Dia 02 de janeiro
Jo 1,19-28
Aqui temos um verdadeiro interrogatório, feito a uma pessoa
que não queria responder. Naquele tempo a espera do Messias, pelos judeus, era
angustiante. Era
premente a sua chegada para salvá-los, definitivamente, da opressão romana, uma
das piores tragédias que lhes havia ocorrido.
Os judeus sofriam mais com o jugo
romano, do que na escravidão do Egito, principalmente porque os romanos
interferiam muito na estrutura interna da sociedade judaica. Por isso muitos,
vendo como João Batista se apresentava, pensavam ser ele o Messias tão
esperado. João era destemido, impetuoso, sagaz, quase mal-educado, parecia um
trovão. Configurava aquele desejo dos judeus. Eles esperavam isto mesmo: um
homem de fé, forte, que não se intimidasse diante daquele poder dominante, que
praguejasse contra eles desmascarando seus atos vergonhosos, fazendo-os cientes
de seus erros. Ficaram impressionados com João e foram lhe fazer perguntas.
Naquela época, o batismo era comum entre
os judeus e na maioria das religiões. Faziam-no com a imersão da pessoa na
água, mergulhando-a e retirando-a em seguida. Isto porque o batismo significava
purificação. Portanto, João Batista fazia conforme o costume.
Os fariseus, de modo geral e no conceito
da sociedade da época, eram pessoas dignas, influentes, cumpridoras da Lei.
Representados por seus anciãos, tinham assento no Sinédrio. O mesmo se pode
dizer dos doutores da Lei, dos escribas, que observavam fielmente a Lei
Mosaica. Como no meio do trigo sempre existe o joio, Jesus criticava aqueles
fariseus que não faziam o que exigiam do povo, ou pelo que faziam por vaidade,
buscando reconhecimento.
Portanto, os fariseus que enviaram
aquelas pessoas a João estavam bem-intencionados. Não tramavam contra ele, não
lhe preparavam uma armadilha, desejavam mesmo era saber o sentido daquele
batismo. Queriam saber se ali estava surgindo o Messias, anseio que há muito
acalentavam. Este foi o motivo das perguntas que fizeram a João. Assim poderiam
se organizar, pois tinham poder de articulação inclusive no Templo. Quiseram
escutar de João quem realmente era ele. E João foi lacônico nas três primeiras
respostas: “Não sou o Cristo”, “Não o sou (Elias)”, “Não (o profeta)”. Até que
explode numa interessante resposta à quarta pergunta: “Quem és, para darmos uma
resposta aos que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo?” E João diz: “Sou a voz
que clama no deserto…”.
Ora, eles esperavam o Messias, imbuídos
de esperança, e João sabia disso. Por que, então, ele bradava no deserto? Não
se grita no deserto. Mas o deserto do qual falava era o vazio que haveria de
ser preenchido com a presença do Messias. Aquela voz que grita no deserto,
brada na esperança de Deus, do Messias. Muitas vezes esta passagem é
interpretada como uma voz que clama em vão, mas não é. João não gritava em vão.
Gritava no vazio daquela espera, sabendo que o Messias já estava ali. Não foi
por acaso que estava no rio Jordão. Ele sabia que aquele era o momento certo,
que chegava a hora do Cristo: “Aquele (…) do qual não sou digno de desatar a correia da sandália“.
É preciso esclarecer o significado deste
ato de desatar a sandália. “E por que, então, batizas, se não és o Cristo, nem
Elias, nem o profeta?” Esse “por quê?” faz com que as pessoas reajam, pensem. E
João novamente dá uma linda resposta: “Eu batizo com água. No meio de vós está
alguém que não conheceis, aquele que vem depois de mim, do qual não sou digno
de desatar a correia da sandália.”
Era costume entre os judeus, quando o
rapaz não desejasse o casamento com a moça que lhe fora prometida, abrir mão do
direito de desposá-la em favor de um irmão que dela gostasse, ou de um
descendente direto da família que ele achasse importante. O gesto, considerado bonito,
era realizado diante de toda a família, em público. O noivo prometido desatava
a correia da sandália do pretendente, a quem entregava aquela que seria a sua
noiva. Era um ato excepcional e admirado pelos judeus.
Qual era, então, o grande noivo esperado,
prometido? João sabia que era Jesus. Por isso falou que não era digno de
desatar a correia de Sua sandália. Quer dizer: não sou digno de passar para
esse Homem a honra de esposar a glória de Deus na terra. É isto que João queria
falar.
Então, em razão do “por quê?”, João
desata este lindo discurso: “Sou a voz que clama no deserto…”. Está no meio de
vocês o legítimo noivo, papel que não sou digno de assumir e para quem tenho de
passar. Eu não sou o Messias nem o Elias e nem o profeta. Eu não sou nada. Tenho,
neste momento, aquilo que é a minha obrigação: passar a Ele, que está no meio
de vocês e que ainda não O conhecem. Não tiveram a honra de desposar essa
Boa-Nova, que é o Evangelho, a Nova Aliança de Deus com os homens.
Este é o ponto alto deste Evangelho:
João Batista passa a Jesus o comando da Boa-Nova.
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