Comentários Prof.Fernando*
TERCEIRA semana - PREPARAÇÃO para NATAL 13 dez 2015
Alegrai-vos.
Repito: alegrai-vos! O Senhor está perto (Fl 4,4).
1) Casca de alho
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Você já deve ter visto na
feira, supermercado ou mercearia, aquela dona de casa pegando alho depois de descascá-lo
bastante. Já viu também alguém preparando a gaiola de passarinhos soprando sobre
o alpiste. É separação de palha e alimento. Da sobra e da casca para usar o
mais importante. No preparo de refeições tem de primeiro descascar legumes,
cortar nervuras da carne, limpar o peixe, catar feijão, lavar verduras... A
vida é mistura de palha e grão, de alimento e cascas. João Batista diz que virá
o Cristo, com a ferramenta de roçar a lavoura.
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O texto escrito por Lucas
(cap3,versos10a18) indica este momento anunciado pelo pregador ambulante que
surgiu no ano 28 de nossa era: arrependimento, preparação, limpar as cascas antes
do banquete. O povo ficou impressionado e percebia que algo extraordinário
estava para acontecer. E era preciso preparar-se para o que viria.
2) O que devemos fazer?
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Então, perguntavam: o que devemos fazer? Nós também
perguntamos, sabendo que algo está em nossas mãos. O que podemos fazer para
melhorar o mundo? O que está a nosso alcance? O que fazer no trabalho, nas profissões,
na família, na política, na cultura?
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João fez sua opção
inspirado e movido pelo Espírito. Poderia ter seguido a carreira de seu pai,
Zacarias, membro como era de família sacerdotal em Israel e iria exercer suas
funções no templo de Jerusalém. Em vez disso foi ser eremita e depois virou o
rebelde pregador que preparava a vinda do Filho do Homem. As pessoas que o
escutavam perceberam um movimento novo na sociedade da época. Gente simples,
soldados, funcionários da coleta de impostos (publicanos) são citados por Lucas
como exemplo de pessoas do povo que ficaram impressionadas com a força da
pregação do Batista. Ele praticava o ritual de “mergulhar” (=batizar) nas águas
do rio como simbolismo para lavar-se dos erros do passado em vista de um novo
futuro. Ao batismo no rio seguia-se a questão: então, o que devemos fazer?
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João não inventou nada de
novo: aconselhava a praticar o que estava arraigado na cultura e na religião de
Israel, o que tinha sido ensinado nas Escrituras: prestar atenção aos outros e
a suas necessidades, compartilhar com eles do que sobrava, ser íntegro e cada
profissional em sua área deveria ser honesto. Arrepender-se do mal praticado e mudar
de vida. As pregações de João despertaram em seu primo, Jesus, sua própria
vocação. Ele também tinha passado um tempo no deserto preparando-se para uma
virada em sua vida, buscando como realizar o próprio caminho. Movido pelo
Espírito não seguiria mais o ofício que aprendera com seu pai na aldeia de
Nazaré, mas sua vocação única. Guiado pelo Espírito ele se apresenta um dia a
João e entra na fila comum dos demais pecadores, apesar de ser o Justo. E ali
começa a se revelar o Deus encarnado, e ele começa sua vida pública, anunciando
um novo tempo, um novo Reino.
3) O que devemos fazer,
o que podemos fazer
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João lembrava a importância dos Mandamentos que já
foram ensinados por Moisés. Se todos se convertessem à honestidade, não
explorassem o próximo, nem praticassem violência, o mundo seria talvez um
paraíso. Mas corrupção, guerras e todo tipo de violência continuam acontecendo,
porque a lei e nossos esforços são insuficientes para que a humanidade
reencontre sua vocação. É preciso escutar a voz interior do Espírito. A Bíblia
chama isto de “Salvação”, que é Deus dando sua mão para guiar as pessoas para o
Bem. João dizia que ele não era o “Cristo”, o “Ungido” prometido (O
“salvador”). Ele preparava os caminhos para a chegada do Cristo. Este iria “mergulhar”
(=batizar) não mais na água, mas no Espírito (palavra grega significando a
força do vento e o ar que se respira). O Cristo viria separar os grãos
nutrientes da vida da palha seca a ser destruída pelo fogo. A pregação do
Batista ainda não é o Sermão das Bem-aventuranças, mas sua preparação.
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Em geral nós achamos que estamos no lado certinho
da sociedade e colocamos “os outros” na banda podre das classes, ofícios,
organizações... Ora, ser honestos é o mínimo que já Moisés previra como a base social
das relações humanas. Mas não é suficiente. Em geral não entendemos o termo nem
o que chamamos de “Salvação”. É o dom, a graça (=gratuita) de Deus. Temos de fazer
nossa parte: compartilhar a roupa com quem não a tem, dividir o prato de
comida, pagar o salário ao empregado e o imposto ao governo. Se todos o
fizessem não haveria corrupção nem crime. Mas não conseguimos agir assim sem o
sopro do Espírito. Não teremos força para fazê-lo, nem por muito tempo nem a
todos. Recriamos nossos pequenos clubes de conveniência e exercemos sobre
outros nossos preconceitos de “gente de bem”. E ficamos cada vez mais parecidos
com o atual Congresso cheio de deputados e senadores “honestos” e prontos para
condenar os outros.
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Só o Mistério do único Bom nos dará ânimo. Por
dentro. Diz o profeta Sofonias (1ª.leitura3,14-18): alegre-se, pois é ele o
herói salvador. Escreve Paulo aos filipenses (2ª.leitura): alegrai-vos, pois é
sua paz que ultrapassa toda inteligência a que guardará seus corações e
pensamentos. Por isso pedimos: venha o
teu Reino! Porque nosso reino é mesquinho, cercado de convenções e
preconceitos, organizado em classe sociais como castas separadas, categorizados
alguns como intocáveis ou párias da sociedade. Em geral nossa cultura valoriza
o ser humano pela riqueza ou poder que possui, pela religião que pratica, pela
roupa que usa.
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Na preparação do Natal escutemos a voz de João à
beira do Jordão, ainda que entre nós não haja mais do que a poluição dos Tietês,
em vez dos antigos rios Doces. Ainda que nosso país esteja coberto de lama e
corrupção cada um pode fazer a sua parte: pegar na enxada e limpar o nosso terreno
pessoal. Quem sabe a moda pega. E crer que, misteriosa e silenciosamente o
Espírito continua agindo, principalmente nos desvalidos, doentes, solitários e fracos.
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Este terceira semana antes do Natal é marcada pela
Esperança que produz uma especial Alegria. Somos fracos, mas ele virá. No meio
do arrependimento e da preparação às vezes difícil e em momentos de sofrimento
a Palavra bíblica nos anuncia a certeza da vitória do Bem e da Justiça. Tradicionalmente
a liturgia do advento chama este dia de “domingo Gaudete”, que significa “Alegrai-vos”
(cf. carta aos filipenses 4,4): Alegrai-vos.Repito:
Alegrai-vos.
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