Comentários Prof.Fernando*
QUARTO Domingo (preparando o NATAL) 20
– 12 – 2015
1.
Duas mulheres
·
A 5 dias do Natal o texto da narrativa de Lucas refere
que Maria de Nazaré vai para a casa de sua prima logo ao saber que Isabel estava
grávida perto de dar à luz. Isabel, casada com um sacerdote do Templo de
Jerusalém fora agraciada com um milagre – como outras figuras da Bíblia, que
conceberam um filho apesar da esterilidade ou da idade avançada. A Deus nada é impossível, mesmo o que, na
experiência humana, parece absurdo.
· Maria também
tinha entendido os Sinais da presença divina no meio da vida humana. Ela também
concebera um filho que não seria um ser humano apenas, mas o Yeshua (latinizado é Jesus e seu
significado é Deus salva) ou o Jesus
de Nazaré viria a ser o caminho de acesso do ser humano até o Criador. Por isso o
Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus.
E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril; porque para Deus nada é impossível. Disse então Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. (Lucas 1,35-38).
E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril; porque para Deus nada é impossível. Disse então Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. (Lucas 1,35-38).
· Maria de
Nazaré torna-se de repente um personagem central na história da humanidade ao levar
em seu ventre o Cristo (o Alfa e o Ômega, o princípio e o coroamento de tudo
que é humano). Mas nesse momento talvez nem ela mesma se desse conta da
dimensão dos acontecimentos. A moça simples do interior quer apenas encontrar-se
com sua prima, muito mais velha, e que se trnou, como ela mesma, um Milagre. Ela
saiu de sua casa para ajudar Isabel no período final da gravidez. Maria devia
estar louca não só para dar uma ajuda, mas quer também abraçá-la com alegria e
sorri antecipadamente pensando nas horas em que ficarão conversando sobre a revelação
recebida por cada uma, suas reações, seus sustos e sua fé.
· O encontro
das duas mulheres é um dos poemas mais ternos da Bíblia. Isabel recebe sua
prima e, inspirada pelo Espírito, sublinha
a importância de acreditar, isto é, ter muita confiança na presença misteriosa
do Criador que surge sempre no meio da vida:
Ora, logo que Isabel ouviu a saudação de Maria, a
criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo, exclamando
em alta voz: “bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu
ventre. Como posso ser contemplada com tão grande honra, de vir à minha casa a
mãe de meu Senhor? Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus
ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio. Bem-aventurada és tu que
creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram
ditas!”.
· A
continuação desta conversa inicial (trecho que não é lido hoje) é outra
preciosidade que marcou a história humana por sua grandeza humana e divina, e
que se tornou uma extraordinária peça literária conhecida como o hino do Magnificat: Engrandece, minha alma o Senhor
e meu espírito exulta de alegria em Deus meu Salvador. E Maria vai enumerar
uma série de motivos para tanto júbilo e gratidão. A culminância das palavras
de Isabel está no final de sua fala: a bem-aventurança ou felicidade de Maria está
em ter acreditado nos Sinais revelados no íntimo de seu coração. Esta confiança
(que nós chamamos Fé) certifica que se cumprirão as Palavras que escutou e
aceitou.
2.
As coisas pequenas e simples
·
A primeira leitura traz um trecho do profeta Miqueias,
que viveu e interpretou as ameaças e invasões assírias por volta do ano 700 a.
C. No cap. 5 ele formula anúncios de salvação, a qual pode surgir a partir das cidades
mais humildes do país. Os primeiros cristãos aplicaram esta profecia ao
nascimento de Cristo e, talvez por essa razão, Belém – citada pelo profeta – se
torna, nas narrativas da infância, a cidade natal de Jesus. A Boa Notícia
(=Ev-angelho, no termo original grego) veio para todos e visa valorizar a
pessoa, sejam quais forem suas origens e situação social.
