DIA 13 SEGUNDA -Mc 1,14-20
João Batista foi preso por Herodes que, como os chefes
religiosos de Israel, temia a popularidade de João e a contestação que fazia do
sistema opressor sob o qual o povo vivia. Após a prisão, Jesus retorna à
Galiléia, que é um território predominantemente gentílico. Aí, Jesus desenvolve
seu ministério, com o mesmo anúncio de João Batista, da proximidade do Reino e
da conversão à justiça.
Marcos, bem como Mateus e Lucas, narram
o chamado dos primeiros discípulos às margens do Mar da Galiléia. O evangelho
de João narra este chamado já na ocasião do batismo de Jesus, quando alguns
discípulos de João Batista se dispõem a seguir Jesus. O chamado, narrado em
estilo sumário, na realidade se fez em um clima de diálogo e conhecimento
mútuo. Assim como Jesus abandonou sua rotina de vida em Nazaré, também seus
discípulos abandonam seu antigo sistema de vida, não para fugirem do mundo, mas
para iniciarem uma nova prática social alternativa, de justiça e paz.
Segundo a narração de Marcos (1, 16-29)
e de Mateus (4, 18-22), o cenário da vocação dos primeiros Apóstolos é o lago
da Galileia. Jesus acabara de iniciar a pregação do Reino de Deus, quando o seu
olhar se pousou sobre dois pares de irmãos: Simão e André, Tiago e João.
São pregadores, empenhados no seu trabalho quotidiano. Lançam as redes,
consertam-nas. Mas outra pesca os aguarda. Jesus chama-os com decisão e eles
seguem-no imediatamente: agora serão “pescadores de homens” (cf. Mc 1, 17; Mt
4, 19). Lucas, ainda que siga a mesma tradição, faz uma narração mais elaborada
(5, 1-11). Ele mostra o caminho de fé dos primeiros discípulos, esclarecendo
que o convite para o seguimento lhes chega depois de terem ouvido a primeira
pregação de Jesus e experimentam os primeiros sinais prodigiosos por ele
realizados. Em particular, a pesca milagrosa constitui o contexto imediato e
oferece o símbolo da missão de pescadores de homens, que lhes foi confiada. O
destino destes “chamados”, de agora para o futuro, estará intimamente ligado ao
de Jesus. O apóstolo é um enviado mas, ainda antes, um “perito” em Jesus.
Precisamente este é o aspecto realçado
pelo evangelista João desde o primeiro encontro de Jesus com os futuros
Apóstolos. Aqui o cenário é diferente. A presença dos futuros discípulos,
provenientes também eles, como Jesus, da Galileia para viver a experiência do
batismo administrado por João, esclarece o seu mundo espiritual. Eram homens
na expectativa do Reino de Deus, desejosos de conhecer o Messias, cuja vinda
estava anunciada como iminente.
Para eles, é suficiente a orientação de
João Batista que indica em Jesus o Cordeiro de Deus (cf. Jo 1, 36), para que
surja neles o desejo de um encontro pessoal com o Mestre. As frases do diálogo
de Jesus com os primeiros dois futuros Apóstolos são muito expressivas. À
pergunta: “Que procurais?”, eles respondem com outra pergunta: “Rabi (que quer
dizer Mestre), onde moras?”. A resposta de Jesus é um convite: “Vinde e vereis”
(cf. Jo 1, 38-39). Vinde para poder ver. A aventura dos Apóstolos começa assim,
como um encontro de pessoas que se abrem reciprocamente. Começa para os
discípulos um conhecimento direto do Mestre. Vêem onde mora e começam a
conhecê-lo. De facto, eles não deverão ser anunciadores de uma ideia, mas
testemunhas de uma pessoa. Antes de serem enviados a evangelizar, deverão
“estar” com Jesus (cf. Mc 3, 14), estabelecendo com ele um relacionamento
pessoal. Sobre esta base, a evangelização não será mais do que um anúncio
daquilo que foi experimentado e um convite a entrar no mistério da comunhão com
Cristo (cf. 1 Jo 13).
A quem serão enviados os Apóstolos? No
Evangelho parece que Jesus limita a sua missão unicamente a Israel: “Não fui
enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 15, 24). De modo
análogo parece que ele circunscreve a missão confiada aos Doze: “Jesus enviou
estes Doze, depois de lhes ter dado as seguintes instruções: “Não sigais pelo
caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos. Ide, primeiramente,
às ovelhas perdidas da casa de Israel”" (Mt 10, 5s.). Uma certa crítica
moderna de inspiração racionalista tinha visto nestas expressões a falta de uma
consciência universalista do Nazareno. Na realidade, elas devem ser
compreendidas à luz da sua relação especial com Israel, comunidade da aliança,
em continuidade com a história da salvação. Segundo a expectativa messiânica as
promessas divinas, imediatamente dirigidas a Israel, ter-se-iam concretizado
quando o próprio Deus, através do seu Eleito, reunisse o seu povo, como faz um
pastor com o rebanho: “Eu virei em socorro das minhas ovelhas, para que elas
não mais sejam saqueadas… Estabelecerei sobre elas um único pastor, que as
apascentará, o meu servo David; será ele que as levará a pastar e lhes servirá
de pastor. Eu, o Senhor, serei o seu Deus, e o meu servo David será um príncipe
no meio delas” (Ez 34, 22-24). Jesus é o pastor escatológico, que reúne as
ovelhas perdidas da casa de Israel e vai à procura delas, porque as conhece e
ama (cf. Lc 15, 4-7 e Mt 18, 12-14; cf. também a figura do bom pastor em Jo 10,
11ss.). Através desta “reunião” o Reino de Deus é anunciado a todas as nações:
“Manifestarei a minha glória entre as nações, e todas me verão executar a minha
justiça e aplicar a minha mão sobre eles” (Ez 39, 21). E Jesus segue
precisamente este caminho profético. O primeiro passo é a “reunião” do povo de
Israel, para que assim todas as nações, chamadas a reunirem-se na comunhão com
o Senhor, possam ver e crer.
Assim os Doze, chamados a participar na
mesma missão de Jesus, cooperam com o Pastor dos últimos tempos, indo também
eles, em primeiro lugar, até às ovelhas perdidas da casa de Israel, isto é,
dirigindo-se ao povo da promessa, cuja reunião é o sinal de salvação para todos
os povos, o início da universalização da Aliança. Longe de contradizer a
abertura universalista da ação messiânica do Nazareno, a inicial limitação a
Israel da sua missão e da dos Doze torna-se assim o seu sinal profético mais
eficaz. Depois da paixão e da ressurreição de Cristo este sinal será
esclarecido: o carácter universal da missão dos Apóstolos tornar-se-á mais explícito.
Cristo enviará os Apóstolos “a todo o mundo” (Mc 16, 15), a “todas as nações”
(Mt 28, 19); (Lc 24, 47), “até aos extremos confins da terra” (At 1, 8). E esta
missão continua. Continua sempre o mandato do Senhor de reunir os povos na
unidade do seu amor. Esta é a nossa esperança e este é também o nosso mandato:
contribuir para esta universalidade, para esta verdadeira unidade na riqueza
das culturas, em comunhão com o nosso verdadeiro Senhor Jesus Cristo.
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