03º Domingo do Tempo da Quaresma - Ano B
7 Março 2021
ANO B
3º DOMINGO DA QUARESMA
Tema do 3º Domingo da Quaresma
A liturgia do 3º Domingo da Quaresma
dá-nos conta da eterna preocupação de Deus em conduzir os homens ao encontro da
vida nova. Nesse sentido, a Palavra de Deus que nos é proposta apresenta
sugestões diversas de conversão e de renovação.
Na primeira leitura, Deus oferece-nos um conjunto de indicações
("mandamentos") que devem balizar a nossa caminhada pela vida. São
indicações que dizem respeito às duas dimensões fundamentais da nossa
existência: a nossa relação com Deus e a nossa relação com os irmãos.
Na segunda leitura, o apóstolo Paulo sugere-nos uma conversão à lógica de
Deus... É preciso que descubramos que a salvação, a vida plena, a felicidade
sem fim não está numa lógica de poder, de autoridade, de riqueza, de
importância, mas está na lógica da cruz - isto é, no amor total, no dom da vida
até às últimas consequências, no serviço simples e humilde aos irmãos.
No Evangelho, Jesus apresenta-Se como o "Novo Templo" onde Deus Se
revela aos homens e lhes oferece o seu amor. Convida-nos a olhar para Jesus e a
descobrir nas suas indicações, no seu anúncio, no seu "Evangelho"
essa proposta de vida nova que Deus nos quer apresentar.
LEITURA I - Ex 20,1-17
Leitura do Livro do Êxodo
Naqueles dias, Deus pronunciou todas
estas palavras:
«Eu sou o senhor teu Deus,
que te tirei da terra do Egipto, dessa casa da escravidão.
Não terás outros deuses perante Mim.
Não farás para ti qualquer imagem esculpida,
nem figura do que já existe lá no alto dos céus
ou cá em baixo na terra ou nas águas debaixo da terra.
Não adorarás outros deuses nem lhes prestarás culto.
Eu, o senhor teu Deus, sou um Deus cioso:
castigo a ofensa dos pais nos filhos
até à terceira e quarta geração daqueles que Me ofendem;
mas uso de misericórdia até à milésima geração
para com aqueles que Me amam
e guardam os meus mandamentos.
Não invocarás em vão o nome do Senhor teu Deus,
porque o Senhor não deixa sem castigo
aquele que invoca o seu nome em vão.
Lembrar-te-ás do dia de sábado, para o santificares.
Durante seis dias trabalharás
e levarás a cabo todas as tuas tarefas.
Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus.
Não farás nenhum trabalho,
nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha,
nem o teu servo nem a tua serva,
nem os teus animais domésticos,
nem o estrangeiro que vive na tua cidade.
Porque em seis dias
o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo o que eles contêm;
mas no sétimo dia descansou.
Por isso, o Senhor abençoou e consagrou o dia de sábado.
Honra pai e mãe,
a fim de prolongares os teus dias
na terra que o Senhor teu Deus te vai dar.
Não matarás.
Não cometerás adultério.
Não furtarás.
Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo.
Não cobiçarás a casa do teu próximo;
não desejarás a mulher do teu próximo,
nem o seu servo nem a sua serva, o seu boi ou o seu jumento,
nem coisa alguma que lhe pertença».
AMBIENTE
O texto que hoje nos é proposto como
primeira leitura faz parte de um conjunto de tradições que referem uma Aliança
entre Jahwéh e Israel (cf. Ex 19-40). Essa Aliança é situada num monte, algures
no deserto do Sinai, o mesmo monte onde Jahwéh se havia revelado a Moisés.
No texto bíblico não temos indicações geográficas suficientes para identificar
o monte da Aliança. Em si, o nome "Sinai" designa uma enorme
península de forma triangular, com mais ou menos 420 km de extensão norte/sul,
estendendo-se entre o Mediterrâneo e o Mar Vermelho. A norte, junto do
Mediterrâneo, o Sinai apresenta uma faixa arenosa de 25 km de largura; mas à
medida que descemos para sul, o território torna-se mais acidentado, com
montanhas que chegam a atingir 2400 m de altura. A península inteira é um
deserto árido; não há, praticamente, vegetação (excepto em alguns pequenos
oásis) e as comunicações são difíceis. Nesta enorme extensão de areia e rochas,
é difícil situar o "monte da Aliança". Contudo, uma tradição cristã
tardia (séc. IV d. C.) identifica o "monte" com o Gebel Musah (o
"monte de Moisés"), um monte com 2244 m de altitude, situado a sul da
península sinaítica. Embora a identificação do "monte da Aliança" com
este lugar levante problemas, o Gebel Musah é, ainda hoje, um lugar de
peregrinação para judeus e cristãos.
