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Fevereiro 2018
Lectio
Primeira
leitura: Daniel 9, 4b-10
Senhor,
Deus grande e temível, que és fiel à Aliança e que manténs o teu favor para com
os que te amam e guardam os teus mandamentos. 5*Todos nós pecámos,
prevaricámos, praticámos a iniquidade, fomos revoltosos, afastámo-nos dos teus
mandamentos e das tuas leis. 6*Não escutámos os teus servos, os profetas, que
falaram em teu nome aos nossos reis, aos nossos chefes, aos nossos pais e a
todo o povo da nação. 7*Para ti, Senhor, a justiça; para nós, a infâmia, como é
hoje para as gentes de Judá, para os habitantes de Jerusalém e para todo o
Israel, para aqueles que estão perto e aqueles que estão longe, em todos os
países por onde os espalhaste, em consequência das iniquidades que cometeram
contra ti. 8Sim, ó SENHOR, para nós a vergonha, para os nossos reis, para os
nossos chefes, para os nossos pais, porque pecámos contra ti. 9No Senhor, nosso
Deus, a misericórdia e o perdão, pois nos revoltámos contra Ele. 10Recusámos
escutar a voz do SENHOR, nosso Deus; não seguimos as leis que nos propunha pela
boca dos seus servos, os profetas.
A oração
de Daniel, colocada no capítulo 9, explica um oráculo de Jeremias sobre a
duração do exílio em Babilónia e sobre a restauração de Jerusalém (cf. Jer 25,
11ss; 29, 10). De acordo com alguns exegetas, os 70 anos preditos por Jeremias
devem interpretar-se como 70 semanas de anos, isto é, 490 anos. Trata-se de uma
longa Quaresma entre o começo do exílio e a restauração e consagração do
templo, em Jerusalém (164 a.c.),
Daniel
volta-se para Deus relendo a história à luz da tradição deuteronomista: à
infidelidade do povo segue o castigo. Mas, até quando terá Deus que castigar o
seu povo? Só Ele sabe. Por isso é que o profeta faz a pergunta a Deus (v. 3).
Por seu lado, Daniel limita-se a reconhecer que o castigo é merecido.
Mas a
confissão e o arrependimento do profeta não o levam ao desesperar, mas a
esperar confiadamente o perdão divino (v. 9). Com efeito, o Deus de Israel é
fiel e benevolente, lento para a ira e rico de misericórdia.
Evangelho:
Lucas 6, 36-38
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 36*Sede misericordiosos como o vosso
Pai é misericordioso. 37*Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e
não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. 38Dai e ser-vos-é dado: uma
boa medida, cheia, recalcada, transbordante será lançada no vosso regaço. A
medida que usardes com os outros será usada convosco.»
Lucas,
depois de anotar a proclamação das Bem-aventuranças, anota o mandamento do amor
universal e da misericórdia. Redige como que um pequeno poema didáctico com três
estrofes. Enunciação do mandamento (vv. 27-31), as suas motivações (vv. 32-35)
e a sua prática (vv. 36-38). Verificamos uma clara analogia com o «Sermão da
Montanha» de Mateus. Mas Lucas tem uma particularidade. Fala da imitação do Pai
em termos de "misericórdia", enquanto Mateus fala de
"perfeição".
Como
praticar esta misericórdia. É o que nos indicam os versículos que hoje
escutamos.
Cinco
verbos passivos revelam que o sujeito é o Pai: « … Não sereis julgados; não
sereis condenados; … sereis perdoados. 38 … ser-vos-é dado: uma boa medida…será
lançada no vosso regaço,
Quando nos
arrependemos dos nossos pecados, nos dispomos a arrepiar caminho, e nos abrimos
ao amor misericordioso do Pai, o seu perdão é mesmo "perdão:", um
dom superabundante: «uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante será
lançada no vosso regaço (Lc 6, 38). Por isso, também nos convém ser generosos
no perdão aos nossos irmãos.
Meditatio
Depois da
enorme catástrofe que culminou no exílio em Babilónia, o povo de Israel caiu em
si e deu-se conta do seu pecado. Então, dirigiu-se ao Senhor, confessando,
confuso e humilhado, as suas culpas e implorando misericórdia: «Sim, Ó SENHOR,
para nós a vergonha, … porque pecámos contra ti. No Senhor, nosso Deus, a
misericórdia e o perdão, pois nos revoltámos contra Ele (!» (cf. vv. 8-9).
A
humildade e a confiança em Deus permitem-nos receber a sua graça e compreender
a imensidão do seu amor por nós. Foi essa humildade e confiança que levou S.
Paulo a exclamar: «Deus demonstra o seu amor para connosco: quando ainda éramos
pecadores é que Cristo morreu por nós (Rm 5,8). O perdão recebido centuplica o
amor, como vemos em Santo Agostinho e em tantos outros santos. A experiência do
amor misericordioso de Deus suscita um forte desejo de correspondência.