· Em nosso
tempo muitos grupos religiosos e cristãos, tanto católicos com pentecostais,
pensam que “evangelização”, além de ser um termo às vezes abusivamente
utilizado, depende do tamanho dos templos ou da quantidade de fieis que acorrem
a lugares de celebração e culto. Às vezes julgam-se mais evangelizadores pelo critério
do crescimento numérico de seu seguidores ou do maior índice de audiência registrado
em seus programas de Rádio e TV. Entretanto, o Espírito atua, como o Vento, dizia
o Mestre de Nazaré, soprando onde e como quer; revelando-se às pessoas,
independentemente da propaganda e marketing que foram utilizados pelos
anunciadores da Palavra. As pessoas, de qualquer classe sócio-econômica podem
ou não escutar a voz do Anjo e outros Sinais do Deus que está sempre “falando”
com o ser humano.
· Maria e
Isabel (assim como seus filhos, João e Jesus) não precisaram da Mídia atual nem
de aparecer em capa de revista ou em manchetes de jornais e portais da Internet
para realizar sua missão. A missão é dar testemunho de sua coragem e sua fé,
dizendo (mais pelas atitudes do que por palavras) que Deus é bom e que a
humanidade pode encontrar seu caminho (sua salvação).
3.
Religião/religiosidade e a vida real
· A segunda leitura
de hoije (carta aos Hebreus10,5-10) afirma que é no corpo de Cristo que nos foi
dada a Salvação. Foi num corpo próprio, que continha o DNA de Maria e o sangue
dos ancestrais. Note-se que os Evangelhos apresentam duas genealogia: Mateus (cap.1)
remonta até Abraão, e menciona os nomes dos principais líderes de Israel; Lucas
faz remontar ao primeiro homem (na figura de Adão) toda a ascendência de Jesus.
É na linhagem universal da família humana que Jesus está inserido.
· A salvação está
além dos esforços humanos com os quais tem procurado chegar até a fonte
original, divina, por meio de sacrifícios, oblações, holocaustos de animais e
sacrifícios nos altares (cf. verso 5e6). Cristo, ao entrar no mundo, diz que é
pela encarnação que se realiza o desejo de Deus para a humanidade, isto é, a “santificação”
(que poderíamos chamar de sua “deificação”), quer dizer: o ser humano de fato pode
chegar à intimidade com Deus. No Natal celebramos o nascimento daquele corpinho
de uma criança. Esse Corpo será a Oferenda única que substitui todas as buscas
religiosas e todas as indagações intelectuais por Deus.
· A
constatação da carta aos hebreus é a mesma que meditamos hoje: é na humildade de
uma vida humana (corporal, comum, anônima na maior parte do tempo) que Jesus de
Nazaré (“nascido de mulher” para usar uma expressão de Paulo) vai estabelecer uma
nova “escada de Jacó”, isto é, um caminho possível entre o Céu e a Terra. Como
se recorda na introdução (antífona) da liturgia de hoje (cf. Isaías cap.45,10),
uma imagem tirada da agricultura mostra a convergência de dois polos. A Gratuidade
(chamamos “Graça”) vem do Céu e faz brotar na vida que vem da Terra, o
Salvador.Nuvens, chovei o justo; abra-se
a terra, e brote o Salvador!
Com a
Ciência e a Filosofia já conhecemos e compreendemos cada vez mais um pouco, a
respeito do universo,o movimento dos astros e o funcionamento da vida. Mas
ainda há muitos mistérios indecifrados, no campo da Física e da Matéria, como
no âmbito do comportamento (às vezes muito estranho...) dos seres humanos em
sua história. O maior de todos os Mistérios (antes, o único Mistério) que se
deixa tocar mas que não nos dá todas as respostas sobre o Bem e o Mal é semelhante
ao Mistério da vida (nós a “vivemos”, mesmo sem compreendê-la bem): o "Mistério”
da presença de Deus dentro de nós e entre nós. Ele nos toca (ou nós tocamos
nele) só quando o “vivemos” na simplicidade e profundidade de mulheres como Isabel
e Maria.
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