A Aliança entre Jahwéh e Israel, celebrada no Sinai, vai ser apresentada pelos
catequistas de Israel através de uma estrutura literária que é muito semelhante
aos formulários jurídicos conhecidos no mundo antigo para apresentar os acordos
políticos entre duas partes, nomeadamente entre um "senhor" e o seu
"vassalo". Nesses formulários, depois de recordar ao
"vassalo" a sua acção, a sua generosidade, os seus benefícios, o
"senhor" apresentava as "cláusulas da Aliança" - isto é, a
lista das obrigações que o "vassalo" assumia para com o seu
"senhor" (obrigações que o "vassalo" devia cumprir
fielmente).
De entre as "cláusulas da Aliança" do Sinai, sobressai um bloco
especial, onde são apresentadas as dez obrigações fundamentais que Israel vai
assumir diante do seu Deus: os "dez mandamentos" ou as "dez
palavras". É esse texto que a nossa primeira leitura nos apresenta. Aí
está, verdadeiramente, o "coração" da Aliança; aí se define o caminho
que Israel deve percorrer para ser o Povo de Deus.
A lista dos "dez mandamentos" é uma lista irregular, com mandamentos
enunciados com brevidade e secura, sem nenhuma justificação ("não
matarás"; não roubarás") e outros mais desenvolvidos, contendo um
comentário explicativo (cf. Ex 20,4.17), uma motivação (cf. Ex 20,7) ou uma
promessa (cf. Ex 20,12). Por vezes Deus fala em primeira pessoa (cf. Ex
20,2.5-6); noutras, fala-se de Deus em terceira pessoa (cf. Ex 20,7.11.12).
Dois mandamentos são formulados positivamente (cf. Ex 20,8: "lembra-te";
Ex 20,12: "honra"); todos os outros são formulados negativamente
("não matarás"; "não roubarás"). Estas irregularidades
significam que o "decálogo" sofreu, através dos séculos, por motivos
pastorais e catequéticos, retoques, acrescentos, comentários, modificações.
É provável que Moisés tenha uma certa relação com estas leis que estão no
centro da Aliança entre Deus e o seu Povo; mas o texto, na sua forma actual,
não vem de Moisés. É, certamente, um texto muito trabalhado, que sofreu muitas
elaborações ao longo dos séculos. Ainda que esta lista de preceitos possa
lembrar algumas listas de proibições encontradas na Babilónia e no Egipto,
ocupa um lugar à parte no conjunto dos formulários legais dos povos do
Crescente Fértil: é um núcleo legal sóbrio e equilibrado, despojado de tudo
aquilo que nos outros povos é magia, superstição, tabu.
MENSAGEM
O "decálogo" abarca os dois
vectores fundamentais da existência humana: a relação do homem com Deus e a
relação que cada homem estabelece com o seu próximo.
Os primeiros quatro mandamentos dizem respeito à relação que Israel deve
estabelecer com Deus (vers. 3-11). Dois, sobretudo, são de uma tremenda
originalidade (o mandamento que obriga Israel a não ter outro Deus, outro
Senhor, outra referência; e o mandamento que proíbe construir imagens de Deus),
pois não encontram paralelo em nenhuma das religiões antigas que conhecemos.
A questão essencial que sobressai, nestes quatro mandamentos, é esta: Jahwéh
deve ser a referência fundamental da vida do Povo, o centro à volta do qual se
constrói toda a existência de Israel. Nada nem ninguém deve ocupar, no coração
do Povo, o lugar que só a Deus pertence. É preciso que Israel reconheça que só
em Jahwéh está a vida e a salvação (vers. 3: "não terás nenhum deus além
de mim"); é necessário que Israel reconheça a absoluta transcendência de
Jahwéh - que não pode ser reproduzida em qualquer criatura feita pelo homem - e
não se prostre perante obras criadas pela mão do homem (vers. 4: não farás para
ti qualquer imagem esculpida... não hás-de prostrar-te diante delas, nem
prestar-lhes culto"); é preciso que Israel reconheça que não deve
manipular Deus e usá-l'O em apoio de projectos e interesses puramente humanos
(vers. 7: "não hás-de invocar o nome do Senhor teu Deus em apoio do que não
tem fundamento"); é preciso que Israel reconheça que só o Senhor é o dono
do tempo e que reserve espaço para o encontro e o louvor do Senhor (vers. 8:
"hás-de lembrar-te do dia de sábado, a fim de o santificares").
