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Janeiro 2020
Tempo Comum - Anos Pares III Semana -
Quinta-feira
Lectio
Primeira leitura: 2 Samuel 7, 18-19.24-29
18Então, David foi apresentar-se diante do
Senhor e disse-lhe: «Quem sou eu, Senhor Deus, e quem é a minha família, para
que me tenhas conduzido até aqui? 19E, como se isto fosse pouco para ti, Senhor
Deus, Senhor Deus, fizeste também promessas à família do teu servo para os
tempos futuros! Porque esta é a lei do homem, ó Senhor Deus! 24Estabeleceste
solidamente o teu povo, Israel, para ser eternamente o teu povo, e Tu, Senhor,
seres o seu Deus. 25Agora, pois, Senhor Deus, cumpre para sempre a promessa que
fizeste ao teu servo e à sua casa e faz como disseste. 26O teu nome será
exaltado para sempre e dir-se-á: 'O Senhor do universo é o Deus de Israel. E
permanecerá estável diante de ti a casa do teu servo David. 27Porque Tu
próprio, ó Senhor do universo, Deus de Israel, fizeste ao teu servo esta
revelação: 'Eu te construirei uma casa.' Por isso, o teu servo se animou a
dirigir-te esta prece. 28Agora, ó Senhor Deus, só Tu és Deus, e as tuas
palavras são a própria verdade. Já que prometeste ao teu servo estes bens,
29abençoa, desde agora, a sua casa, para que ela subsista para sempre diante de
ti: porque Tu, Senhor Deus, falaste e, graças à tua bênção, a casa do teu servo
será abençoada eternamente.»
Depois das promessas de Deus em relação a
David, à sua descendência e a todo o povo (na primeira parte de 2Sam 7), o rei
toma a palavra e pronuncia uma oração de louvor e de acção de graças. A oração
é repetitiva e redundante: os conceitos «casa», «Senhor Deus» (Adonai Yahveh), «servo»,
«falar», «palavra» «eternamente», repetem-se várias vezes. Mas essa repetição
acentua claramente as ideias principais nela expressas. Entre elas sobressai o
conceito de «palavra»: promessa feita a David por meio de Natan; palavra eficaz
e fonte de esperança nos momentos difíceis da história. As razões pelas quais
Deus recusa a construção do templo por David não estão muito claras. Mas o rei
aceita a anulação dos seus projectos para que se realizem os de Deus: «Quem sou
eu, Senhor Deus, e quem é a minha família, para que me tenhas conduzido até
aqui?». Esta submissão e esta humildade aparecem nos relatos bíblicos de
vocação (cf. Ex 3, 11; Jz 6, 15; Jer 1, 6). A confiança de David apoia-se na
memória das obras de Deus em favor do seu povo. David põe-se em sintonia com a
palavra do Senhor, pedindo que ela se realize. Deus é fiel. É na fidelidade que
se revela a sua grandeza. Uma vez que o Senhor «falou», não há que hesitar: «a
casa do teu servo será abençoada eternamente», conclui David.
Evangelho: Mc 4, 21-25
21Disse-lhes ainda: «Põe-se, porventura, a
candeia debaixo do alqueire ou debaixo da cama? Não é para ser colocada no
candelabro? 22Porque não há nada escondido que não venha a descobrir-se, nem há
nada oculto que não venha à luz. 23Se alguém tem ouvidos para ouvir, oiça.» 24E
prosseguiu: «Tomai sentido no que ouvis. Com a medida que empregardes para
medir é que sereis medidos, e ainda vos será acrescentado. 25Pois àquele que
tem, será dado; e ao que não tem, mesmo aquilo que tem lhe será tirado.»
Depois da parábola do semeador, Marcos
apresenta-nos dois pares de breves sentenças. O Evangelho é para todos na
comunidade. Por isso, deve ser colocado «no candelabro». Se alguém cair na
tentação de o guardar ciosamente para si, então ser-lhe-á tirado. A Sagrada
Escritura não é privilégio só para alguns, mas é para todos. Por isso, deve ser
posta ao alcance de todos. A fé recebida por mim deve ser posta ao serviço da
minha comunidade e de todos os homens. No primeiro par de sentenças, a imagem
da lâmpada que deve ser exposta sobre o candelabro é desenvolvida por duas
antíteses paralelas: o que está escondido há-de ser descoberto, o que está
oculto há-de vir à luz. O Reino, ainda que, por enquanto, seja anunciado em
parábolas, depressa virá à luz na sua glória, e o Evangelho será anunciado a
todos os povos. No segundo par de sentenças, a antítese volta-se para a
condição interna da comunidade: a imagem da medida insinua a proibição de
julgar os outros; a segunda sentença está mais ligada à parábola do semeador: «aquele
que tem» corresponde à «boa terra», que acolhe a palavra e lhe permite produzir
fruto.
