8
de Abril de 2015-Evangelho
- Lc 24,13-35
Naquela
hora de desespero, alguém se aproxima e começa a caminhar com eles. Uma simples
pergunta do novo companheiro os faz parar: De que estais falando? Não é
possível que exista uma única pessoa neste país que desconheça os fatos cruéis
da semana passada! Poderia ser a primeira reação. Mas logo aproveitam para
partilhar a dor, a saudade, a frustração. Corriam notícias sobre o túmulo vazio
e a aparição de anjos. Mesmo assim continuam inconsoláveis e reclamam: Ninguém
viu Jesus!
Como sois sem inteligência e lentos para crer
em tudo o que os profetas falaram! Que voz é esta? Os dois a conhecem. Soa-lhes
tão familiar! Embora os olhos permaneçam vedados e a razão obscurecida, o
coração se abre, se dilata, começa a arder no peito. Ninguém jamais falou como
esse homem! responderam até os guardas, tempos atrás encarregados de prender
Jesus. Nem estes homens rudes conseguiram resistir às suas palavras! As
multidões ficaram extasiadas com o seu ensinamento, porque as ensinava com
autoridade. Toda experiência do convívio com o Mestre nos anos que passaram
emerge do fundo da alma, vem, de repente, à tona enquanto o companheiro de
viagem explica as passagens da Escritura, evocando Moisés e os Profetas. Sua
fala pelo caminho alivia a dor, derrete a saudade, afoga o desânimo. Não querem
deixá-lo ir adiante quando chegam ao destino. “Fica conosco, pois já é tarde e
a noite vem chegando! É como se dissem: A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras
de vida eterna! A solidão machuca. Ficar novamente só, fará reaparecer a
tristeza e a dor. “Fica conosco!“ é o pedido insistente, dirigido a quem ainda
não reconhecem. No fundo do coração, porém, já experimentam a alegria que
tantas vezes sentiam quando o Mestre lhes falava.
“Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem
chegando!“ “Tu tens palavras de vida eterna!“ O companheiro do caminho para
Emaús não abandonou os discípulos! “Entrou para ficar com eles. Sentou-se à
mesa com os dois, tomou o pão e abençoou, depois o partiu e deu a eles“ (Lc
24,29-30). E na fração do pão acontece o milagre da Páscoa: os dois reconhecem
o Mestre. Vêem as mãos perfuradas e aquele inigualável semblante do Filho de
Deus. Mas, ao mesmo tempo, Ele “tornou-se invisível“ (Lc 24,31) .
Ficou o pão partido e uma taça de vinho
partilhada. Ficaram as palavras que fizeram arder os corações. Ficou a
inebriante alegria em que Ele transformou o desespero dos discípulos. Agora não
é mais necessário ver Jesus com os olhos do corpo. Com a experiência que
tiveram em Emaús, os discípulos encarregar-se-ão de anunciá-lo e testemunhá-lo
pelo mundo afora.
Nos momentos difíceis grite como os dois
Apóstolos: “Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!” Ele entra
para ficar com eles. À mesa, Jesus toma o pão, abençoa e lhes dá. “Seus olhos
se abriram, e eles o reconheceram”. Jesus desaparece da vista deles, mas fica
no seu coração. “Não estava ardendo o nosso coração, quando ele nos explicava
as Escrituras?” A experiência é tão extraordinária, que os discípulos precisam
levar à notícia, naquela mesma noite, a Jerusalém.
No momento em que Jesus parte o pão, os
discípulos de Emaús se tornam missionários, mensageiros da Boa Nova. “Na mesma
hora eles se levantaram e voltaram para Jerusalém… e contaram o que tinha
acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus quando ele partiu o pão.
Ao distanciarem-se da comunidade, caminharam para Emaús à luz do dia, mas havia
escuridão por dentro. Depois que o Mestre se revelou, atravessam a escuridão da
noite, sem medo de tropeçar, porque o coração pulsa de alegria, cheia de luz.
Há um novo olhar, uma nova motivação, uma nova e luz no horizonte.
A missão nasce sempre de um encontro com
Jesus vivo, com o Cristo pascal. Os Evangelhos não terminam na Sexta-feira
Santa, com o Cristo morto e sepultado. O grande e retumbante final da sinfonia
é a esplêndida aurora da Páscoa, aquele deslumbrante primeiro dia da semana: o
Cristo ressuscitado, vivo, vencedor da morte, o triunfo do bem sobre o mal, a
vitória da graça sobre o pecado, a alegria do amor e da paz contra as tramas
diabólicas do ódio e da guerra. “Realmente o Senhor ressuscitou! Proclamam os
“Onze, reunidos com os outros“ em Jerusalém.
Celebramos a real presença deste Deus conosco
na Eucaristia, memória do mistério pascal, mistério da cruz e ressurreição,
mistério da redenção e reconciliação, que inicia a Nova Aliança. Em cada
Eucaristia olhamos para Deus, celebramos o Deus conosco, sua encarnação, paixão
morte e ressurreição. “É Deus Pai quem nos atrai por meio da entrega
eucarística de seu Filho, dom de amor com o qual saiu ao encontro de seus
filhos, para que, renovados pela força do Espírito, possamos chamá-lo de Pai” .
Da ação de graças, da doação gratuita do Cordeiro de Deus, emerge a energia missionária
da Eucaristia. A Eucaristia é a ponte para o ministério apostólico. Eucaristia
é Nova Aliança que pressupõe reconciliação, unidade na diversidade,
solidariedade até as últimas conseqüências.
Ao partir o pão, eles o reconhecem e retornam
ao Caminho. Nossa fé é o encontro pascal com o Senhor Jesus. É a certeza de que
ele está vivo. Nossa fé é uma fé pascal e pessoal. Não se trata apenas de crer
em alguma coisa. A profissão fundamental é: “Eu creio em Ti, Senhor! E por isso
me comprometo e me torno evangelizador.
Evangelizar, ser missionário, é irradiar “o
que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e o que nossas
mãos apalparam do Verbo da vida porque a Vida manifestou-se. Sejam quais forem nossas fraquezas,
misérias, limitações, o que contagia todas as culturas, o que convence todos os
povos e raças, é o testemunho da alegria e da graça de termos encontrado o
Senhor Ressuscitado. Tudo isso é graças à força do pão partido de Emaús, é o
vigor do fruto da videira no cálice da Nova Aliança, é o corpo entregue e o
sangue derramado de Jesus, morto e ressuscitado.
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