06- DOMINGO-Evangelho - Lc 3,1-6
Padre
Antonio Queiroz
Todas
as pessoas verão a salvação de Deus.
Este
Evangelho, do segundo domingo do advento, tem duas partes. Na primeira, o
evangelista situa bem, na história nacional e internacional, a preparação do
povo feita por João Batista, para que as pessoas possam receber a Boa Nova
trazida por Jesus. A preparação consistia na prática da penitência, no
arrependimento dos pecados e na conversão. Na segunda parte, o evangelista
apresenta um resumo da pregação de João Batista.
Ele
repete as profecias de Isaías, que chamam abertamente para uma mudança de vida,
e o faz através de comparações: endireitar as veredas, aterrar os vales,
rebaixar as montanhas e colinas, tornar retos os caminhos curvos, aplainar os
caminhos acidentados... Tudo isso, a fim “preparar o caminho do Senhor”. Assim,
“todas as pessoas verão a salvação de Deus”.
Precisamos
aplainar as desigualdades injustas, tapar os buracos da fome, da ignorância e
da pobreza, arrasar o orgulho, construir pontes de reconciliação. Reconhecendo
que somos pecadores, podemos levantar para a esperança os ânimos nossos e das
pessoas decaídas.
Tudo
parte da conversão pessoal que, segundo João Batista, deve ser concreta e atingir
a nossa vida individual, o nosso ambiente e a sociedade, construindo uma nova
estrutura.
A
graça quer agir em nós no advento como uma pedra lançada em um lago: as ondas
vão se alargando e atingindo a nossa família, o nosso ambiente de trabalho, de estudo...
até chegar à mudança de estruturas sociais. O amor a Deus e ao próximo é o
motor de tudo isso.
O
mais importante e a fonte de tudo é a conversão pessoal, a mudança de coração, de
mentalidade e de comportamento. A vida humana não se transforma através de
mudanças estruturais, mas através do testemunho de pessoas transformadas. O
futuro melhor forja-se no coração de cada um.
Foi
a gente simples do povo que melhor respondeu ao imperativo da conversão que o
profeta anunciava. Os pobres são vazios de si mesmos e respondem mais
generosamente ao chamado do alto.
Hoje,
preparar o caminho do Senhor está cada vez mais difícil, porque, no nosso meio,
a indiferença religiosa e a multiplicação de seitas diluem a força que vem do
alto. Contudo, muitos profetas atuais têm operado maravilhas, apressando a
vinda do Senhor.
Somos
peregrinos da esperança, atravessando o deserto da vida, rumo à casa do Pai e
nossa casa definitiva. Nós olhamos sempre para frente, procurando descobrir
novos passos a dar.
Numa
época de mudanças sociais profundas como a nossa, temos de examinar seriamente
a nossa sensibilidade ao Evangelho. Que bom seria se João Batista aparecesse
hoje, fazendo-nos apelos concretos e nos convidando à conversão!
E
João Batista, como todos os profetas, nos ensina não só com as palavras, mas
com a sua vida. Ele morava no deserto, que é um dos piores lugares para se
viver, devido ao calor, à falta de vegetais e qualquer tipo de distração. Assim,
o deserto faz com que a pessoa automaticamente olhe para o céu e se lembre de
Deus.
Também
a roupa de João, feita de pelos de camelo, não era nada confortável. Tudo o
forçava à penitência.
Outro
exemplo admirável de João é a sua coragem de falar a palavra certa, na hora
certa, para a pessoa certa e sem rodeios nem medo.
Se
agora no advento, fugirmos um pouco da nossa vida confortável e barulhenta,
buscando a oração e a contemplação, certamente Deus nos ajudará a nos preparar
bem para o Natal, o qual será iluminado pela mesma estrela que iluminou a gruta
de Belém.
Outro
exemplo de João é que ele comia gafanhotos. Gafanhoto é bom para a saúde, mas
não é nada agradável de se comer. O cristão penitente come o que e quanto
precisa para ter uma boa saúde.
Certa
vez, faleceu o guardião de um grande mosteiro. Guardião é o monge responsável
por toda a administração material do mosteiro, cargo que fica logo abaixo do
superior. Aquele monge havia exercido essa função durante longos anos,
acumulando larga experiência. Não era fácil, agora, encontrar o seu substituto.
Por
isso o superior convocou uma reunião com todos os monges e, num ambiente de
grande expectativa e responsabilidade, introduziu o assunto: “Precisamos
escolher o novo guardião do mosteiro. Tendo em vista a exigência dessa função,
precisamos ser criteriosos na escolha. Por isso, resolvi fazer o seguinte: vou
colocar um problema. Aquele que conseguir resolver o problema mais rapidamente,
será o novo guardião”.
O
superior ausentou-se da sala e, pouco tempo depois, voltou. Trazia um jarro
grande, muito antigo e de rara beleza. Trazia também uma rosa amarela, muito
bonita. Colocou o jarro e a rosa em cima da mesa, no centro da sala, e disse:
“Eis o problema!”
“Mas
como, o problema?” – pensava intrigado cada monge consigo mesmo. Um pesado
silêncio caiu na sala. Ninguém ousava se mexer. Alguns até duvidaram da
sanidade mental do superior.
De
repente, um dos monges levantou, aproximou-se do jarro e da rosa amarela e, com
um golpe, quebrou o jarro precioso e machucou a flor!
Os
outros monges prenderam a respiração e soltaram um “ai” incontrolável. O
superior do mosteiro, serenamente, falou: “Você será o novo guardião do
mosteiro!”
Um
problema, mesmo que seja um problema bonito, é problema e precisa ser
resolvido. Nós criamos determinados hábitos que se tornam problemas. Advento é
tempo de enfrentar com decisão e firmeza os nossos problemas, a fim de
superá-los.
Na
gruta de Belém, Deus derrotou definitivamente o mal. E lá os visitantes
encontravam o Menino Jesus nos braços de sua Mãe. Que nos prepare bem para o
Natal.
Todas
as pessoas verão a salvação de Deus.
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