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Fevereiro 2020
Tempo Comum - Anos Pares
III Semana - Sábado
Lectio
III Semana - Sábado
Lectio
Primeira leitura: 2 Samuel 12, 1-7a.10-17
1O Senhor enviou então Natan a David. Logo que
entrou no palácio, Natan disse-lhe: «Dois homens viviam na mesma cidade, um
rico e outro pobre. 2O rico tinha ovelhas e bois em grande quantidade; 3o
pobre, porém, tinha apenas uma ovelha pequenina, que comprara. Criara-a, e ela
crescera junto dele e dos seus filhos, comendo do seu pão, bebendo do seu copo
e dormindo no seu seio; era para ele como uma filha. 4Certo dia, chegou um
hóspede a casa do homem rico, o qual não quis tocar nas suas ovelhas nem nos
seus bois para preparar o banquete e dar de comer ao hóspede que chegara; mas
foi apoderar-se da ovelhinha do pobre e preparou-a para o seu hóspede.» 5David,
indignado contra tal homem, disse a Natan: «Pelo Deus vivo! O homem que fez
isso merece a morte. 6Pagará quatro vezes o valor da ovelha, por ter feito essa
maldade e não ter tido compaixão.» 7Natan disse a David: «Esse homem és tu!
Isto diz o Senhor, Deus de Israel: 'Ungi-te rei de Israel, salvei-te das mãos
de Saul, 10Por isso, jamais se afastará a espada da tua casa, porque me
desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o hitita, para fazer dela tua esposa'.
11Eis, pois, o que diz o Senhor: 'Vou fazer sair da tua própria casa males
contra ti. Tomarei as tuas mulheres diante dos teus olhos e hei-de dá-las a
outro, que dormirá com elas à luz do Sol! 12Pois tu pecaste ocultamente; mas Eu
farei o que digo diante de todo o Israel e à luz do dia!'» 13David disse a
Natan: «Pequei contra o Senhor.» Natan respondeu-lhe: «O Senhor perdoou o teu
pecado. Não morrerás. 14Todavia, como ofendeste gravemente o Senhor com a acção
que fizeste, morrerá certamente o filho que te nasceu.» 15E Natan voltou para
sua casa. O Senhor feriu o menino que a mulher de Urias havia dado a David com
uma doença grave. 16David orou a Deus pelo menino; jejuou e passou a noite
prostrado por terra. 17Os anciãos da sua casa, de pé junto dele, pediam-lhe que
se levantasse do chão, mas ele não o quis fazer nem tomar com eles alimento
algum.
Morto Urias, David tomou para si Betsabé. Tudo
parecia correr bem a David. Mas Deus está atento e vê tudo, não só os planos
mais secretos do homem, mas também o que se passa no seu coração. Natan,
enviado por Deus ao rei, denuncia-lhe os crimes, recorrendo à célebre parábola
do homem rico, que toma para si a única ovelha do seu vizinho pobre. David, rei
justo, não hesita em pronunciar, indignado, a sentença condenatória. Só que o
profeta remata, dizendo: «Esse homem és tu!». David reconhece o seu pecado e a
súplica de arrependimento, que brota do seu coração, encontra expressão no
Salmo 50, certamente posterior, mas acertadamente posto na boca do rei pecador.
Mas o drama continua. Deus perdoa a David. Não o rejeita como fez com Saul. Mas não faltará o castigo: a criança, filha do adultério, adoece e morre, tal como hão-de morrer de forma violenta outros filhos de David (Amnon, Absalão, Adonias...). Todavia a oração, que brota dos lábios de David, revela, não só o seu amor pelo filho, e por Betsabé, mas também a confiança do rei na oração: clama, geme, jejua, prostra-se por terra e tenta forçar, qual novo Abraão, a misericórdia de Deus.
Mas o drama continua. Deus perdoa a David. Não o rejeita como fez com Saul. Mas não faltará o castigo: a criança, filha do adultério, adoece e morre, tal como hão-de morrer de forma violenta outros filhos de David (Amnon, Absalão, Adonias...). Todavia a oração, que brota dos lábios de David, revela, não só o seu amor pelo filho, e por Betsabé, mas também a confiança do rei na oração: clama, geme, jejua, prostra-se por terra e tenta forçar, qual novo Abraão, a misericórdia de Deus.
