DIA 12 DOMINGO -Mt 3,13-17
O
Batismo de Jesus por João Batista é o ato inaugural do ministério de Jesus.
Pode-se dizer que seja a Epifania histórica do Senhor. Atraído pela mensagem de
João Batista, Jesus abandona sua rotina de vida em Nazaré da Galiléia, procura
o Batismo de João na região do além Jordão e começa a formar seu próprio
discipulado para, a seguir, iniciar seu próprio ministério, assumindo elementos
do anúncio de João Batista.
O
Evangelho deste domingo apresenta o encontro entre Jesus e João Batista nas
margens do Rio Jordão. Na circunstância, Jesus foi batizado por João.
João
Batista foi o guia carismático de um movimento de cariz popular, que anunciava
a proximidade do “juízo de Deus”. A sua mensagem estava centrada na urgência da
conversão. Pois, na opinião de João, a intervenção definitiva de Deus na
história, para destruir o mal, estava iminente e incluía um rito de purificação
pela água.
O
“Batismo” proposto por João não era, na verdade, uma novidade insólita. O
judaísmo conhecia ritos diversos de imersão na água, sempre ligados a contextos
de purificação ou de mudança de vida. Era, inclusive, um rito usado na
integração dos pagãos que aderiam ao judaísmo na comunidade do Povo de Deus.
Na
perspectiva de João, provavelmente, este “batismo” é um rito de iniciação à
comunidade messiânica, quem o aceitava, renunciava ao pecado, convertia-se a
uma vida nova e passava a integrar a comunidade do Messias.
O
que é que Jesus tem a ver com isto? Que sentido o faz apresentar-se a João para
receber este “batismo” de purificação, de arrependimento e de perdão dos
pecados?
O
texto que hoje nos é proposto faz parte de um conjunto de três cenas iniciais
(cf. Mc 1,2-8; 1,9-11; 1,12-13) nas quais Marcos apresenta Jesus como o
Messias, Filho de Deus. Nesse tríptico, fica desde logo definida a missão
específica e a verdadeira identidade de Jesus. Estas indicações iniciais irão
depois ser desenvolvidas e completadas ao longo do Evangelho.
Em
Mateus (Mt 3,13-15), Jesus vem da Galiléia ao encontro de João Batista para ser
batizado por ele. Ao pedir o batismo, Jesus diz que “é assim que devemos
cumprir toda a justiça”. Depois de ser batizado, o gesto de Jesus é confirmado
pelo Espírito Santo e pelo Pai com a proclamação: “Este é o meu Filho amado;
nele está meu pleno agrado”.
O testemunho
de João não oferece dúvidas: Jesus é esse Messias anunciado pelos profetas que
Deus vai enviar para libertar o seu Povo e para lhe dar a vida definitiva.
O
testemunho de João irá, logo, ser confirmado pelo testemunho do próprio Deus.
Na cena do batismo, Mateus faz referência a uma voz vinda do céu que apresenta
Jesus como “o meu Filho muito amado”. Esse Messias esperado é também o Filho
amado de Deus, enviado aos homens para os “batizar no Espírito” e para
inserí-los numa dinâmica de vida nova – a vida no Espírito.
O
testemunho de Deus é acompanhado por três fatos estranhos que, no entanto,
devem ser entendidos em referência a fatos e símbolos do Antigo Testamento.
Assim,
a abertura do céu significa a união da terra e do céu. A imagem inspira-se, provavelmente,
em Is 63,19, onde o profeta pede a Deus que “abra os céus” e desça ao encontro
do seu Povo, refazendo essa relação que o pecado do povo interrompeu. Desta
forma, Mateus anuncia que a atividade de Jesus vai reconciliar o céu e a terra,
vai refazer a comunhão entre Deus e os homens.
O
símbolo da pomba não é imediatamente claro… Provavelmente, não se trata de uma
alusão à pomba que Noé libertou e que retornou à arca (cf. Gn 8,8-12); é mais
provável que a pomba (em certas tradições judaicas, símbolo do Espírito de Deus
que, no início, pairava sobra as águas – cf. Gn 1,2) evoque a nova criação que
terá lugar a partir da atividade que Jesus vai iniciar.
