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Janeiro 2020
Tempo Comum - Anos Pares III Semana -
Terça-feira
Lectio
Primeira leitura: 2 Samuel 6, 12b-15.17-19
12Disseram ao rei que o Senhor abençoara a
casa de Obededom e todos os seus bens por causa da Arca de Deus. Foi, pois,
David e transportou-a da casa de Obededom para a Cidade de David, com grande
regozijo. 13E a cada seis passos que davam os que transportavam a Arca do
Senhor, sacrificavam um boi e um carneiro. 14David, cingindo a insígnia votiva
de linho, dançava com todas as suas forças diante do Senhor. 15O rei e todos os
israelitas conduziram a Arca do Senhor, soltando gritos de alegria e tocando
trombetas. 17Introduziram a Arca do Senhor e colocaram-na no seu lugar, no
centro do tabernáculo que David construíra para ela; e David ofereceu
holocaustos e sacrifícios de comunhão diante do Senhor. 18Quando David acabou
de oferecer holocaustos e sacrifícios de comunhão, abençoou o povo em nome do
Senhor do universo 19e distribuiu alimentos a toda a multidão dos israelitas,
homens e mulheres, dando a cada pessoa, um bolo, um pedaço de carne assada e
uma filhó. Depois, toda a multidão se retirou, indo cada um para a sua casa.
Os centros de culto tradicionais eram Siquém,
Betel, Guilgal, Mambré, Bersabé, entre outros. Jerusalém fora pagã até ontem.
Daí o interesse de David em rodeá-la com uma aura religiosa. Nada melhor que
torná-la sede da Arca da Aliança. A Arca da Aliança continha as tábuas da Lei
dadas por Deus a Moisés, no Sinai. Era símbolo da presença de Javé no meio do
seu povo. Por isso, o tinha acompanhado nas peregrinações pelo deserto, até à
conquista da Terra, e durante a guerra com os filisteus. O transporte da Arca
para Jerusalém é ocasião de festa para o povo e para o rei: David manifesta
abertamente a sua alegria dançando, cingido com o efod, a veste sagrada dos
sacerdotes. Como ainda não há o templo, a Arca é colocada numa tenda, sinal da
mobilidade do povo e do próprio Deus, que recorda aos Israelitas que não podem
apoderar-se da presença de Deus, fazendo-o como que prisioneiro. Os
holocaustos, os sacrifícios de comunhão e a refeição sagrada - o pão, a carne,
as uvas - distribuídos por David a todos selam a cerimónia. A Arca instrumento
de batalha durante a guerra contra os filisteus, torna-se sinal de paz e de
prosperidade. A partir de David, Jerusalém torna-se uma referência fundamental
para o judaísmo e, mais tarde também para o cristianismo e para o islamismo.
Evangelho: Mc 3, 31-35
31Nisto chegam sua mãe e seus irmãos que,
ficando do lado de fora, o mandam chamar. 32A multidão estava sentada em volta
dele, quando lhe disseram: «Estão lá fora a tua mãe e os teus irmãos que te
procuram.» 33Ele respondeu: «Quem são minha mãe e meus irmãos?» 34E,
percorrendo com o olhar os que estavam sentados à volta dele, disse: «Aí estão
minha mãe e meus irmãos. 35Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu
irmão, minha irmã e minha mãe.»
Depois do julgamento do «tribunal» de
Jerusalém, vem o julgamento dos «seus», conterrâneos e parentes, que dizem que
Ele está louco. Alguns autores vêem neste texto ecos de uma desconfiança que
existia em relação à comunidade judeo-cristã de Jerusalém, cujo bispo era
Tiago, «irmão» do Senhor, pertencente ao grupo de Nazaré, cuja hostilidade para
com o Senhor é sublinhada por Marcos (cf. 6, 3). Os parentes do Senhor
lideravam a igreja de Jerusalém e também há quem veja no texto de Marcos
resíduos de uma polémica contra o perigo do nepotismo na Igreja. Como quer que
seja, não podemos ver neste texto qualquer atitude de menosprezo pela Mãe, nem
pelos afectos humanos. Marcos não trata desses temas, mas aproveita o ensejo
para criar uma situação paradoxal que dá maior realce aos vv. 34s., que são o
cume do episódio. Todos quantos rodeiam Jesus, ainda que simples curiosos,
discípulos hesitantes ou apóstolos tardos em compreender, ou mesmo traidores,
são mãe e irmãos. Ser irmão de Jesus, não é questão de sangue, de mérito, mas
de graça: «Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha
irmã e minha mãe», por que se torna «filho de Deus».
Meditatio
A Arca da Aliança, recebida em casa de Obedon,
um estrangeiro, torna-se fonte de bênçãos para ele. Por isso, David decide
levá-la para Jerusalém, recentemente conquistada aos jebuseus. Transporta-a com
manifestações de grande alegria e oferecendo vários sacrifícios a Deus.
