QUINTA – DIA 08 - Evangelho Mc 7,24-30
Os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem
as migalhas que as crianças deixam cair.
Este Evangelho narra a cena de uma mulher
pagã que pede a Jesus a cura de sua filha. De início, Jesus recusa, dizendo que
foi enviado primeiro para o povo de Israel. E ele fala uma frase que, à
primeira vista, parece dura, mas era um dito popular: “Não está certo tirar o
pão dos filhos e jogá-lo aos cachorrinhos”.
Entretanto, a mulher não se deixa vencer, e
tem uma saída criativa. Ela responde na hora: “Os cachorrinhos, debaixo da
mesa, comem as migalhas que as crianças deixam cair”. Jesus fica comovido e
atende o pedido dela.
Ter fé é vencer os obstáculos, venham de onde
vierem, até da parte do Enviado de Deus, como foi o caso. Exemplos de
obstáculos que podem se chocar com a nossa fé: Aparente recusa de Deus em nos
atender, como o caso de uma doença, que a pessoa pede para Deus curar e a
doença até piora, ou perduras durante anos; um vício que a pessoa já tentou
vencer e não conseguiu; uma tentação forte, diante da qual a pessoa se sente
pequenina e impotente; alguma dificuldade de relacionamento em casa ou no
trabalho, em que, quanto mais a pessoa se esforça, parece que ainda piora...
Jó (Cf seu livro na Bíblia) é um grande
exemplo para nós nesse ponto. Exemplo de persistência.
A nossa fé não fica parada. Ela é como uma
planta: ou cresce ou morre. E ela cresce na direção da fidelidade, isto é, da
fé que ultrapassa os obstáculos.
Aquela mulher era pagã, isto é, não pertencia
à descendência de Abraão, que era o povo eleito, com o qual Deus fez a primeira
Aliança. Entretanto, ela tinha uma fé correta e bonita.
Pagãos para nós são os não batizados. É uma situação
cuja superação é aberta a todos e é facílima: basta receber o batismo. Para os
judeus do tempo de Jesus, ser pagão era um estigma indelével, uma barreira
intransponível, pois dependia da raça, o que ninguém consegue mudar. Mas aquela
primeira Aliança era provisória. Tinha o objetivo de preparar a vinda do
Messias. Com a chegada de Jesus, ela foi abolida e passou a valer a nova e
eterna Aliança, com todos os homens e mulheres do mundo, Aliança que é baseada
não mais em raça, mas na fé em Jesus Cristo. Como disse S. Paulo: “Não há mais
judeu nem grego, escravo ou livre, todos vós sois um em Cristo”.
Entretanto, apesar de o povo de Israel ter
sido infiel à sua Aliança com Deus, Deus foi fiel. Mesmo depois que a Aliança
foi superada, Jesus inicialmente deu preferência ao povo de Israel. Mas Jesus
sempre acolhia bem os pagãos que o procuravam. Inclusive, várias vezes elogiou
a fé deles, como a do centurião romano: “Nunca encontrei tamanha fé em Israel”.
A mensagem principal deste encontro de Jesus
com a mulher nascida na Fenícia é a força que tem a oração perseverante e feita
com fé. Ela é a nossa força; é mais forte que as estruturas, até religiosas.
Pela oração, nós somos capazes de “transportar montanhas”, como disse Jesus.
Contra tudo e contra todos, continuar pedindo a Deus as coisas, com fé, mesmo
que dê a impressão de que até Deus virou as costas para nós. E argumentar com
Deus, como fez a mulher: “Os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem as migalhas
que as crianças deixam cair”.
A mesma mensagem vemos em algumas parábolas
de Jesus: a da viúva pedindo para o juiz a solução do seu caso judicial, a do
vizinho que altas horas da noite batia na porta do outro, pedindo pães para a
visita que acabara de chegar a sua casa; o que estava deitado certamente falou
para a esposa: “Vamos lá atendê-lo, senão ninguém dorme nesta casa”.
Dizem que o Pe. Vítor Coelho, quando era
criança, foi mandado embora do Seminário Santo Afonso, em Aparecida, por
traquinagens. Mas ele se sentou do lado de fora, na escada da portaria do
seminário, e ali ficou com a sua malinha. De dó, o diretor voltou atrás. Dó e
também para ficar livre do constrangimento. Já pensou tomar refeição, ou rezar
na capela, com um menino lá fora querendo entrar?
Deus pede para fazermos a mesma coisa com
ele. Ele nos atenderá, mesmo que tenha de mudar as suas Leis e os seus planos.
A oração é uma porta aberta ao infinito. Ela não tem fronteiras.
A cena das Bodas de Caná foi parecida com
esta do Evangelho de hoje. Nas duas, Jesus atende ao pedido, apesar de ainda
não ter chegado a sua hora, por causa da fé de quem pede, fé transformada em
persistência. Nos dois casos, Jesus inicialmente é um pouco ríspida, justamente
para testar a fé. E as duas mulheres, Maria e esta, vencem com nota dez!
Peçamos a Maria Santíssima: “Ensina teu povo
a rezar, Maria Mãe de Jesus, que um dia teu povo desperta e na certa vai ver a
luz!”
Os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem as
migalhas que as crianças deixam cair.
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