DIA 10 SEXTA Lc 5,12-16
Jesus é a
manifestação do Homem Novo, rico em compaixão. No Mistério de Cristo, a
Epifania (manifestação) foi constante, pois, a todo momento, com palavras,
atos, atitudes e silêncio, Ele revelou o Reino de Deus que manifesta o amor
capaz de instruir, alimentar, curar e libertar o ser humano em todo o tempo e
lugar.
Proponho,
hoje, a meditação do Evangelho da liturgia de Lc 5, 12-16, no qual tentaremos
perceber esta Misericórdia Divina em meio às misérias humanas, que são tantas e
de tantas formas.
Na Boa Nova,
a Epifania cristológica tem espaço de participação para todos, mesmo para os
mais desprezados e incompreendidos do seu tempo, como era o caso dos leprosos.
Pessoas vítimas de variadas doenças de pele, para além da lepra e que eram
condenadas ao ostracismo religioso e social, ou seja, tinham que se excluir de
um “normal” convívio humano. Tanta gente hoje, devido aos males, como do
alcoolismo e das drogas, acabam experimentando coisas semelhantes, isto por
reação dos outros ou como atitude dos próprios.
Mas
voltemo-nos ao texto evangélico para percebermos a fé ousada daquele que se
manifestou, como mais do que vítima ou culpado de uma fatalidade: «Estando
Jesus numa das cidades, apareceu um homem coberto de lepra. Ao ver Jesus, ele
caiu com o rosto em terra e suplicou-lhe: Senhor, se queres, tens o poder de
purificar-me”» (Lc 5, 12). Uma atitude de reconhecimento da Pessoa e Missão de
Cristo que não foi tomada por todos aqueles que se aproximavam fisicamente de
Jesus, pois, infelizmente, eram sem fé.
Muitos, com
certeza, consideravam aquele homem “castigado” por Deus, até o próprio Cristo
seria alvo desta visão estreita do relacionamento do Senhor com o sofrimento
humano, isto, no Calvário, no auge de sua teofania salvífica: «A outros ele
salvou. Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Eleito!» (Lc
23, 35). Mas quantas vezes o sofrimento humano é tanto, que a própria pessoa se
pergunta: “O que eu fiz para merecer tamanha desgraça?”.
Voltemo-nos
novamente para o Evangelho e contemplemos o que Jesus fez perante aquele crente
sofredor: «Estendendo a mão, Jesus tocou nele e disse: “Quero, sejas
purificado”. E imediatamente a lepra desapareceu» (v. 13). Primeiramente, o
Senhor não se afastou do homem gravemente enfermo. Em seguida, aproximou-se a
ponto de tocá-lo. Para as normas religiosas do Seu tempo, o contato físico com
um leproso significava estar contaminado… Assim, Jesus revela que o amor de
Deus vai além de uma rígida norma do puro e impuro.
Para Jesus, o encontro com aquele doente, com fé, permitiu a
manifestação do poder de Deus e assim poderá sempre acontecer, como ensina a sã
doutrina católica: «Só
a fé pode aderir aos caminhos misteriosos da onipotência de Deus. Esta fé
gloria-se nas suas fraquezas para atrair a si e o poder de Cristo (cf. 2Cor 12,9; Fl 4, 13)» (CIC 273).
Isto não significa que o Senhor curou nem curará todas as doenças de todos os
tempos, e ninguém pode exigir-lhe isto! Mas, sem dúvida, podemos todos esperar,
com fé, que sejamos cada vez mais purificados de toda e qualquer relação, ou
antirrelação com o Deus Vivo e Verdadeiro: «Quero, sejas purificado» (Lc 5,
13).
Neste novo
ano – e Ano da Fé – precisamos nos deixar purificar, pelo Poderoso Espírito
Santo, de toda visão e lepra de ignorância quanto a presença e ação de Deus no
mistério do sofrimento que possa nos atingir ou tocar as pessoas à nossa volta
ou até distantes de nós.
Ora, nós
estamos distantes dos que mais sofrem… E, às vezes, o que sabemos nos vem de
boca à boca ou pelos meios de comunicação, mas, muitas vezes, fragmentado,
quando não distorcido. Mas Jesus Cristo, revelação plena da presença e
compaixão divina, não sabe “por escutar”, mas por viver conosco e em cada
sofredor. D’Ele não vem mal algum, mas, com certeza, a graça necessária para
que tudo concorra para o nosso bem e dos outros.
A Palavra de
Deus é que nos garante: «Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que
amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu desígnio» (Rm 8, 28). Sem
esta certeza fica difícil evangelizar!
Padre
Fernando Santamaria – Comunidade Canção Nova
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