Os outros seis mandamentos dizem respeito às relações comunitárias (vers.
12-17). Procuram inculcar o respeito absoluto pelo próximo - a sua vida, os
seus direitos na comunidade, os seus bens. São "a magna carta da
liberdade, da justiça, do respeito pela pessoa e pela sua dignidade".
Recomendam que cada membro da comunidade reconheça a sua dependência dos outros
e aceite a sua vinculação a uma família e a uma cultura (vers. 12: "honra
teu pai e tua mãe"); pedem que cada membro do Povo de Deus respeite a vida
do irmão (vers. 13: "não matarás"); recomendam que seja defendida a
família e respeitadas as relações familiares (vers. 14: "não cometerás
adultério"); exigem que se respeite absolutamente quer os bens, quer a
própria liberdade dos outros membros da comunidade (vers. 15: "não tomarás
para ti" - o que pode referir-se a pessoas ou a coisas. Pode traduzir-se
por "não roubarás", mas também por "não privarás de liberdade o
teu irmão, não o reduzirás à escravidão"); pedem o respeito pelo bom nome
e pela fama do irmão, nomeadamente dando sempre um testemunho verdadeiro diante
do tribunal e garantindo a fiabilidade de uma justiça que é a base da correcta
ordem social (vers. 16: "não levantarás falso testemunho contra o teu
próximo"); exigem o respeito pelos "bens básicos" que asseguram
ao irmão a sua subsistência e procuram evitar que o coração dos membros da
comunidade do Povo de Deus seja dominado pela cobiça e pelos instintos egoístas
(vers. 17: "não cobiçarás a casa do teu próximo, não desejarás a mulher
dele, nem o criado ou a criada, o boi ou o jumento, nem coisa alguma que lhe
pertença").
Porque é que Deus apresentou estas propostas a Israel e lhe recomendou este
caminho? Qual o interesse de Deus em que Israel viva de acordo com as regras
aqui apresentadas? O que é que Deus "tem a ganhar" com a fidelidade
do Povo a estas normas?
A resposta a esta questão está na primeira afirmação do Decálogo: "Eu sou
o Senhor, teu Deus, que te fiz sair da terra do Egipto, da casa da
servidão" (vers. 2). Jahwéh, o Deus libertador, está interessado em que
Israel se liberte definitivamente da escravidão e se torne um Povo livre e
feliz. Os "mandamentos" são, precisamente, um contributo de Deus para
isso. Ao colocar estes "sinais" no percurso do seu Povo, Jahwéh não
está a limitar a liberdade de Israel, mas está a propor ao Povo um caminho de
liberdade e de vida plena. Os mandamentos pretendem ajudar Israel a deixar a
escravidão do egoísmo, da auto-suficiência, da injustiça, do comodismo, das
paixões, da cobiça, de exploração... Os mandamentos nascem do amor de Jahwéh a
Israel e procuram indicar ao Povo o caminho para ser feliz. A resposta do Povo
a essa preocupação de Deus será aceitar as indicações e viver de acordo com
esses preceitos. Israel responderá, assim, ao amor de Deus e será feliz. É essa
Aliança que Jahwéh quer fazer com o seu Povo, é esse o "interesse" de
Deus.
ACTUALIZAÇÃO
• Os mandamentos que dizem respeito à
relação do homem com Deus sublinham a centralidade que Deus deve assumir no
coração e na vida do seu Povo. Na vida de todos os dias somos, com frequência,
seduzidos por outros "deuses" - o dinheiro, o poder, os afectos
humanos, a realização profissional, o reconhecimento social, os interesses
egoístas, as ideologias, os valores da moda - que se tornam o objectivo
supremo, no valor último que condiciona os nossos comportamentos, as nossas
atitudes e as nossas opções. Com frequência, prescindimos de Deus e
instalamo-nos num esquema de orgulho e de auto-suficiência que coloca Deus e as
suas propostas fora da nossa vida. A Palavra de Deus garante-nos: esse não é um
caminho que nos conduza em direcção à vida definitiva e à liberdade plena.
Neste tempo de Quaresma, somos convidados a voltarmo-nos para Deus e a
redescobrirmos o seu papel fundamental na nossa existência... Quais são os
"deuses" que nos seduzem mais e que condicionam a nossa vida, as
nossas tomadas de posição, as nossas opções? Que espaço é que reservamos, na
nossa vida, para o verdadeiro Deus?
