16- Quarta - Evangelho - Lc 7,19-23
João Batista é um crente em Deus, que vive para
Ele, sempre aberto, disponível às suas iniciativas. Por isso, sabe reconhecê-lo
no misterioso homem da Galileia, que vem fazer-se batizar por Ele, no Jordão,
Jesus de Nazaré.
Mas,
na escuridão da prisão de Herodes, é invadido pelo medo, pela tristeza, pela
dúvida: ter-me-ei enganado ao ver em Jesus o Cordeiro de Deus? Mas a sua fé é
grande. Em vez de pô-la em discussão, manda embaixadores a Jesus, pedindo luz
para compreender. Torna-se, pois, ainda mais pobre, fazendo-se simples
interrogação: «ÉsTu o que está para vir, ou devemos esperar outro?»
Jesus
responde aos embaixadores apontando as obras que anda a fazer. Não apenas os
milagres que dão testemunho dele, mas o que eles significam. São sinais de que
começou uma nova humanidade, que sabe acolher a palavra de Deus, ver as
maravilhas que Ele faz e caminhar pelos seus caminhos: «a Boa-Nova é anunciada
aos pobres».
O
estilo paradoxal da ação de Deus em Jesus não escandalizará um pobre
prisioneiro, como é João. Pelo contrário, torná-lo-á muito «feliz». Embora
tenha anunciado a vinda de Jesus, o próprio João Batista teve dificuldade de
reconhecê-lo. Com a chegada do Messias, o mundo não se acabou, como proclamava
João. Ele não se apresentou como um juiz severo, como fora anunciado, antes,
caracterizou-se por sua mansidão e humildade de coração. Sua pregação não
visava incutir medo e levar à conversão a qualquer custo, mas tentava avivar a
chama do amor no coração dos pobres e sofredores. Além do mais, João estava no
cárcere, e Jesus não o havia libertado, como se esperava do Messias, libertador
dos prisioneiros. Eis porque sentiu a necessidade de mandar seus discípulos
para interrogarem a Jesus sobre sua identidade.
A
resposta de Jesus colocou João e seus discípulos diante de um exercício de
discernimento. Eles foram confrontados com os gestos prodigiosos de Jesus e
tinham o testemunho da cura de cegos, coxos, leprosos, surdos e de mortos que
tinham ressuscitado. Enfim, os pobres estavam sendo evangelizados.
Interpretando estas ações de Jesus, a partir de textos dos antigos profetas,
não era possível pôr em dúvida sua condição de Messias. Todo o seu agir
inspirava-se nas profecias messiânicas e seus gestos comprovavam sua
identidade. Diante dos milagres de Jesus, era necessário, porém, ter a coragem
de reconhecer sua condição de Filho de Deus.
«Destilai,
ó céus, lá das alturas o orvalho, e que as nuvens façam chover a justiça».
Isaías oferece-nos, hoje, uma aclamação que traduz perfeitamente o estado de
alma de quem vive o Advento. Por isso é que a Igreja a repete tantas vezes na sua
oração durante este tempo litúrgico. O profeta manifesta o desejo de uma
intervenção divina, porque está convencido de que a justiça e a salvação só
podem vir de Deus. Ao contrário de tantos outros textos, em que a intervenção
de Deus é comparada a uma tremenda batalha contra os maus, aqui é comparada a
um calmo e benéfico orvalho, ao mistério de uma chuva fecunda.
São
imagens adequadas ao mistério da Encarnação, que não se realizou de modo
estridente, mas com infinita discrição, na «sombra» do Espírito Santo. À
intervenção divina deve corresponder a nossa discreta disponibilidade: «Abra-se
a terra!» E a terra abriu-se, quando a Virgem de Nazaré deu o seu “sim”: «Eis a
serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38).
O
Evangelho de hoje apresenta-nos João rendido a Cristo, dando testemunho dele
com a sua vida. João é também “terra aberta” ao Verbo de Deus feito homem, um
verdadeiro disponível, um verdadeiro “pobre de Deus”, que Jesus proclama
bem-aventurado. O Batista é a imagem do crente que caminha na paciência e que
está sempre disponível a reformular as suas expectativas perante o imprevisível
estilo da vinda de Deus. Assim vai aprofundando a sua esperança até ao supremo
testemunho do sangue.
João
Batista ensina-nos que, mesmo a fé mais forte e sincera, pode coexistir com a
dúvida e que a maneira de vencer essa dúvida é a oração. Renunciando a pôr em
causa a promessa de Deus e revendo os nossos modos limitados de ver a promessa
divina e de esperar a sua realização, encontramos a paz.
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