TERÇA FEIRA DO TEMPO COMUM 10/06/2014
1ª Leitura 1 Reis 17, 7-16
Salmo 4,7 “Fazei brilhar sobre nós, Senhor, a luz da vossa face”
Evangelho Mateus 5, 13-16
Em uma sociedade marcada
pela busca de poder, fama, prestígio e sucesso, a expressão de Jesus neste
evangelho, corre o risco de ser mal compreendida “Vocês são a Luz do mundo”,
isso por causadessa busca desenfreada de um “glamour” que contamina até nossas comunidades
onde Leigos ou mesmo o próprio Clero, todos querem ‘brilhar” naquilo que fazem,
serem referência e ostentarem um carisma que inegavelmente os coloca em
destaque perante os demais, prevalecendo nos corações envaidecidos uma única
determinação “ninguém poderá brilhar mais que eu, na paróquia”. Uma grande
parte das discussões e conflitos nas reuniões pastorais, são por conta desse
problema, que a gente vai camuflando e não quer admitir, haja visto a
melindrosidade que ocorre em certas situações “não deixaram eu fazer tal coisa,
não vou mais” ou “tiraram a minha função
sem mais sem menos” ou uma que é ainda pior “Só a “panelinha” do padre é que
tem vez na paróquia.... Tudo isso porque, muitos querem brilhar, se impor, ter
prestígio, ser consultado nas grandes decisões. Fazem com a melhor das boas
intenções, porém se algo ameaçar apagar á sua “luz”, logo se manifestam.
Essa conduta nada tem a ver
com o evangelho mas ao contrário, são influencias perniciosas á Vida de Fé, que
vem de fora da comunidade.
Ser Sal da terra e Luz do
Mundo se refere ao testemunho cristão, não aquele dado na igreja, por ocasião
de um retiro, mas aquele do dia a dia, onde em qualquer ambiente o SER CRISTÃO
deve fazer a diferença, sua presença discreta, como uma pitada de sal, mas que
contagia a todos.
Provoquei minha equipe de
teólogos da comunidade, que me ajudam nas reflexões, a apresentarem exemplos de
pessoas com esse perfil, pois se é verdade que nas comunidades cristãs há
pessoas vaidosas, querendo brilhar e ser sempre “paparicadas”, há também alguns
cristãos, dos quais a gente sente orgulho de chamar de irmãos, que na
comunidade pouco aparecem pois são muito discretos, estão na assembléia,
atentos a Palavra, sequiosos pelo alimento que lhes dá coragem de perseverar.
Minha equipe trabalhou bem e trouxe-me alguns casos que ilustram esse
evangelho.
A catequista Vera contou da
Filha da Tiana, 17 anos de idade, auxiliar na catequese e participante do grupo
de jovens, o namorado “forçou a barra” prá cima dessa jovem, e ela, com muita
classe o ‘despachou”, e diante do argumento dele, de que todas as meninas
“ficam” porque é uma coisa normal, a jovem disse que a sua referência não era o
costume ou a moda, mas sim o evangelho de Jesus Cristo. Na patota teve gente
que achou caretice, e até se afastaram dela,
mas algumas meninas admiraram a atitude corajosa dessa jovem, e
começaram a ter mais amizade com ela a partir desse dia.
Ainda na comunidade, falaram
do Miro Motoqueiro, que entrega pizzas á noite, fatura menos que os outros porque
respeita os sinais de Trânsito, não trafega na contra mão, e não esconde a
placa da moto ao passar em alta velocidade no radar, mas obedece a velocidade
estabelecida. Os outros ganham mais, são mais ligeiros e velozes porque burlam
a lei, e certamente nesse mercado são mais competitivos,“Eu acho que o Miro é
sal da terra, porque é diferente dos outros” – concluiu Vera, a catequista.
E por fim citaram a Dona
Maria, uma nortista que tem até fama de “enfezada” que mora na área verde,
freqüenta comunidade, o marido vive bêbado e ela o trata com carinho e
respeito, se desdobra para sustentar os três filhos e dia desses chamou a
atenção de um traficante que estava “passando a conversa” no seu “caçula” de 12
anos, para ele ser “mula” no tráfico.
As vizinhas até chamaram a
atenção da Dona Maria, que aquilo era perigoso, comprar briga com o traficante,
e que ele até estava ajudando o moleque oferecendo-lhe trabalho, mas Dona Maria
bateu o pé, e falou que se o traficante rodear sua casa vai chamar a polícia e
botar ele prá correr, e que não tem medo de ameaças, porque tendo sua Fé em
Jesus Cristo, combate a favor do Bem que é mais forte que o Mal, e mais ainda,
que com ela não tem esse negócio de “lei do Silêncio”, porque a comunidade da
área verde, não pode submeter-se ao Tráfico.
A gente logo imagina, quando
meditamos esse evangelho, que ser Sal da Terra, Luz do Mundo e uma Cidade
edificada no alto do monte, seja ser piedoso, assíduo freqüentador da igreja,
cumpridor de todos os deveres com Deus e a igreja. Claro que essas coisas
implicam também, mas Jesus está falando das atitudes dos seus discípulos no
meio da sociedade, e esses três exemplos que os meus colaboradores falaram,
está de muito bom tamanho, Cristão com “C” maiúsculo, é aquele ou aquela que
“Faz a diferença”, com uma atitude e um comportamento que chama a atenção das
pessoas.
Essas pessoas não são ricas,
influentes ou importantes na comunidade, aliás, nenhuma delas tem algum cargo
de coordenador, mas com atitudes assim se tornam colunas de sustentação da
comunidade, pois, fortalecidas com a Palavra e a Eucaristia, testemunham com
coragem e ousadia o santo evangelho, e não cedem ou se intimidam, com as forças
do mal, presente na sociedade.
Tem muita gente assumindo
ares de Cristão, escondida na igreja, nas pastorais e movimentos, mas no
ambiente de trabalho, na escola, na política, nos esportes, no namoro, enfim,
fora da igreja e do seu grupo, preferem ficar no anonimato, sem compromisso com
a ética ou com a moral, são os cristãos de fim de semana, que depois do “ide em
Paz e que o Senhor os acompanhe”, caem no “Vale Tudo”, acendendo uma vela para
Deus e outra para o Diabo.
Ser Sal da Terra e Luz do
mundo é ter atitude que contraria os usos e costumes da pós modernidade, nada
se ganha com isso, ao contrário, perde-se, veja os exemplos citados, o Miro
Motoqueiro deixa de faturar mais, por respeitar a legislação do trânsito, a
Dona Maria corre um grande risco ao desafiar o traficante que manda na área
verde, a filha da Tiana perdeu o namorado e algumas amigas.
E a minha equipe de teólogos
da comunidade concluiu de maneira brilhante a reflexão: os Cristãos do tipo “Maria vai com as
outras, ouVaquinha de Presépio, não são e nunca serão, Sal da Terra e Luz do
Mundo... Acho que têm toda razão, e digo mais, são também o Sal insosso, que
perdeu o seu sabor, são também uma lâmpada queimada, e uma cidade no fundo do
vale, que ninguém vê e nem toma conhecimento.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mailcruzsm@uol.com.br
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