SEXTA – DIA 09 - 09 de Fevereiro – Ano B
Padre Queiroz (In Memorian)
Aos surdos faz ouvir e aos mudos falar.
Este Evangelho trás para nós a belíssima cena
de Jesus curando o homem surdo e que falava com dificuldade.
O texto começa dizendo: “Jesus saiu de
novo...” Jesus caminhava, ia atrás do povo, não ficava parado. Ele não ficava
esperando que as pessoas fossem até ele. O amor nos dá esse dinamismo. Como é
importante nós também aproveitarmos a nossa saúde e tempo disponível para nos
movimentarmos, indo até as pessoas que precisam da Água Viva, da Boa Nova de
Cristo!
Quando Jesus atravessava uma região,
trouxeram-lhe “um homem surdo, que falava com dificuldade”. Geralmente os
surdos têm deficiência na conversa, porque a nossa fala depende da audição.
Na área espiritual é a mesma coisa: as
pessoas que não ouvem a Palavra de Deus, acabam não ouvindo também os apelos da
realidade que as cerca, e conseqüentemente tornam-se mudas, não falando a
palavra certa na hora certa. Não ficam indignadas com nada; passam pela vida
sem influenciar, indo na onda da sociedade de consumo.
Uma Comunidade que não ouve corretamente a
Palavra de Deus, confrontando com a realidade do seu meio, também se torna
muda, não fala nem faz nada de transformador, em direção ao Reino Deus.
Jesus, no seu primeiro discurso na sinagoga
de Nazaré, disse que veio para abrir os olhos dos cegos, dar audição aos surdos
e libertar os oprimidos, anunciando o ano da graça do Senhor (Cf Lc 4,18-19).
Muitas pessoas são como aquelas que Jesus
citou na parábola do samaritano: passam ao lado do irmão ferido e fecham os
olhos para não ver. Ou então, como o rico da parábola: vivem uma vida inteira
ao lado do Lázaro e não se tocam. Não existe nada mais forte para tapar os
ouvidos, os olhos e a boca das pessoas, do que o apego às riquezas.
Jesus “olhando para o céu, suspirou e disse:
‘Efatá’, que quer dizer: Abre-te!” Recordando esta cena, no nosso batismo o
padre fez um gesto parecido: colocou a mão nos nossos ouvidos e na nossa boca,
e disse: “Efatá!”
Quando o povo hebreu era escravo no Egito,
Deus apareceu para Moisés e disse: “Eu vi a opressão de meu povo no Egito, ouvi
os gritos de aflição diante dos opressores e tomei conhecimento de seus
sofrimentos, e desci para libertá-los” (Ex 3,7-8). Deus tem os olhos e os
ouvidos abertos. Assim como chamou Moisés, ele chama os seus filhos e filhas,
em todos os tempos e lugares, a fim de libertarem o seu povo. Deus ama o seu
povo, e não quer vê-los como ovelhas sem pastor.
“Jesus afastou-se com o homem para fora da
multidão”. É interessante que a primeira coisa que Jesus fez com o homem foi
afastá-lo para longe da multidão. O primeiro objetivo foi ter um contato mais
pessoal com ele. Nós não podemos ficar só “na multidão”, mesmo que essa
multidão seja de cristãos.
O segundo objetivo de Jesus é para que o
homem, depois de curado, pudesse voltar para o meio do povo, ouvindo e falando
sem dificuldade, inclusive para ajudar os outros.
Os nossos bispos, reunidos em Aparecida,
disseram: “Vivemos uma mudança de época, e seu nível mais profundo é o
cultural. Dissolve-se a concepção integral do ser humano, sua relação com o
mundo e com Deus” (DA 44). Portanto, a nossa missão é grande, como “discípulos
e missionários de Jesus Cristo, para que o povo tenha mais vida nele”.
Havia, certa vez, uma menina que morava na
roças. E um pássaro muito bonito começou a entrar no quarto dela. Ela comprou
ração apropriada e espalhou em cima do guarda-roupa, e também uma tacinha de
água, já preparada para não transmitir dengue.
Assim, o belo passarinho fez amizade com ela.
Parecia que os dois eram velhos amigos. Todos os dias ele aparecia. Suas penas
eram brilhantes e seus olhinhos encantadores.
Com medo de perder o amiguinho, a garota o
prendeu numa gaiola. Poucos dias depois, suas penas perderam o brilho e ele
passou a contar diferente, um canto parecido com choro. Passava o dia todo
olhando para a janela.
Quando percebeu o erro que havia cometido,
mais que depressa a menina abriu a gaiola e a ave foi-se embora, para nunca
mais voltar.
Que Cristo abra os nossos ouvidos e olhos
para contemplarmos a natureza, mas sem prejudicá-la!
O exemplo de Maria Santíssima é maravilhoso.
Ela não foi surda nem muda, mas ouviu o apelo de Deus, entendeu-o direitinho e
o cumpriu com generosidade. No magnificat, ela mostrou que ouvia também os
anseios do povo, e falava com coragem. Que ela nos ajude a nos aproximarmos de
seu Filho, a fim de que ele, dizendo “Efatá!”, nos cure da surdez e da
conseqüente dificuldade em falar.
Aos surdos faz ouvir e aos mudos falar.
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