DIA 7 TERÇA -Mc 6,34-44
Dai-lhes vós mesmos de comer.
Este Evangelho, da multiplicação dos
pães, mostra que tanto os discípulos como Jesus sentiram compaixão do povo que
estava com fome. Mas a maneira de resolver o problema foi diferente. Os
discípulos queriam despedir logo o povo para que procurassem alimentos, porque
não viam outra solução. Jesus quis que os próprios discípulos lhes dessem de
comer, confiando na ajuda de Deus Pai.
A cena deixa claras duas maneiras de ver
a religião. Os discípulos, ao pedirem a Jesus que despedisse o povo porque
estavam com fome, mostraram que para eles essa parte de providenciar alimentos
não faz parte da religião. Já para Jesus faz parte sim, e com Deus temos
condições de resolver. Quantas Comunidades de hoje, através das instituições
sociais, provam que com Deus realmente é possível. A caridade nos leva a amar
as pessoas, mas amá-las inteiras, com corpo, alma e espírito. Por isso que
muitas Comunidades se interessam pela político, pelo transporte, pela moradia,
pela educação das crianças etc.
O sonho de um mundo melhor nos leva, não
a deixar para os outros, mas a fazer a nossa parte, mesmo que tenhamos poucas
condições. O pouco com Deus é muito e o muito sem Deus não é nada.
“Jesus mandou que todos se sentassem...
formando grupos.” A organização gera a partilha e, quando partilhamos, Deus faz
o milagre da multiplicação. Isso aconteceu ontem, acontece hoje e acontecerá
sempre. Onde há amor, ninguém passa necessidade.
“Nosso Deus é o verdadeiro. Ele nos dá o
pão da sua palavra e o pão que alimenta o corpo” (Dt 8,3). Veja que esse modo
de ver a religião, como dedicação ao homem integral, não é coisa nova, sempre
foi assim. Quando uma Comunidade se dedica ao homem integral, isso gera alegria
e louvor a Deus, como aconteceu com os hebreus, quando veio o maná.
“Quantos pães tendes?... Jesus pegou os
cinco pães e dois peixes, ergueu os olhos para o céu, pronunciou a bênção...”
Nem nós sozinhos, nem Deus sozinho, mas nós e Deus juntos. Nós fazemos a nossa
parte, damos o pouco que temos, e Deus abençoa. Faça a sua parte que da minha
ajudarei.
Se tivermos fé, espírito de partilha,
união e organização, e não jogarmos fora as sobras, ninguém passará fome nem
qualquer outra necessidade. As Comunidades cristãos são o meio que Jesus deixou
para isto acontecer.
Alimento é coisa sagrada. Não podemos
esbanjar, jogar fora. O que sobra para um falta para outro. Por isso, é preciso
recolher com cuidado tudo o que sobra.
Assim como os cinco pães e dois peixes
foram divididos e todos comeram, a nossa partilha também é multiplicada, em
benefício de todos, inclusive de nós mesmos. E além temos a recompensa de Deus,
tanto nesta vida como na outra. “Vinde, benditos de meu Pai, recebei em herança
o Reino...” (Mt 25,34).
A multiplicação dos pães tem vários
sentidos simbólicos. A grande multidão de cinco mil homens representa a
humanidade com a sua fome de libertação messiânica. O milagre da multiplicação
aponta para a Eucaristia, o Pão partilhado, saciando o novo Povo de Deus e
prenunciando o banquete definitivo do Reino, já inaugurado.
A fome no mundo é patente. Três quartos
da humanidade está subnutrida, e a maior parte é vítima da fome, doença, falta
de moradia e de trabalho. As riquezas são concentradas pelos ricos, fazendo
deles cada vez mais ricos, enquanto os pobres continuam cada vez mais pobres.
Nós podemos, com o nosso esforço e união, mudar esse quadro.
Certa vez, na antiguidade, um navio
estava atravessando o mar com centenas de pessoas. Aconteceu uma grande
tempestade e o navio perdeu a direção. Acabaram chegando a uma ilha
desconhecida e totalmente desabitada.
Logo que chegaram à ilha, três homens
começaram a explorá-la. Viram que ela tinha duas partes bem distintas: o
centro, com terra boa e coberta com matas e muita água doce, e a periferia
constituída da pedreiras.
Mais que depressa, os três homens
cercaram a parte boa da ilha e se declararam donos. Construíram ali três
mansões. As outras pessoas tiveram de ficar na periferia. Logo começaram a
passar fome. Então os três proprietários propuseram: quem trabalhar para eles
ganhava comida. E assim, todos os outros se tornaram seus empregados.
Os três escolheram os homens fortes e
corajosos e deram-lhes bastante comida e armas, declarando-os a polícia da
ilha. Aos outros deram menos comida, para não terem força e se revoltarem.
Escolheram os mais inteligentes e
fizeram deles professores. Mas deviam ensinar conforme a cartilha dos três.
Escolheram também os mais piedosos e com eles fundaram uma religião, chamada “A
religião do verdadeiro deus”. Ensinavam que a miséria e a fome são agradáveis a
deus e que todos deviam obedecer aos três, cujos retratos as famílias deviam
colocar nas paredes de suas casas. Outras imagens eram proibidas.
Entretanto, apareceu um profeta e
começou a ensinar que todos somos iguais e que aquela religião era falsa. Os
três chefes chamaram a sua polícia e mataram o profeta. Entretanto, as suas
idéias ficaram em muitas cabeças e estas pessoas continuaram a doutrina do
profeta, criando dentro da ilha um novo povo e um novo modo de viver, no qual
as pessoas são iguais e os alimentos são distribuídos para todos.
Peçamos a Maria Santíssima que nos ajude
a sermos profetas do verdadeiro Deus. Que sejamos cada vez mais unidos,
solidários e organizados, a fim de que todos tenham vida e vida plena.
Dai-lhes vós mesmos de comer.
Padre Queiroz
Eu não estudei a história da nossa humanidade, mas parece que essa história na ilha tem tudo haver com ela.
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