DIA 22 QUARTA -Mc 3,1-6
A observância
da lei do sábado era a maior instituição do judaísmo, e para isso tinham sido
criadas leis extremamente rígidas e pormenorizadas, que proibiam qualquer
atividade que se assemelhasse a um trabalho. Por exemplo, os especialistas
interpretavam o gesto de debulhar espigas de trigo como colheita e, portanto,
como violação do repouso sabático (6,1-2; Êxodo 34,21). Jesus responde à
acusação dos adversários recorrendo a um exemplo tirado da Escritura (1 Samuel
21,1-6): fugindo do rei Saul, Davi e seus homens entraram no santuário e
comeram os pães oferecidos a Deus (os doze pães, renovados a cada sábado, e que
só os sacerdotes do santuário podiam comer- veja Levítico 24,5-9). Esse
precedente celebrado na própria Escritura, diz Jesus, mostra que a lei positiva
está subordinada ao bem do homem, e que a necessidade de sobreviver está acima
de qualquer lei.
É a segunda
vez que Jesus se arroga um direito: o Filho do homem, que tem poder para
perdoar pecados (5,24), também é “o senhor do sábado” (6,5). Em outras
palavras, Jesus está introduzindo uma nova ordem humano-religiosa, onde as
instituições, estruturas, leis e costumes devem estar sempre a serviço do
homem, podendo ser abolidos e cair para segundo plano em qualquer circunstância
em que uma necessidade urgente o exigir.
“Sábado”
provém do hebraico “Shabath”, que significa “repouso, cessão”. Assim, o sábado
bíblico nada mais é que um dia de descanso observado a cada sete dias. Ele na
Bíblia se prende ao ritmo sagrado da semana, que se encerra com um dia de
repouso e de culto a Deus (cf. Os 2,13; 2Rs 4,23; Is 1,13; Ex 20,8; 23,12;
34,21). O sábado deveria ser observado por diversas razões: por questões
humanitárias (cf. Ex 23,12; Dt 5,12-14), por ser sinal de distinção com relação
aos outros povos (cf. Ez 20,12.30; Ex 31,13-17), por ser um dia que não poderia
ser profanado pelo trabalho (Ez 22,8) e por ser legislação sacerdotal, já que
Deus teria descansado no 7º dia (cf. Gn 1,1-2.4a; Ex 30,8-11; 31,17). O sábado
era um dia festivo (cf. Os 2,13; Is 1,13), no qual não podia haver compras,
vendas ou trabalhos no campo (cf. Am 8,5; Ex 34,21). Era também proibido
acender fogo (Ex 35,3), recolher lenha (Nm 15,32) e preparar alimentos (Ex
16,23). Até mesmo a guarda do palácio era reduzida (2Rs 11,5-9)… Os fiéis iam
ao santuário (Is 1,12s), após uma convocação santa (Lv 23,3), ofereciam
sacrifícios (Nm 28,9-10) e renovavam o pão da proposição (Lv 24,8; 1Cr 9,32) ou
simplesmente aguardavam a visita de um profeta (2Rs 4,23). Após o exílio
babilônico, a observância do sábado foi radicalizada: Neemias agiu com energia
para garanti-lo (Ne 13,15-22), as viagens foram proibidas (Is 58,13) assim como
o transporte de cargas (Jr 17,19-27). Na época macabéia, a observância era tão
cega que muitos se deixaram matar sem oferecer resistência (1Mc 2,37-38; 2Mc
6,11-12; 15,1-2). Finalmente, na época de Jesus, os fariseus elaboraram
verdadeira “casuística” quanto ao sábado: 39 tipos de trabalho eram proibidos
(entre eles colher espigas [Mt 12,2], carregar fardos [Jo 5,10], etc). Os
médicos somente podiam atender os doentes em perigo iminente de morte (motivo
pelo qual se opuseram a Jesus, que curava aos sábados – cf. Mt 12,9-13; Mc
3,1-5; Lc 6,6-10; 13,10-17; 14,1-6; Jo 5,1-16; 9,14-16)… os essênios chegaram
ao absurdo de proibirem a defecação no sábado!