Quantas
vezes também nós caímos na conta de termos pecado e ofendido a Deus! Quantas
vezes experimentamos as situações de morte e de ódio, que dominam o nosso
mundo! Corremos o risco de perder a confiança e a esperança. Por isso,
precisamos de purificar o nosso olhar com o arrependimento sincero e a oração.
Então, dar-nos-ernos conta da misteriosa e paradoxal transcendência de Deus,
tão grande e tão próximo de nós, sempre benévolo e paciente. Mas também nos
daremos conta da verdade acerca de nós mesmos e dos outros, e os nossos juízos
de condenação transformar-se-ão em pedidos de perdão para todos, porque todos
somos corresponsáveis pelo mal que nos rodeia. Veremos a nossa vida e a vida do
mundo com outros olhos. Dar-nos-emos conta dos sinais da presença de Deus, das
sementes de bem, escondidas mas reais. Na fé e na paciência, aguardaremos que
cresçam e dêem frutos.
«Deus
demonstra o seu amor para connosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo
morreu por nós (Rm 5, 8). Este pensamento leva-nos a aceitar-nos a nós mesmos e
a nossa história, qualquer que tenha sido. Sentimo-nos felizes por sermos quem
somos, pela nossa história pessoal. Deus amou-nos quando "éramos (Seus)
inimigos!’ (Rm 5, 10). Quanta gratidão havemos de sentir por Deus-Pai e por
Cristo! Como, Paulo, podemos exclamar: "Cristo veio ao mundo para salvar
os pecadores e eu sou o primeird’ (Tm 1, 15).
Aceitar-nos
a nós mesmos, e à nossa história, é caminho para também aceitarmos os outros,
com a sua história. Já S. Tomás de Aquino escrevia que não podemos entrar em
relação de amizade com os outros, se não estivermos em relação de amizade
connosco mesmos. Não podemos aceitar os outros se não nos aceitamos a nós
mesmos. Se estamos descontentes e em conflito connosco mesmos, tristes e
desanimados, também o estaremos com os outros. Cada um dá o que tem. Damos
amor, paz e alegria, se tivermos amor, paz e alegria. Damos amargura e
conflito, se estivermos na amargura e em conflito.
A alegria
de ser amados é o fundamento da nossa dignidade de pessoas humanas, de filhos
de Deus, é fonte da aceitação e da confiança em nós mesmos. É a libertaç&
atilde;o de toda a tristeza e medo. Faz-nos aceitar os outros com uma justa confiança neles.
atilde;o de toda a tristeza e medo. Faz-nos aceitar os outros com uma justa confiança neles.
Oratio
Senhor,
quão grande é o amor com que misericordiosamente nos reconcilias Contigo, nos
transformas e nos dás uma vida nova, uma vida de humildade, de compreensão, de
generosidade para com todos! Dá-nos a graça de permanecermos no teu amor,
abrindo-nos à misericórdia para com os outros. Tendo sido gratuitamente
perdoados por Ti, queremos ser instrumentos humildes da tua misericórdia para
com os outros.
Nós Te
agradecemos a confiança que Jesus, teu Filho, demonstra para connosco, ao
afirmar: «A medida que usardes com os outros será usada convosa». Com a tua
graça queremos ser largamente generosos uns com os outros, aguardando
confiadamente a tua transbordante recompensa. Amen.
Contemplatio
Nosso
Senhor amou-nos com um amor eterno e pede o amor em troca. – Era assim que
Nosso Senhor dispunha os seus discípulos para receberem o seu espírito de amor.
Para nos dispormos nós mesmos, recordemo-nos do seu amor por nós. É semelhante
àquele que o uniu ao seu Pai: Sicut di/exit me Pater, et ego di/exi vos.
Amou-nos desde toda a eternidade, não teve em vista senão a nossa felicidade. O
seu amor por nós foi desinteressado até ao sacrifício absoluto de si mesmo.
Consagrou a sua vida inteira à nossa salvação. Morreu por nós sobre a cruz:
Majorem hac di/ectionem nemo habet
O que nos
pede é um amor recíproco pelo seu Pai e por ele, que foram os primeiros a nos
amar e que querem chamar-nos seus amigos: Vos autem dixi amicos.
O nosso
amor deve modelar-se sobre o seu. O seu foi obediente à vontade do seu Pai, o
nosso deve manifestar-se por uma obediência inteira, absoluta, filial à lei
divina. Amou-nos até morrer por nós, devemos amá-lo até morrer, se for preciso,
por ele ou pelos nossos irmãos que são os seus. O nosso amor deve ser
infatigável, dedicado e pronto a todos os sacrifícios.
O espírito
de amor que nos dá hoje deve estabelecer-nos numa intimidade plena de confiança
com ele, e numa união poderosa e fecunda. Nada nos escondeu do que o seu Pai
lhe confiou. Iniciou-nos no conhecimento dos seus desígnios que têm todos por
fim a felicidade dos homens (leão Dehon, OSP 3, p. 589s.).
Actio
Repete
frequentemente e vive hoje a palavra:
«Sede
misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso» (Lc 6, 36).
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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