Evangelho: Mc 4, 35-41
35Naquele dia, ao entardecer, disse: «Passemos
para a outra margem.» 36Afastando-se da multidão, levaram-no consigo, no barco
onde estava; e havia outras embarcações com Ele. 37Desencadeou-se, então, um
grande turbilhão de vento, e as ondas arrojavam-se contra o barco, de forma que
este já estava quase cheio de água. 38Jesus, à popa, dormia sobre uma almofada.
39Acordaram-no e disseram-lhe: «Mestre, não te importas que pereçamos?» Ele, despertando,
falou imperiosamente ao vento e disse ao mar: «Cala-te, acalma-te!» O vento
serenou e fez-se grande calma. 40Depois disse-lhes: «Porque sois tão medrosos?
Ainda não tendes fé?» 41E sentiram um grande temor e diziam uns aos outros:
«Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?»
À proclamação do Reino de Deus, em parábolas,
segue a apresentação dos benefícios dessa proclamação. É o que faz Marcos na
nova secção do seu evangelho, onde apresenta quatro milagres, a começar pela
tempestade acalmada (vv. 37ss.). A Boa Nova da Salvação atinge o homem todo,
toda a sua existência: Jesus salva e cura os homens das mais diversas ameaças
que estão a ponto de «alienar» a sua vida. É interessante notar o contraste
entre a serenidade de Jesus, que dorme, e a ansiedade dos discípulos, que lutam
bravamente contra as ondas e o vento. Parecem inverter-se os papéis: Jesus
confia nos marinheiros e estes, angustiados, não revelam confiança em Jesus:
«não te importas que pereçamos?» (v. 38). Quando Jesus finalmente intervém,
calam-se o vento e o mar, e calam-se os aterrorizados marinheiros. Nem
respondem às perguntas de Jesus: «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes
fé?». O medo dos discípulos indica falta de fé. A intervenção de Jesus
transforma-lhes o medo em temor de Deus. O poder manifestado por Jesus fê-los
intuir a presença de Deus junto deles. E começam a dar-se conta da verdadeira
identidade do seu Mestre.
Meditatio
Se o pecado ou, melhor, os vários pecados de
David nos deixaram horrorizados, o seu arrependimento sincero causa-nos
admiração.
Deus serviu-se de Natan, e da sua sábia pedagogia, para levar o rei a reconhecer o seu pecado. David escuta a história do homem rico, abençoado por Deus com muitos rebanhos, e que, para oferecer uma refeição a um amigo que o visita, rouba a única ovelha de um homem pobre. Como rei justo, não hesita em pronunciar a sentença: «Pelo Deus vivo! O homem que fez isso merece a morte. 6Pagará quatro vezes o valor da ovelha, por ter feito essa maldade e não ter tido compaixão» (2 Sam 12, 5-6). É nesse momento que o profeta pronuncia a sua acusação: «Esse homem és tu!» (2 Sam 12, 7). Ele, David, era o criminoso que acabava de condenar. Ele, que Deus cumulara de bens, tinha roubado o único tesouro de Urias, a sua mulher. Natan, enviado de Deus, levou o rei a tomar consciência do seu crime, e anunciou-lhe o castigo. David não tentou desculpar-se ou fugir à condenação mas confessou: «Pequei contra o Senhor» (2 Sam 12, 13). Assim alcançou o perdão dos seus pecados e uma nova relação com o Senhor, bem expressa o Salmo 50.
A nossa familiaridade com Deus, não nos põe ao abrigo de momentos de hesitação e de dúvida, como nos mostra o evangelho. Podemos até cair na ilusão de que, tendo-O por companheiro, Ele nos livra de situações difíceis. Os discípulos talvez tivessem caído nessa ilusão. Uma tempestade forte fê-los acordar, pondo em crise a sua confiança no Mestre: «não te importas
que pereçamos?»
Quantas vezes, no aconchego da comunidade bem organizada, protegidos pela assiduidade aos ritos, nos sentimos tranquilos e ao abrigo de situações difíceis. «O Senhor está connosco; que nos pode acontecer?» - pensamos. E julgamos ter muita fé e muita confiança em Deus. Mas, à primeira dificuldade, ao primeiro fracasso, repreendemo-lo, como se nos tivesse abandonado.