Já no Novo
Testamento, os discípulos observaram o sábado para pregar o evangelho nas
sinagogas (At 13,14; 16,13; 17,2; 18,4) logo se deram conta que a Nova Lei
havia superado a Antiga. São Paulo sempre lutou contra a infiltração de idéias
judaizantes, sobretudo quando escreve “que ninguém vos critique por questões de
alimentos ou bebidas ou de festas, luas novas e sábados. Tudo isto não é mais
do que a sombra do que devia vir. A realidade é Cristo.” (Cl 2,16-17; v.tb.
2Cor 5,17). Os cristãos, então, passaram a realizar seus cultos no dia seguinte
ao sábado, isto é, no domingo, dia em que o Senhor Jesus ressuscitou (aliás
“domingo” vem de “domini dies”, isto é, “Dia do Senhor”). Diversas são as
provas bíblicas da observância do domingo: Jo 20,22-23.26; At 2,2; At 20,7-16;
1Cor 16,1-2; Ap 1,10. Repare-se bem que esse era o dia em que os cristãos se
reuniam! Dessa forma, a perspectiva cristã sempre enxergou o antigo sábado dos
judeus como uma figura, da mesma forma que outras instituições do AT.
“Pelo repouso
do sábado os israelitas comemoravam o repouso (figurado) de Deus após haver
criado o mundo e o homem. Ora, com a ressurreição de Cristo, a primeira criação
tornou-se prenúncio e figura da segunda criação ou da nova criação do gênero
humano que se deu quando Cristo venceu a morte e apareceu como novo Adão. Era
justo, portanto, ou mesmo necessário, que os cristãos passassem a observar,
como Dia do Senhor ou como sétimo dia e dia de repouso (sábado), o dia da
ressurreição de Cristo” (d. Estevão Bettencourt, “Diálogo Ecumênico, p.250). A
própria carta aos Hebreus acentua a índole figurativa do sábado, afirmando que
o repouso do sétimo dia era apenas uma imagem do verdadeiro repouso que
fluiremos na presença de Deus (cf. Hb 4,3-11). E você cristão católico, ainda
tem dúvida do porque deves observar os domingos e festas de guarda?
Finalmente
Cristo se auto-declarou como “Senhor do Sábado” (tendo, portanto, poder sobre
ele); Jesus ressuscitou num domingo; o Espírito Santo veio sobre a Igreja num
domingo; os apóstolos se reuniam aos domingos; os cristãos antes do Período
Constantiniano (séc. IV) se reuniam aos domingos; os cristão
pós-Constantinianos também se reuniam aos domingos; todos os cristãos atuais
(católicos, ortodoxos e protestantes – com exceção dos adventistas e batistas
do 7º dia) ainda observam o domingo… Como duvidar que o domingo não foi
instituído divinamente? Temos todos os testemunhos que precisávamos: Bíblia,
Tradição e Magistério; temos a palavra final: Domingo é o Dia do Senhor!
Faço minhas
as palavras do Pe. Arthur Betti: “Vale mais um domingo, dia em que Cristo
ressuscitou, do que todos os sábados sem ressurreição, sem a verdadeira
libertação”! Que a vitória de Cristo sobre o sábado e a morte seja também a
minha e a tua sobre o pecado e consequentemente sobre a morte para que com Cristo
ressuscitemos eternamente!
Pai, torna-me
sensato na prática das exigências religiosas, para eu buscar, em primeiro
lugar, o que realmente é do teu agrado e está a serviço da vida, cuja fonte és
Tu.
Sou ministro da palavra na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus em Botucatu (SP) e gostaria de parabenizar os idealizadores desse site, pois o mesmo está sendo muito útil para retirar subsídios para as minhas homilias.
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