• Os mandamentos que dizem respeito à
nossa relação com os irmãos convidam-nos a despir esses comportamentos que
geram violência, egoísmo, agressividade, cobiça, intolerância, escravidão,
indiferença face às necessidades dos outros. Tudo aquilo que atenta contra a
vida, a dignidade, os direitos dos nossos irmãos, é algo que gera morte,
sofrimento, escravidão, para nós e para todos os que nos rodeiam e é algo que
contribui para subverter os projectos de vida e de felicidade que Deus tem para
nós e para o mundo. O que é que, nos meus gestos, nas minhas atitudes, nos meus
valores, é gerador de injustiça, de sofrimento, de exploração, de escravidão,
de morte, para mim e para todos aqueles que me rodeiam?
• O que está aqui em jogo não é o
respeitar regras "religiosamente correctas", o evitar que Deus tenha
razões de queixa contra nós, ou o fugir aos castigos divinos; mas é, antes de
mais, o construir a nossa própria felicidade. É preciso aprendermos a não ver
os "mandamentos" de Deus como propostas reaccionárias, descabidas e
ultrapassadas, inventados por uma moral obsoleta e antiquada, que apenas servem
para limitar a nossa liberdade ou para impedir a nossa autonomia; mas é preciso
ver os "mandamentos" como "sinais de trânsito" com os quais
Deus, no seu amor e na sua preocupação com a nossa realização plena, nos ajuda
a percorrer os caminhos da liberdade e da vida verdadeira.
SALMO RESPONSORIAL - Salmo 18 (19)
Refrão: Senhor, Vós tendes palavras de
vida eterna.
A lei do Senhor é perfeita,
ela reconforta a alma;
as ordens do Senhor são firmes,
dão sabedoria aos simples.
Os preceitos do Senhor são rectos
e alegram o coração;
os mandamentos do Senhor são claros
e iluminam os olhos.
O temor do senhor é puro
e permanece para sempre;
os juízos do Senhor são verdadeiros,
todos eles são rectos.
São mais preciosos que o ouro,
o ouro mais fino;
são mais doces que o mel,
o puro mel dos favos.
LEITURA II - 1 Cor 1, 22-25
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo
São Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Os judeus pedem milagres
e os gregos procuram a sabedoria.
Quanto a nós, pregamos Cristo crucificado,
escândalo para os judeus e loucura para os gentios;
mas para aqueles que são chamados,
tanto judeus como gregos,
Cristo é poder e sabedoria de Deus.
Pois o que é loucura de Deus
é mais sábio do que os homens
e o que é fraqueza de Deus
é mais forte do que os homens.
AMBIENTE
No decurso da sua segunda viagem
missionária, Paulo chegou a Corinto, depois de atravessar boa parte da Grécia,
e ficou por lá cerca 18 meses (anos 50-52).
Como resultado da pregação de Paulo, nasceu a comunidade cristã de Corinto. De
uma forma geral, a comunidade era viva e fervorosa; no entanto, estava exposta
aos perigos de um ambiente corrupto: moral dissoluta (cf. 1 Cor 6,12-20;
5,1-2), querelas, disputas, lutas (cf. 1 Cor 1,11-12), sedução da sabedoria
filosófica de origem pagã que se introduzia na Igreja revestida de um
superficial verniz cristão (cf. 1 Cor 1,19-2,10). Tratava-se de uma comunidade
forte e vigorosa, mas que mergulhava as suas raízes em terreno adverso. Na
comunidade de Corinto, vemos as dificuldades da fé cristã em inserir-se num
ambiente hostil, marcado por uma cultura pagã e por um conjunto de valores que
estão em profunda contradição com a pureza da mensagem evangélica.
Um dos graves problemas da comunidade cristã de Corinto era a identificação da
experiência cristã com uma escola de sabedoria: os cristãos de Corinto - na
linha do que acontecia nas várias escolas de filosofia que infestavam a cidade
- viam várias figuras proeminentes do cristianismo primitivo como mestres de
uma doutrina e aderiam a essas figuras, esperando encontrar nelas uma proposta
filosófica credível, que os conduzisse à plenitude da sabedoria e da realização
humana. É de crer que os vários adeptos desses vários mestres se confrontassem
na comunidade, procurando demonstrar a excelência e a superior sabedoria do
mestre escolhido. Ao saber isto, Paulo ficou muito alarmado: esta perspectiva
punha em causa o essencial da fé.
Paulo vai esforçar-se, então, por demonstrar aos coríntios que entre os
cristãos não há senão um mestre, que é Jesus Cristo; e a experiência cristã não
é a busca de uma filosofia coerente, brilhante, elegante, que conduza à
sabedoria, entendida à maneira dos gregos. Quem procura na mensagem cristã um
sistema lógico, coerente, inquestionável à luz da lógica humana, é porque não
percebeu nada do essencial da mensagem cristã, da "loucura da cruz".