Deus serviu-se de Natan, e da sua sábia pedagogia, para levar o rei a reconhecer o seu pecado. David escuta a história do homem rico, abençoado por Deus com muitos rebanhos, e que, para oferecer uma refeição a um amigo que o visita, rouba a única ovelha de um homem pobre. Como rei justo, não hesita em pronunciar a sentença: «Pelo Deus vivo! O homem que fez isso merece a morte. 6Pagará quatro vezes o valor da ovelha, por ter feito essa maldade e não ter tido compaixão» (2 Sam 12, 5-6). É nesse momento que o profeta pronuncia a sua acusação: «Esse homem és tu!» (2 Sam 12, 7). Ele, David, era o criminoso que acabava de condenar. Ele, que Deus cumulara de bens, tinha roubado o único tesouro de Urias, a sua mulher. Natan, enviado de Deus, levou o rei a tomar consciência do seu crime, e anunciou-lhe o castigo. David não tentou desculpar-se ou fugir à condenação mas confessou: «Pequei contra o Senhor» (2 Sam 12, 13). Assim alcançou o perdão dos seus pecados e uma nova relação com o Senhor, bem expressa o Salmo 50.
A nossa familiaridade com Deus, não nos põe ao abrigo de momentos de hesitação e de dúvida, como nos mostra o evangelho. Podemos até cair na ilusão de que, tendo-O por companheiro, Ele nos livra de situações difíceis. Os discípulos talvez tivessem caído nessa ilusão. Uma tempestade forte fê-los acordar, pondo em crise a sua confiança no Mestre: «não te importas
que pereçamos?»
Quantas vezes, no aconchego da comunidade bem organizada, protegidos pela assiduidade aos ritos, nos sentimos tranquilos e ao abrigo de situações difíceis. «O Senhor está connosco; que nos pode acontecer?» - pensamos. E julgamos ter muita fé e muita confiança em Deus. Mas, à primeira dificuldade, ao primeiro fracasso, repreendemo-lo, como se nos tivesse abandonado.
As fragilidades, as incertezas, as dúvidas, o
pecado, não são coisas só dos «outros». São também nossas. Também nós somos
discípulos assustados e medrosos! Também nós somos pecadores como David.
Um monge do deserto disse que o primeiro degrau para ascender à santidade é reconhecer-se pecador. Esse reconhecimento é já resposta a uma graça, pois não seria possível sem a ajuda de Deus. É um modo de agir da sua misericórdia, que, para isso, às vezes se serve de um acontecimento ou da intervenção de alguém com quem nos encontramos e que, com uma palavra, nos leva a abrir os olhos para a nossa realidade. Se acolhermos essa graça, podemos iniciar uma nova fase de crescimento espiritual.
Deus é Pai. Deus é amor... e nunca é tão Pai e tão amor como quando perdoa. Pensemos, comovidos, na parábola do filho pródigo ou, melhor, do Pai pródigo na bondade, na misericórdia, no perdão, no amor.
Um escritor moderno disse muito bem: "Se não fôssemos pecadores, carecidos de perdão mais que de pão, não conheceríamos a profundidade do coração de Deus". E é famosa a asserção de Bossuet: "O dar ou aumentar a graça numa alma é uma maravilha maior do que criar o mundo". Tudo isto acontece, para nós, hoje, no sacramento da reconciliação.
Um monge do deserto disse que o primeiro degrau para ascender à santidade é reconhecer-se pecador. Esse reconhecimento é já resposta a uma graça, pois não seria possível sem a ajuda de Deus. É um modo de agir da sua misericórdia, que, para isso, às vezes se serve de um acontecimento ou da intervenção de alguém com quem nos encontramos e que, com uma palavra, nos leva a abrir os olhos para a nossa realidade. Se acolhermos essa graça, podemos iniciar uma nova fase de crescimento espiritual.
Deus é Pai. Deus é amor... e nunca é tão Pai e tão amor como quando perdoa. Pensemos, comovidos, na parábola do filho pródigo ou, melhor, do Pai pródigo na bondade, na misericórdia, no perdão, no amor.
Um escritor moderno disse muito bem: "Se não fôssemos pecadores, carecidos de perdão mais que de pão, não conheceríamos a profundidade do coração de Deus". E é famosa a asserção de Bossuet: "O dar ou aumentar a graça numa alma é uma maravilha maior do que criar o mundo". Tudo isto acontece, para nós, hoje, no sacramento da reconciliação.
