BATISMO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO 12/01/2014
1ªLeitura Isaias 42,1-4.6-7
Salmo 28(29)11b “O Senhor abençoarão seu
povo, dando-lhe a paz”
2ªLeitura Atos 10,34-38
Evangelho
Mateus3.13-17
Já ouvi muitos
debates calorosos, inclusive na aula de teologia, sobre o Batismo de João, que
tinha um caráter penitencial. Claro que se trata de um rito iniciático, para os
que querem mudar de vida, diante da vinda do Reino de Deus, ou do Messias, como
se falava mais por aqueles tempos.
Entretanto, não
podemos hoje ignorar o significado desse Batismo penitencial, que até o próprio
Jesus recebeu. O texto de São Mateus, no diálogo entre João e Jesus, se apressa
em dizer que Jesus não tinha necessidade de receber esse Batismo já que Nele
não há pecado e nenhuma imperfeição que precise ser purificada. A necessidade
de uma conversão, colocada por João, como condição para receber o Batismo, nos
faz pensar na situação de pais e padrinhos que levam as crianças para receberem
esse Sacramento.
As discussões em
torno dos efeitos da graça de Deus, que o Batismo confere a cada criança, são
sempre acirradas, se entendermos que a Graça por si realiza a Salvação,
corre-se sempre o risco de tirar dos pais, padrinhos e da própria comunidade o
compromisso do testemunho da Fé, imprescindível para o Batismo. Se por outro
lado, jogarmos todo peso da responsabilidade sobre os pais e padrinhos,
exigindo deles uma vida santa e fiel á Palavra de Deus e á Santa Igreja, estaríamos
sendo incoerentes, pois sabemos que a grande maioria de pais e padrinhos que
procuram a igreja, muitos nem tiveram ainda uma experiência querigmática com
Jesus. Conheci padrinhos que logo após o Batismo, deixaram a Igreja Católica
indo para outra, levando consigo os pais e a criança que recebeu o Santo
Batismo. Conheci jovens, que receberam o Batismo, o Crisma e depois,
simplesmente mudaram de igreja, por influência de outras pessoas. Essa
estatística, se levada a sério, é muito relevante e mostra que a nossa
catequese de um modo geral, não desperta nos catequizados esse desejo interior
de ter a vida transformada pelo Santo Evangelho.
Claro que a Graça de
Deus supõe a natureza humana, como diz um grande Santo e Teólogo da Igreja São
Tomas de Aquino, isso significa dizer que Deus quer ardentemente entrar na
nossa vida, para viver conosco uma comunhão santificante, processo que se
inicia com o Batismo.
Poderíamos dizer,
que a natureza humana, depois do pecado original, permaneceu íntegra com
relação á sua essência, mas perdeu o seu ordenamento natural ao bem que, quanto
ao seu fim último, é a felicidade humana que consiste em ver Deus face a face,
portanto, a dimensão essencial do ser homem, permanece, mas a dimensão do
operar, que é o agir humano, com relação ao seu fim próprio, foi perdida. Com o
pecado o homem não deixou de ser homem, mas perdeu a capacidade de agir como
homem, segundo o fim para o qual foi criado. O Batismo resgata pela graça esse
“direcionamento” para o bem, e isso, logicamente requer uma atitude interior de
acolhimento, daí a importância testemunho de vida em família:
Como vou convencer
meu filho ou afilhado, ainda em desenvolvimento, que a Graça de Deus e a Vida
de Fé, vivida em comunidade, me faz feliz e transforma a minha vida na relação
com as pessoas? Como posso querer que o meu filho saboreie esse “Manjar” da
Santidade de Deus dada na graça do Batismo, se eu mesmo ainda não experimentei?
Como posso desejar que meu filho saboreie a doce uva da misericórdia e do amor
do Pai, se a minha vida de Pai ou de Mãe, de Padrinho ou de Madrinha, reflete
sempre uvas azedas e amargas, das discórdias, das intrigas, das inimizades, da
falta de amor á família e a comunidade da Igreja? Claro que a criança não vai
“engolir” tudo isso.
Há quem confunda o
Batismo com uma espécie de “freio”, ou de submissão forçada á Leis e Doutrinas
da Igreja, com isso acentua-se o sentido negativo, agora que sou batizado, não
posso mais fazer isso ou aquilo, Batismo desse jeito não é Cristão, porque a
primeira ação do amor de Deus em nossa vida é precisamente a Liberdade. No
Batismo de Jesus, todo homem se torna uma nova criatura, Filho de Deus, senhor
da sua vida e da sua história, livre para trilhar o próprio caminho, sempre
percebendo com os olhos da Fé a Vontade de Deus. Fazer em nossa vida a vontade
de Deus não é ser escravo, mas agir com Ele, a Graça presente em nossa vida
torna isso possível.
Mas há no Batismo de
Jesus um elemento novo que o Batismo de João não dava: os céus se abriram e
desceu sobre ele, em forma de pomba, o Espírito de Deus. Por isso João irá
dizer que Jesus irá Batizar no fogo do Espírito, o Batismo de João é um sinal,
uma lavagem exterior, uma ante-sala do que virá depois, o desejo de conversão e
mudança de vida, é uma disposição interior em acolher esse Espírito de Deus que
quer entrar em nós, e que de fato entra, pelo ritual do Santo Batismo, nos
purificando da mancha original, e conferindo-nos a liberdade de Filhos e Filhas
de Deus.
Nesse
domingo do Batismo do Senhor, lembremo-nos do nosso Batismo, e renovemos com
alegria e fidelidade nossos compromissos batismais, e o mais importante, que
ouçamos em nossas entranhas a voz amorosa do Pai, dizendo-nos em Jesus “Este é
meu Filho muito amado, em quem ponho minha afeição”.
José da Cruz é Diácono da
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