MENSAGEM
Judeus e gregos, cada um à sua maneira,
buscam seguranças. Os judeus procuram milagres que garantam a veracidade da
mensagem anunciada; os gregos procuram as belas palavras, a coerência do
discurso, a lógica dos argumentos... Na verdade, Jesus não Se apresentou como
um Deus espectacular, a exibir o seu poder e as suas qualidades divinas através
de gestos estrondosos e milagrosos, como os judeus estavam à espera; nem Se
apresentou como o "mestre" iluminado de uma filosofia capaz de se
impor pelo brilho das suas premissas e pela sua lógica inatacável, como os
gregos gostariam.
A essência da mensagem cristã está na "loucura da cruz" - isto é, na
lógica ilógica de um Deus que veio ao encontro da humanidade, que fez da sua
vida um dom de amor e que aceitou uma morte maldita para ensinar aos homens que
a verdadeira vida é aquela que se coloca integralmente ao serviço dos irmãos,
até à morte. No entanto, foi precisamente dessa forma que Deus apresentou aos
homens o seu projecto de salvação e de vida definitiva. Na cruz de Jesus
manifestou-se, de forma plena, o poder salvador de Deus. Decididamente,
considera Paulo, a lógica de Deus não é exactamente igual à lógica dos homens.
O caminho cristão não é uma busca de sabedoria humana, mas uma adesão a Cristo
crucificado - o Cristo do amor e do dom da vida. Nele manifesta-se de forma
humanamente desconcertante, mas plena e definitiva, a força salvadora de Deus.
ACTUALIZAÇÃO
• O nosso texto convida-nos a descobrir
e a interiorizar a lógica de Deus, que é bem diferente da lógica dos homens. Os
homens sentem-se mais seguros e confortáveis diante de líderes vencedores, que
se impõem pela força e que exibem o seu poder através de gestos espectaculares;
e Deus aparece-lhes na figura de um obscuro carpinteiro galileu, condenado
pelas autoridades constituídas, abandonado por amigos e discípulos, escarnecido
pelas multidões, e morto numa cruz fora dos muros da cidade. Os homens gostam
de ser convencidos por projectos intelectualmente brilhantes, que apresentem
argumentos fortes e uma lógica inquestionável; e Deus oferece-lhes um projecto
de salvação que passa pela morte na cruz, em plena e radical contradição com
todos os esquemas mentais e toda a lógica humana. O apóstolo Paulo sugere-nos
uma conversão à lógica de Deus... É preciso que descubramos que a salvação, a
vida plena, a felicidade sem fim não está numa lógica de poder, de autoridade,
de riqueza, de importância, mas está no amor total, no dom da vida até às
últimas consequências, no serviço simples e humilde aos irmãos.
• A força e a "sabedoria de
Deus" manifestam-se na fragilidade, na pequenez, na obscuridade, na
pobreza, na humildade. Sendo assim, não nos parecem ridículas, descabidas e
pretensiosas as nossas poses de importância, de autoridade, de protagonismo, de
êxito humano?
• "Nós pregamos Cristo crucificado,
escândalo para os judeus e loucura para os gentios". Aqueles que têm
responsabilidade no anúncio do Evangelho devem anunciar a mensagem com verdade
e radicalidade, renunciando à tentação de a suavizar, de a tornar mais
"politicamente correcta", de a tornar menos radical e interpelativa.
Às vezes, o invólucro "brilhante" com que envolvemos a Palavra
torna-a mais atractiva, mas menos questionante e, portanto, menos transformadora.
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO - Jo 3,16
(escolher um dos 7 refrães)
1. Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo,
Senhor.
2. Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.
3. Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
4. Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.
5. Louvor a Vós, Jesus Cristo, Rei da eterna glória.
6. Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
7. A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Deus amou tanto o mundo que lhe deu o
seu Filho Unigénito;
quem acredita n'Ele tem a vida eterna.
EVANGELHO - Jo 2, 13-25
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo
segundo São João
Estava próxima a Páscoa dos judeus
e Jesus subiu a Jerusalém.
Encontrou no templo
os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas
e os cambistas sentados às bancas.
Fez então um chicote de cordas
e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois;
deitou por terra o dinheiro dos cambistas
e derrubou-lhes as mesas;
e disse aos que vendiam pombas:
«Tirai tudo isto daqui;
não façais da casa de meu Pai casa de comércio».
Os discípulos recordaram-se do que estava escrito:
«Devora-me o zelo pela tua casa».
Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe:
«Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?»
