.
Deus quer que os postos vagos nas pastorais, nos ministérios e nos
vários serviços da nossa Comunidade sejam preenchidos. Vários motivos levam um
cargo a ficar vago: doença, mudança da família para outra cidade,
impossibilidade de continuar, devido a compromissos pessoais ou familiares,
devido a doença. E também por um motivo muito comum: a pessoa que exercia o
cargo parou de participar da Comunidade.
O próprio fato de haver uma função vaga é um chamado de Deus para todos
os membros da Comunidade. É algo que nos inquieta. A primeira coisa que a gente
pensa é: Será que eu tenho condições de assumir essa função? Ou: Será que eu
não poderia convencer alguém a assumi-la?
Imagine se S. Pedro aparecesse hoje na nossa Comunidade, convivesse uns
dias com ela e depois fizesse um discursinho na hora da Missa: “Irmãos, eu
descobri que tal cargo está vago. Isso não pode acontecer! Deus não quer isso!
Peço a vocês que se reúnam, conversem entre si e apresentem alguns candidatos
para fazermos uma votação”. Que bonito seria, não? Que aprendamos a lição da
escolha de Matias! Uma função vaga na nossa Comunidade é, por si mesma, um
chamamento de Deus a nós. Que nos esforcemos para que, de uma forma ou de
outra, essa função seja preenchida.
No Evangelho, Jesus fala que o seu amor nasce da obediência aos seus
mandamentos: “Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor”.
Essa expressão “no meu amor” refere-se não apenas ao nosso amor a ele, mas ao
amor que ele carrega no coração, que é o amor que existe dentro da SS. Trindade
e que foi derramado em nossos corações (Rm 5,5).
De fato, o amor de Deus não é apenas sentimento, ele se mostra nas
nossas ações e atitudes. “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor! Senhor!’, entrará
no Reino dos Céus, mas só aquele que põe em prática a vontade de meu Pai que
está nos céus” (Mt 7,21).
Um dos mandamentos de Jesus é pertencer à sua Igreja, que é una, santa,
católica e apostólica.
E neste Evangelho Jesus fala também: “Eu não vos chamo servos, mas
amigos”. Ele quer ser nosso amigo. Vamos também ser amigos dele, amigos fiéis e
sinceros, como ele é conosco.
“Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos.” O
Apóstolo S. Matias pregou a Palavra de Deus na Palestina, e depois na Ásia
Menor, onde morreu mártir. Diz a tradição que ele foi apedrejado e depois morto
a machadadas. Portanto, deu a vida por Cristo e pela santa Igreja.
Existe o chamado martírio incruento, isto é, martírio sem sangue. São
cristãos que dão a vida por Cristo e pela Igreja, e morrem por esta causa.
Diante de Deus, o martírio incruento tem o mesmo valor do martírio de sangue.
Certa vez, um pai comprou para o seu filho de sete anos uma pipa,
brinquedo que em alguns lugares é chamado de papagaio. O menino foi direto para
o terreiro, a fim de soltar a pipa. Mas ele não conseguiu levantá-la. Por mais
que se esforçava, a pipa não subia. O garoto corria pra lá e pra cá, mas nada.
O pai viu, veio, pegou a linha e com facilidade levantou a pipa, mas só
a uns dois metros do chão, para que o menino fizesse o resto. Passou a linha
para o filho e explicou como fazer. Aí sim, o papagaio se levantou, foi para as
alturas e o garotinho ficou muito feliz.
S. Pedro, na eleição do Apóstolo Matias, fez como esse pai. Ele não levantou
a pipa mas ajudou o filho a fazê-la. S. Pedro não escolheu o sucessor de Judas,
mas incentivou e orientou a Comunidade como fazê-lo. As pessoas têm muitas
pipas para serem levantadas. Que tal nós darmos uma mãozinha? Feliz daquele e
daquela que, apesar do vento, não deixa a sua pipa cair nem se enroscar nas
árvores!
Que Maria Santíssima e os Apóstolos S. Pedro e S. Matias nos ajudem a
levar em frente a nossa Comunidade, observando os mandamentos de Jesus.
Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi.
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