03 de Abril - Sexta - Evangelho
- Jo 18,1-19,42
Tudo
está consumado.
Hoje
é sexta-feira santa, dia em que comemoramos a morte de Jesus. No Evangelho da
paixão, nós vemos que as suas últimas palavras foram: “Tudo está consumado”.
Isto é, cumpri minha missão. Fiz tudo o que o Pai me havia pedido. Nós estamos
mergulhados em um mundo pecador, mas nele temos a missão de ser luz, e de cada
um de nós cumprir bem a sua vocação, perseverando até o fim. “Tende em vós os
mesmos sentimentos de Cristo Jesus” (Fl 2,6).
Jesus
não procurou sofrimentos, o que ele queria era fazer a vontade do Pai. Nós
também não procuramos sofrimento, mas estamos firmes no desejo fazer a vontade
do Pai, mesmo que isto nos custe a morte.
Jesus
não ficou em cima do muro diante dos pecadores, mas tomou posição em favor da
verdade, da justiça e do respeito aos mandamentos de Deus. Nós, igualmente,
vamos até denunciar o que virmos de errado, mesmo que praticado por pessoas
poderosos que podem nos prejudicar. A nossa fidelidade é até o fim da nossa
vida. “Tudo está consumado”.
Algumas
palavras de Jesus nos orientam: “A verdade vos libertará.” “Porque não és frio
nem quente, estou para vomitar-te da minha boca.” “Se alguém se envergonhar de
mim, eu também me envergonharei dele.”
Outras
virtudes que vemos em Jesus, ao ouvirmos a proclamação da sua paixão: 1) No
meio da crise, ele rezou, buscando a ajuda de Deus Pai. 2) Perdoou a todos os
que o maltratavam e morreu sem mágoa de ninguém. 3) Caiu muitas vezes, mas se
levantou, e a morte o encontrou em pé. “Tende em vós os mesmos sentimentos de
Cristo Jesus”.
A
oposição a Jesus foi gradativa. Começou no seu primeiro discurso em Nazaré,
quando quiseram jogá-lo morro abaixo.
As
autoridades tentaram ignorá-lo, não deu certo; tentaram jogar o povo contra
ele, não deu certo; tentaram cooptá-lo, convidando para refeições nas casas dos
chefes, não deu certo, pois Jesus criava constrangimento durante a própria
refeição, como o caso da pecadora que veio chorar aos seus pés; tentaram
discutir com ele em público, mas Jesus sempre vencia, como caso da mulher de
sete maridos, a questão do imposto a César, o caso da mulher adúltera...
A
morte de Jesus foi bolada de tal modo que ninguém assumiu o crime: as
autoridades judaicas passaram para a autoridade romana; esta pediu para o povo
decidir, e lavou as mãos. Como o povo é anônimo, quem condenou ficou também
anônimo. Na verdade ele carregou os nossos crimes e morreu em nosso lugar.
Jesus
até ridicularizou a sua condenação: “Eu vos mostrei muitas obras boas; por qual
delas me quereis matar?”
Os
verdadeiros motivos por que mataram a Jesus foram: 1) Ele estava se tornando
uma ameaça aos ganhos fáceis e a corrupção que havia, inclusive dentro do Templo.
2) Ele era pobre; se fosse rico, não teria sido condenado. 3) Ele não apelou
para alguém importante. 4) Não mudou o seu discurso diante das ameaças de
morte; pelo contrário, mostrou o próprio pecado de condená-lo.
“Vejam:
O Messias será como o fogo do fundidor. Será como o sabão das lavadeiras. Ele
vai sentar-se como aquele que refina a prata. Vai purificar os filhos de Levi,
como a prata, para que possam apresentar a Deus uma oferenda que seja de acordo
com a justiça (Ml 3,2-3). Os sofrimentos servem para nos purificar, a fim de
que sejamos uma prata pura diante de Deus.
É
interessante um detalhe do fundidor de prata. Ele fica olhando, para que a
prata não passe do ponto. E o ponto é quando ele vê o seu próprio rosto
refletido na prata. Este é o sinal e que ela está pura. O sofrimento produz em
nós o mesmo efeito do fogo purificando a prata. Ele vai queimando tudo o que é
impuro em nós. Quando Deus, ao nos olhar, vê o seu rosto refletido em nós, aí
sim, estamos purificados. Jesus também passou por essa purificação, para nos
dar o exemplo.
Certa
vez, uma paróquia estava celebrando cinqüenta anos de existência, e os jovens
resolveram apresentar uma dramatização. Foi a seguinte:
O
palco estava vazio, entrou uma moça e começou a falar do profeta Samuel. Enquanto
ela falava, veio um rapaz do meio do povo, que tinha na camisa a palavra
Samuel. “Acontece que Samuel morreu” disse a apresentadora. Nesta hora o rapaz
deitou-se no chão.
Ela
começou a falar de Judite e dos grandes feitos dela. Veio a Judite, que também
morreu, deitando-se no chão.
Ela
citou o rei Davi e suas qualidades. Apareceu Davi, que também morreu. E assim
ela foi citando: A rainha Ester, Jesus, S. Pedro...
Em
seguida, a apresentadora citou vários cristãos da paróquia, que foram grandes
catequistas e evangelizadores, mas que também já morreram. E ela perguntou: “E
agora, a evangelização na nossa paróquia morreu com eles?”
Neste
momento, veio do meio do povo uma jovem, subiu no palco e disse: “Nós aqui
somos os continuadores desses que nos precederam. E mais: Nós não vamos deixar
apagar a memória deles”. E os dois foram levantando, um por um, todos os que
estavam deitados.
“Como
o Pai me enviou, eu vos envio”, disse Jesus. Que nós também possamos dizer como
ele disse: “Tudo está consumado”.
Campanha
da fraternidade. Em meio ao mundo violento, o cristão deve ser como o bom
samaritano da parábola, isto é, dar a mão às vítimas, fazendo o que está ao seu
alcance. Assim, os “feridos” terão pelo menos uma certeza: tenho irmão, uma
irmã ao meu lado.
Maria
Santíssima não morreu, mas também foi para o céu. No seu momento mais difícil,
que foi a morte do seu Filho, certamente ela pensava: “Meu Filho, o que você
poderia ter feito por este povo e não fez? Você lhes deu a vida e eles lhe
deram a morte; você os salvou, eles o mataram! Mas sei que você se sente
realizado, porque fez o que mais queria: a vontade de Deus Pai. Por isso eu
também assumo esta minha dor, Filho. E mais: atendendo ao seu pedido, quero ser
a Mãe de todos os seus discípulos.”
Tudo
está consumado.
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