Jesus respondeu-lhes:
«Destruí este templo e em três dias o levantarei».
Disseram os judeus:
«Foram precisos quarenta e seis anos para se construir este templo
e Tu vais levantá-lo em três dias?»
Jesus, porém, falava do templo do seu corpo.
Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos,
os discípulos lembraram-se do que tinha dito
e acreditaram na Escritura e nas palavras que Jesus dissera.
Enquanto Jesus permaneceu em Jerusalém pela festa da Páscoa,
muitos, ao verem os milagres que fazia,
acreditaram no seu nome.
Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos
e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém:
Ele bem sabia o que há no homem.
AMBIENTE
O episódio que hoje nos é proposto
aparece na "secção introdutória" do Evangelho de João (cf. Jo
1,19-3,36), onde se diz quem é Jesus e se apresentam as grandes linhas
programáticas do seu ministério.
A cena situa-nos no Templo de Jerusalém. Trata-se desse Templo majestoso,
construído por Herodes para demonstrar as suas boas disposições para com o
culto a Jahwéh e para conseguir a benevolência dos judeus. A construção do
Templo iniciou-se em 19 a.C. e ficou essencialmente pronta no ano 9 d.C.
(embora os trabalhos só tivessem sido dados por concluídos em 63 d.C.). No ano
27 d.C., efectivamente, o Templo estava a ser construído há 46 anos e ainda não
estava terminado, conforme a observação que os dirigentes judeus fizeram a
Jesus (cf. Jo 2,20).
João situa o episódio nos dias que antecedem a festa da Páscoa. Era a época em
que as grandes multidões se concentravam em Jerusalém para celebrar a festa
principal do calendário religioso judaico. Jerusalém, que normalmente teria à
volta de 55.000 habitantes, chegava a albergar cerca de 125.000 peregrinos
nesta altura. No Templo sacrificavam-se cerca de 18.000 cordeiros, destinados à
celebração pascal.
Neste ambiente, o comércio relacionado com o Templo sofria um espantoso
incremento. Três semanas antes da Páscoa, começava a emissão de licenças para a
instalação dos postos comerciais à volta do Templo. O dinheiro arrecadado com a
emissão dessas licenças revertia para o sumo-sacerdote. Havia tendas de venda
que pertenciam, directamente, à família do sumo-sacerdote. Vendiam-se os
animais para os sacrifícios e vários outros produtos destinados à liturgia do
Templo. Havia, também, as tendas dos cambistas que trocavam as moedas romanas
correntes por moedas judaicas (os tributos dos fiéis para o Templo eram pagos
em moeda judaica, pois não era permitido que moedas com a efígie de imperadores
pagãos conspurcassem o tesouro do Templo). Este comércio constituía uma mais
valia para a cidade e sustentava a nobreza sacerdotal, o clero e os empregados
do Templo.
Vai ser neste contexto que Jesus vai realizar o seu gesto profético.
MENSAGEM
Os profetas de Israel tinham, em
diversas situações, criticado o culto sacrificial que Israel oferecia a Deus,
considerando-o como um conjunto de ritos estéreis, vazios e sem significado,
uma vez que não eram expressão verdadeira de amor a Jahwéh; tinham, inclusive,
denunciado a relação do culto com a injustiça e a exploração dos pobres (cf. Am
4,4-5; 5,21-25; Os 5,6-7; 8,13; Is 1,11-17; Jer 7,21-26). As considerações
proféticas tinham, de alguma forma, consolidado a ideia de que a chegada dos
tempos messiânicos implicaria a purificação e a moralização do culto prestado a
Jahwéh no Templo. O profeta Zacarias liga explicitamente o "dia do
Senhor" (o dia em que Deus vai intervir na história e construir um mundo
novo, através do Messias) com a purificação do culto e a eliminação dos
comerciantes que estão "no Templo do Senhor do universo" - Zac
14,21).
O gesto que o Evangelho deste domingo nos relata deve entender-se neste
enquadramento. Quando Jesus pega no chicote de cordas, expulsa do Templo os
vendedores de ovelhas, de bois e de pombas, deita por terra os trocos dos
banqueiros e derruba as mesas dos cambistas (vers. 14-16), está a revelar-Se
como "o messias" e a anunciar que chegaram os novos tempos, os tempos
messiânicos.
No entanto, Jesus vai bem mais longe do que os profetas vétero-testamentários.