Oratio
Abre, Senhor, os meus olhos, para que veja a
minha fragilidade, o meu orgulho, o meu pecado. Quantas vezes, me sinto justo
como David prepotente e pecador. Quantas vezes, me sinto vaidoso porque navego
numa barca onde Tu estás presente, a Igreja, contra a qual não hão-de
prevalecer as portas do inferno, como se isso fosse uma garantia e uma graça
que eu mereço. Ensina-me que o Evangelho é uma graça a partilhar, e não um
tesouro a guardar só para mim. Ampara-me nas tentações e dificuldades, para que
não me julgue abandonado pelo teu poder e esquecido do teu amor. Amen.
Contemplatio
Margarida Maria, muito assídua à permanência
no Coração de Jesus, tomava lá funções muito variadas, considerando-se aí ora
como discípula na escola do divino Coração, ora como uma doente no hospício, ou
uma cativa na prisão do amor, ou uma mendiga no palácio do rei. Mas o mais das
vezes vê no Coração de Jesus um lugar de refúgio, um porto de segurança, uma
cidadela de protecção contra os inimigos da salvação, um asilo para os pecadores.
«É preciso retirar-nos, diz, para a chaga do Sagrado Coração como um pobre viajante que procura um porto seguro para se colocar ao abrigo dos escolhos e das tempestades do mar tempestuoso do mundo, onde estamos expostos a um contínuo naufrágio. - O Coração adorável é um delicioso retiro onde vivemos ao abrigo de todas as tempestades. - Este divino Coração é como um forte inexpugnável contra os assaltos do inimigo».
O Sagrado Coração é o asilo da misericórdia e do perdão: «Os pecadores, diz Nosso Senhor, encontrarão no meu coração o oceano infinito da misericórdia». - «Que podeis temer em irdes lá, diz Margarida Maria, uma vez que ele vos convida a lá irdes? Não é ele o trono da misericórdia onde os miseráveis são os mais bem recebidos, desde que o amor os apresente no abismo da sua miséria?». - «O Pai eterno, por um excesso de misericórdia, fez deste ouro precioso uma moeda inapreciável, marcado no cunho da sua divindade, para que os homens com ela possam pagar as suas dívidas e negociar o grande assunto da sua salvação eterna». - «Permanecereis no Sagrado Coração de Jesus como um criminoso que, pelos desgostos e pela dor das suas faltas, deseja apaziguar o seu juiz fechando-se nesta prisão de amor». - «Deu-me a conhecer que o seu Sagrado Coração é o Santo dos Santos, que queria que fosse conhecido agora para ser o mediador entre Deus e os homens, porque é todo-poderoso para fazer a sua paz e para obter misericórdia» (Leão Dehon, OSP 3, 676s.).
«É preciso retirar-nos, diz, para a chaga do Sagrado Coração como um pobre viajante que procura um porto seguro para se colocar ao abrigo dos escolhos e das tempestades do mar tempestuoso do mundo, onde estamos expostos a um contínuo naufrágio. - O Coração adorável é um delicioso retiro onde vivemos ao abrigo de todas as tempestades. - Este divino Coração é como um forte inexpugnável contra os assaltos do inimigo».
O Sagrado Coração é o asilo da misericórdia e do perdão: «Os pecadores, diz Nosso Senhor, encontrarão no meu coração o oceano infinito da misericórdia». - «Que podeis temer em irdes lá, diz Margarida Maria, uma vez que ele vos convida a lá irdes? Não é ele o trono da misericórdia onde os miseráveis são os mais bem recebidos, desde que o amor os apresente no abismo da sua miséria?». - «O Pai eterno, por um excesso de misericórdia, fez deste ouro precioso uma moeda inapreciável, marcado no cunho da sua divindade, para que os homens com ela possam pagar as suas dívidas e negociar o grande assunto da sua salvação eterna». - «Permanecereis no Sagrado Coração de Jesus como um criminoso que, pelos desgostos e pela dor das suas faltas, deseja apaziguar o seu juiz fechando-se nesta prisão de amor». - «Deu-me a conhecer que o seu Sagrado Coração é o Santo dos Santos, que queria que fosse conhecido agora para ser o mediador entre Deus e os homens, porque é todo-poderoso para fazer a sua paz e para obter misericórdia» (Leão Dehon, OSP 3, 676s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Pequei contra o Senhor» (2 Sam 12, 13).
«Pequei contra o Senhor» (2 Sam 12, 13).
| Fernando Fonseca, scj |
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