Colocada na tenda, oferece holocaustos e sacrifícios de comunhão. E todo o povo
participa na festa, comendo bolos, carne e filhós. Somos inclinados a ver o
sacrifício como privação, como algo que nos faz sofrer. Na primeira leitura, o
sacrifício aparece-nos como alegria, festa, exultação. David, enquanto
transporta a Arca, e já em Jerusalém, oferece sacrifícios com grande alegria
para ele e para todo o povo. O verdadeiro sacrifício não é privação, mas um
acto positivo, uma oferta a Deus. E quando oferecemos algo a uma pessoa a quem
queremos bem, a eventual privação é secundária para nós. O mais importante é a
satisfação de oferecer. O sacrifício é uma oferta a Deus. Como pode ser algo de
triste? Se pensarmos melhor, todo o sacrifício oferecido a Deus, é um dom do
próprio Deus para nós. Ao fim e ao cabo, é Ele que nos torna capazes de
oferecer sacrifícios. O autor da Carta aos Hebreus diz-nos que Jesus «por um
Espírito eterno ofereceu a Si mesmo sem mancha, a Deus" (Heb 9, 14). Só o
Espírito Santo é capaz de nos animar para o sacrifício e de tornar sagradas
(sacrum facere) as nossas oferendas. Os sofrimentos são realidades negativas.
Só quando Deus as transforma pela sua graça é que se tornam gestos de
generosidade e de amor. Além disso, o sacrifício, oferta a Deus, não inclui
necessariamente o sofrimento. Todas as nossas alegrias podem e devem tornar-se
ofertas a Deus para serem alegrias santas e não apenas humanas. As nossas
alegrias, as nossas satisfações, as coisas boas da vida, o bem que recebemos,
podem e devem tornar-se oblação santa e agradável a Deus. O acolhimento da Arca
em casa de Obedon, um estrangeiro, trouxe-lhe as bênçãos de Deus. O acolhimento
do Evangelho cria uma familiaridade com Jesus superior à dos simples laços de
sangue. A simplicidade com que David sabe reconhecer sem ciúmes os sinais da
graça do Senhor na casa de Obedon, e a clareza com que Jesus define quem são os
seus familiares, devem tornar-nos atentos ao essencial, e disponíveis a
entregar-nos sem preconceitos ao louvor de Deus e ao acolhimento e cumprimento
da sua vontade. David dança pelo caminho como um homem qualquer; quem quer que
escute a Palavra de Jesus e a ponha em prática, torna-se «irmã, ir mão e mãe»
d´Ele. As nossas Constituições indicam-nos "como o único necessário, uma
vida de união à oblação de Cristo" (n. 26). A matéria desta oblação somos
nós mesmos. Por carisma, dom do Espírito Santo, oferecemo-nos a Deus em
castidade, pobreza e obediência, vivendo em comunidade, ao serviço da missão da
Igreja, solidários com os pequenos e pobres. A Eucaristia é modelo e forma da
nossa oblação: "neste sacrifício da Nova Aliança, unimo-nos à oblação
perfeita que Cristo oferece ao Pai, para fazê-la nossa, pelo sacrifício
espiritual das nossas vidas» (Cst 81). Um sacrifício espiritual, isto é,
animado pelo Espírito, só pode ser feito na alegria.
Oratio
Senhor, dá-me um coração capaz de acolher os
sinais da tua presença, capaz de acolher e cumprir a tua vontade. Que a tua
Palavra, acolhida na alegria, ocupe sempre um lugar de honra no meu coração.
Então serei capaz de reconhecer como irmãs e irmãos todos quantos cumprem a
vontade do Pai, sem me abandonar a preconceitos de qualquer espécie. Então
serei capaz de me oferecer e oferecer com alegria tudo quanto vivo, realizo e sofro,
fazendo da minha vida e da minha morte uma oblação santa e agradável a Deus.
Amen.
Contemplatio
Deus enviou o seu filho à terra, para que seja
o seu sacerdote, para que o glorifique no seu coração sacerdotal. Nosso Senhor
foi sacerdote desde a sua incarnação. Recebeu com a união hipostática a unção
sacerdotal. O seu coração foi desde então um coração de sacerdote. Ofereceu-se
imediatamente em holocausto e pronunciou o seu Ecce venio. Mas foi no Templo
que teve lugar o primeiro acto exterior da sua oblação. É feita pelos seus pais
e pelo sacerdote, mas o seu Coração sacerdotal ratifica-a. Oferece-se ao seu
Pai, dá-se. Aniquilou-se pela incarnação, humilhar-se-á por uma vida toda de
obediência, de trabalho e de pobreza; consumará o seu sacrifício pela sua
paixão e pela sua morte. O sacerdote apresenta-o a Deus e coloca-o sobre o
altar. Jesus repete no seu coração o Ecce venio da sua incarnação: Eis-me aqui,
diz de novo ao seu Pai, eis-me aqui para fazer a vossa vontade, eis-me aqui
para suprir às hóstias e aos holocaustos que já não quereis. - Tem em vista
todos os fins do sacrifício. A oblação do seu coração é um acto de religião
infinito. É simultaneamente um acto de adoração, de acção de graças, de
reparação e de oração. Mas a nossa fraca inteligência não se dá conta da
perfeição desta oblação senão supondo actos distintos e sucessivos. Nós vemos
primeiro no Coração sacerdotal de Jesus um acto de adoração e para exprimir
esta adoração aniquilamentos infinitos. Nosso Senhor confessa a absoluta
dependência na qual se encontra diante da infinita Majestade do seu Pai.
Proclama que lhe deve tudo e, /124 para lhe fazer um sacrifício de tudo o que
é, abaixa-se até ao nada, como diz S. Paulo, porque é exactamente nada esta
natureza humana tomada na sua pobreza, na sua infinita pequenez, com a carga de
todos os pecados dos homens e a espera da morte. Mas mais o Verbo de Deus se
abaixa, mais nós devemos exaltá-lo com os nossos louvores (Leão Dehon, OSP 3,
p. 123s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha
mãe» (Mc 3, 35).
| Fernando Fonseca, scj |
Obrigado Senhor, Obrigado Dehonianos!!!
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