Ao expulsar do Templo também as ovelhas e os bois que serviam para os ritos
sacrificiais que Israel oferecia a Jahwéh (João é o único dos evangelistas a
referir este pormenor), Jesus mostra que não propõe apenas uma reforma, mas a
abolição do próprio culto. O culto prestado a Deus no Templo de Jerusalém era,
antes de mais, algo sem sentido: ao transformar a casa de Deus num mercado, os
líderes judaicos tinham suprimido a presença de Deus... Mas, além disso, o
culto celebrado no Templo era algo de nefasto: em nome de Deus esse culto
criava exploração, miséria, injustiça e, por isso, em lugar de potenciar a
relação do homem com Deus, afastava o homem de Deus. Jesus, o Filho, com a
autoridade que Lhe vem do Pai, diz um claro "basta" a uma mentira com
a qual Deus não pode continuar a pactuar: "não façais da casa de meu Pai
casa de comércio" (vers. 16).
Os líderes judaicos ficam indignados. Quais são as credenciais de Jesus para
assumir uma atitude tão radical e grave? Com que legitimidade é que Ele se
arroga o direito de abolir o culto oficial prestado a Jahwéh?
A resposta de Jesus é, à primeira vista, estranha: "destruí este Templo e
Eu o reconstruirei em três dias" (vers. 19). Recorrendo à figura literária
do "mal-entendido" (propõe-se uma afirmação; os interlocutores
entendem-na de forma errada; aparece, então, a explicação final, que dá o
significado exacto do que se quer afirmar), João deixa claro que Jesus não Se
referia ao Templo de pedra onde Israel celebrava os seus ritos litúrgicos
(vers. 20), mas a um outro "Templo" que é o próprio Jesus ("Jesus,
porém, falava do Templo do seu corpo" - vers. 21). O que é que isto
significa? Jesus desafia os líderes que O questionaram a suprimir o Templo que
é Ele próprio, mas deixa claro que, três dias depois, esse Templo estará outra
vez erigido no meio dos homens. Jesus alude, evidentemente, à sua ressurreição.
A prova de que Jesus tem autoridade para "proceder deste modo" é que
os líderes não conseguirão suprimi-l'O. A ressurreição garante que Jesus vem de
Deus e que a sua actuação tem o selo de garantia de Deus.
No entanto, o mais notável, aqui, é que Jesus Se apresenta como o "novo
Templo". O Templo representava, no universo religioso judaico, a
residência de Deus, o lugar onde Deus Se revelava e onde Se tornava presente no
meio do seu Povo. Jesus é, agora, o lugar onde Deus reside, onde Se encontra
com os homens e onde Se manifesta ao mundo. É através de Jesus que o Pai
oferece aos homens o seu amor e a sua vida. Aquilo que a antiga Lei já não
conseguia fazer - estabelecer relação entre Deus e os homens - é Jesus que, a
partir de agora, o faz.
ACTUALIZAÇÃO
• Como é que podemos encontrar Deus e
chegar até Ele? Como podemos perceber as propostas de Deus e descobrir os seus
caminhos? O Evangelho deste domingo responde: é olhando para Jesus. Nas
palavras e nos gestos de Jesus, Deus revela-Se aos homens e manifesta-lhes o
seu amor, oferece aos homens a vida plena, faz-Se companheiro de caminhada dos
homens e aponta-lhes caminhos de salvação. Neste tempo de Quaresma - tempo de
caminhada para a vida nova do Homem Novo - somos convidados a olhar para Jesus
e a descobrir nas suas indicações, no seu anúncio, no seu "Evangelho"
essa proposta de vida nova que Deus nos quer apresentar.
• Os cristãos são aqueles que aderiram a
Cristo, que aceitaram integrar a sua comunidade, que comeram a sua carne e
beberam o seu sangue, que se identificaram com Ele. Membros do Corpo de Cristo,
os cristãos são pedras vivas desse novo Templo onde Deus Se manifesta ao mundo
e vem ao encontro dos homens para lhes oferecer a vida e a salvação. Esta
realidade supõe naturalmente, para os crentes, uma grande responsabilidade...
Os homens do nosso tempo têm de ver no rosto dos cristãos o rosto bondoso e
terno de Deus; têm de experimentar, nos gestos de partilha, de solidariedade,
de serviço, de perdão dos cristãos, a vida nova de Deus; têm de encontrar, na
preocupação dos cristãos com a justiça e com a paz, o anúncio desse mundo novo
que Deus quer oferecer a todos os homens. Talvez o facto de Deus parecer tão
ausente da vida, das preocupações e dos valores dos homens do nosso tempo tenha
a ver com o facto de os discípulos de Jesus se demitirem da sua missão e da sua
responsabilidade... O nosso testemunho pessoal é um sinal de Deus para os
irmãos que caminham ao nosso lado? A vida das nossas comunidades dá testemunho
da vida de Deus? A Igreja é essa "casa de Deus" onde qualquer homem
ou qualquer mulher pode encontrar essa proposta de libertação e de salvação que
Deus oferece a todos?