Meditatio
As sentenças de Jesus que Marcos nos apresenta
hoje vêm logo depois da parábola do semeador, e ajudam-nos a compreendê-la. A
semente é, sem dúvida, a Palavra de Deus. Daí a insistência de Jesus: «Se
alguém tem ouvidos para ouvir, oiça»... «Tomai sentido no que ouvis. » (cf. Mc
4, 23-24). Um bom acolhimento da Palavra, alcança graças mais abundantes.
David, ao acolher a Palavra do Senhor, alcança a bênção e a promessa da
estabilidade da sua casa: «Tu, Senhor Deus, falaste e, graças à tua bênção, a
casa do teu servo será abençoada eternamente» (2 Sam 7, 29). Esta estabilidade
não consiste tanto na glória ou no sucesso político da dinastia davídica, mas
mais na solidez na fé e na correspondência ao desígnio de Deus sobre o seu
povo. E isto é fruto de graça. David tinha um bom projecto, o melhor que um
homem pode conceber: construir um templo para Deus, isto é, ocupar-se com a sua
glória, esquecendo a si mesmo. A recusa de Deus poderia causar-lhe desilusão.
Mas, em vez disso, o jovem rei põe de parte o seu projecto e acolhe a Palavra
de Deus. Um belo exemplo para nós, mas difícil de seguir! Quantas vezes nos
agarramos a projectos que julgamos bons e até inspirados por Deus. E que
dramas, quando a vontade do Senhor se mostra diferente! David, não se deixa
cair na desilusão, no desânimo. Pelo contrário, pede a Deus que cumpra a sua
promessa: «Só Tu és Deus, e as tuas palavras são a própria verdade... Tu,
Senhor Deus, falaste e, graças à tua bênção, a casa do teu servo será abençoada
eternamente» (cf. 2 Sam 7, 28-29). Desde muito jovem, e ainda antes de entrar
no seminário, o Pe. Dehon dava grande importância à "escuta da
Palavra", como testemunham os dois primeiros cadernos do seu
"Diário". Quase todos os conteúdos das suas notas têm a sua raiz na
Escritura. As citações são tomadas sem qualquer diferença tanto do Antigo como
do Novo Testamento. Em 138 páginas manuscritas contamos 210 citações da Sagrada
Escritura. A sua preferência vai para S. João (57 vezes) e para S. Paulo (38
vezes). Preparado pela "escuta da Palavra&rdquo ;, meditada e
assimilada, Leão Dehon está preparado para viver o espírito de abandono e de
imolação que o caracteriza. Não hesita em pôr de parte projectos e interesses
pessoais, para fazer o que se lhe apresenta como vontade de Deus. «Ecce venio»,
«Fiat» são seus motes preferidos. Como Cristo, Leão Dehon não hesita em
oferecer-se, em imolar-se por amor, chegando a emitir o voto de vítima, para reviver
o sacerdócio e o sacrifício de Cristo, Vítima divina, e alargar o seu
"Reino nas almas e na sociedade" (Cst 4).
Oratio
Senhor, dá-me a graça de saber sempre
renunciar corajosamente aos meus projectos, ainda que os julgue bons, para
acolher a tua vontade onde, como e quando se revelar. Só o teu projecto é força
de vida, é semente capaz de originar uma grande árvore, enquanto os projectos
humanos são efémeros. Enche-me de confiança em Ti para realizar o que me
pedires, sem me deixar tomar pela ansiedade e pela angústia de não me sentir à
altura dos projectos em que me queres envolver. Que eu reconheça sempre a
grandeza do teu Nome, e não me orgulhe pelas bênçãos com que vais cumulando ao
longo da vida. Amen.
Contemplatio
Jesus quis ser o nosso modelo até nas
tentações. Quis passar pelas diversas tentações que podem assaltar a nossa
alma. Satanás começa por lhe propor mudar pedras em pão, para satisfazer o seu
apetite... Jesus responde a esta tentação e às outras com frases da Sagrada
escritura. Indica-nos assim qual é o objecto das suas meditações na solidão e
como devemos procurar a nossa força na palavra de Deus. Está escrito, responde,
que o homem não vive só de pão, mas também da palavra divina» (Dt 7, 3). Em
toda a sua vida, Jesus abandonar-se-á à divina Providência para tudo o que lhe
concerne e não fará nenhuma concessão à sensualidade. Oh! Quanto tenho a fazer
a este respeito! Como sou fraco e inclinado a procurar mil satisfações! O
remédio está na união com Nosso Senhor, na meditação assídua da sua palavra e
dos seus mistérios. Enquanto o nosso coração não estiver fortemente agarrado ao
Coração de Jesus e bem apaixonado pelo seu amor, deixar-se-á seduzir pelas
satisfações sensuais (Leão Dehon, OSP 3, p. 225).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Só Tu és Deus, e as tuas palavras são a própria verdade» (cf. 2 Sam 7, 28).
| Fernando Fonseca, scj |
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