Temos,
finalmente, a voz do céu. Trata-se de uma forma muito usada pelos rabbis para
expressar a opinião de Deus acerca de uma pessoa ou de um acontecimento. Essa
voz declara que Jesus é o Filho de Deus; e fá-lo com uma fórmula tomada desse
cântico do “Servo de Jahwéh” que vimos na primeira leitura de hoje (cf. Is
42,1). Afirma-se, de forma clara, que Jesus é o Filho de Deus, mas a referência
ao servo de Jahwéh sugere que a missão de Jesus não se desenrolará no
triunfalismo, mas na obediência total ao Pai; não se cumprirá com poder e
prepotência, mas na suavidade, na simplicidade, no respeito pelos homens (“não
gritará, nem levantará a voz; não quebrará a cana fendida, nem apagará a
torcida que ainda fumega” – Is 42,2-3).
Ao
receber este batismo de penitência e de perdão dos pecados (do qual não
precisava, porque Ele não conheceu o pecado), Jesus solidarizou-se com o homem
limitado e pecador, assumiu a sua condição, colocou-se ao lado dos homens para
ajudá-los a sair dessa situação e para percorrer com eles o caminho da
libertação, o caminho da vida plena. Esse era o projecto do Pai, que Jesus
cumpriu integralmente.
A
cena do batismo de Jesus revela, portanto, essencialmente, que Jesus é o Filho
de Deus, que o Pai envia ao mundo a fim de cumprir um projeto de libertação em
favor dos homens. Como verdadeiro Filho, Ele obedece ao Pai e cumpre o plano
salvador do Pai; por isso, vem ao encontro dos homens, solidariza-se com eles,
assume as suas fragilidades, caminha com eles, refaz a comunhão entre Deus e os
homens que o pecado havia interrompido e conduz os homens ao encontro da vida
em plenitude. Da atividade de Jesus, o Filho de Deus que cumpre a vontade do
Pai, resultará uma nova criação, uma nova humanidade.
No
episódio do batismo, Jesus aparece como o Filho amado, que o Pai enviou ao
encontro dos homens para libertá-los e para inseri-los numa dinâmica de comunhão
e de vida nova. Nessa cena revela-se, portanto, a preocupação de Deus e o
imenso amor que Ele nos dedica. É bonita esta história de um Deus que envia o
próprio Filho ao mundo, pede a e Ele que se solidarize com as dores e
limitações dos homens e que, através da ação do Filho, reconcilia os homens
consigo e fá-los chegar à vida em plenitude. Aquilo que nos é pedido é que
correspondamos ao amor do Pai, acolhendo a sua oferta de salvação e seguindo
Jesus no amor, na entrega, no dom da vida. Ora, no dia do nosso batismo,
comprometemo-nos com esse projecto. Temos, depois disso, renovado diariamente o
nosso compromisso e percorrido, com coerência, esse caminho que Jesus nos veio
propor?
A
celebração do batismo do Senhor leva-nos até um Jesus que assume plenamente a
sua condição de “Filho” e que se faz obediente ao Pai, cumprindo integralmente
o projeto do Pai de dar vida ao homem. É esta mesma atitude de obediência
radical, de entrega incondicional, de confiança absoluta que eu assumo na minha
relação com Deus? O projeto de Deus é, para mim, mais importante do que os meus
projetos pessoais ou do que os desafios que o mundo me faz?
O
episódio do batismo de Jesus coloca-nos frente a frente com um Deus que aceitou
identificar-se com o homem, partilhar a sua humanidade e fragilidade, a fim de
oferecer ao homem um caminho de liberdade e de vida plena. Eu, filho deste
Deus, aceito ir ao encontro dos meus irmãos mais desfavorecidos e estender-lhes
a mão? Partilho a sorte dos pobres, dos sofredores, dos injustiçados, sofro na
alma as suas dores, aceito identificar-me com eles e participar dos seus
sofrimentos, a fim de melhor os ajudar a conquistar a liberdade e a vida plena?
Não tenho medo de me sujar ao lado dos pecadores, dos marginalizados, se isso
contribuir para promovê-los e para lhes dar mais dignidade e mais esperança?
No
batismo, Jesus tomou consciência da sua missão (essa missão que o Pai Lhe
confiou), recebeu o Espírito e partiu em viagem pelos caminhos poeirentos da
Palestina, a testemunhar o projeto libertador do Pai. Eu, que no batismo aderi
a Jesus e recebi o Espírito que me capacitou para a missão, tenho sido uma
testemunha séria e comprometida desse programa em que Jesus se empenhou e pelo
qual ele deu a vida? Renovemos o nosso Batismo!
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