• Qual é o verdadeiro culto que Deus
espera? Evidentemente, não são os ritos solenes e pomposos, mas vazios,
estéreis e balofos. O culto que Deus aprecia é uma vida vivida na escuta das
suas propostas e traduzida em gestos concretos de doação, de entrega, de
serviço simples e humilde aos irmãos. Quando somos capazes de sair do nosso
comodismo e da nossa auto-suficiência para ir ao encontro do pobre, do
marginalizado, do estrangeiro, do doente, estamos a dar a resposta
"litúrgica" adequada ao amor e à generosidade de Deus para connosco.
• Ao gesto profético de Jesus, os
líderes judaicos respondem com incompreensão e arrogância. Consideram-se os
donos da verdade e os únicos intérpretes autênticos da vontade divina.
Instalados nas suas certezas e preconceitos, nem sequer admitem que a denúncia
que Jesus faz esteja correcta. A sua auto-suficiência impede-os de ver para
além dos seus projectos pessoais e de descobrir os projectos de Deus. Trata-se
de uma atitude que, mais uma vez, nos questiona... Quando nos barricamos atrás
de certezas absolutas e de atitudes intransigentes, podemos estar a fechar o
nosso coração aos desafios e à novidade de Deus.
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 3º
DOMINGO DA QUARESMA
(adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA
SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 3º Domingo da Quaresma, procurar
meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em
cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária
da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos
eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para
viver em pleno a Palavra de Deus.
2. PALAVRA DE VIDA.
Jesus vem mudar a maneira de encontrar Deus seu Pai. Até aqui bastava ir ao
templo, doravante é preciso escutar a mensagem de amor do seu Enviado e
beneficiar dos seus gestos de salvação, sinais da bondade de Jesus para com os
homens. Mesmo que se procure destruir o verdadeiro templo de Deus entre os
homens, o seu próprio Filho, Ele levantar-se-á. E quando tiver desaparecido aos
olhos dos homens, é a sua Igreja que será o novo templo, porque Deus vem morar
no meio dos homens. Se os seus discípulos se recordam das palavras e dos gestos
de Jesus, é para fazer memória da fidelidade de Deus. É com os olhos da fé que
reconheceram, nos sinais realizados por Jesus, a acção de Deus. E se hoje
podemos fazer memória da morte e da ressurreição de Cristo, tal acontece graças
a todos estes testemunhas que acreditaram e contaram o que tinham visto e
ouvido.
3. À ECUTA DA PALAVRA.
Imensa vocação de todo o baptizado... É no Templo de Jerusalém que Jesus tinha
estabelecido a sua morada. É certo que os Judeus sabiam que não se pode
encerrar Deus dentro de quatro muros. Mas era somente no Templo que era preciso
oferecer os sacrifícios, o culto de adoração e de acção de graças. É preciso
também dizer que os escribas e os doutores da Lei tinham bem fechado o acesso a
Deus. Eis que com Jesus surge algo de inaudito: Deus salta o muro! E a cólera
de Jesus é a manifestação disso. Doravante, Deus deixa-Se aproximar num homem
que não é um especialista do Templo, um homem que encontra as prostitutas, os
publicanos, que come com eles, sem nunca pedir a ninguém para ir primeiro
purificar-se no Templo. Doravante, dirá São Paulo, "em Jesus temos livre
acesso ao Pai". Quando vamos comungar, é este homem, Jesus ressuscitado,
que vem encher-nos com a sua Presença. E, de repente, tornamo-nos a Presença de
Deus junto dos nossos irmãos e das nossas irmãs. Imensa vocação de todo o
baptizado! Estamos verdadeiramente conscientes disso?
4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE...
Reler e meditar os dez Mandamentos... Esta semana, somos convidados a retomar
muitas vezes esta oração do Salmo 18, a cantar este louvor da lei do Senhor,
que é um apoio para a nossa vida, que nos ajuda ao discernimento, que nos dá a
sabedoria e vai guiar-nos na boa direcção se nos deixarmos conduzir pelo
Espírito do Senhor... Convite à disponibilidade, à confiança. De seguida,
convite a reler e meditar estes "dez mandamentos" que pensamos
conhecer: embora sendo da "antiga Aliança", têm algo a dizer-nos e a
revelar-nos de Deus, que só quer a nossa felicidade.
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
Tel. 218540900 - Fax: 218540909
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