03 de junho
A liturgia da “vinha de Deus” para falar desse
Povo que aceita o desafio do amor de Deus e que se coloca ao serviço de Deus.
Desse Povo, Deus exige frutos de amor, de paz, de justiça, de bondade e de
misericórdia.
Na primeira leitura, o profeta Isaías dá conta do amor e da solicitude de Deus
pela sua “vinha”. Esse amor e essa solicitude não podem, no entanto, ter como
contrapartida frutos de egoísmo e de injustiça… O Povo de Jahwéh tem de
deixar-se transformar pelo amor sempre fiel de Deus e produzir os frutos bons
que Deus aprecia - a justiça, o direito, o respeito pelos mandamentos, a
fidelidade à Aliança.
Na segunda leitura, Paulo exorta os cristãos da cidade grega de Filipos - e
todos os que fazem parte da “vinha de Deus” - a viverem na alegria e na
serenidade, respeitando o que é verdadeiro, nobre, justo e digno. São esses os
frutos que Deus espera da sua “vinha”.
No Evangelho, Jesus retoma a imagem da “vinha”. Critica fortemente os líderes
judaicos que se apropriaram em benefício próprio da “vinha de Deus” e que se
recusaram sempre a oferecer a Deus os frutos que lhe eram devidos. Jesus
anuncia que a “vinha” vai ser-lhes retirada e vai ser confiada a trabalhadores
que produzam e que entreguem a Deus os frutos que ele espera.
Primeira
Leitura - Leitura do livro do profeta Isaías (Is 5, 1-7)
O
encontro com o amor de Deus tem de significar uma efetiva transformação do
nosso coração e tem de levar-nos ao amor, ao irmão... Quem trata os irmãos com
arrogância, quem assume atitudes duras, agressivas e intolerantes, quem pratica
a injustiça e espezinha os direitos dos mais débeis, quem é insensível aos dramas
dos irmãos, certamente ainda não fez a experiência do amor de Deus.
Segunda Leitura - Carta de São Paulo
apóstolo aos Filipenses (Fl 4, 6-9)
Os
cristãos não são pessoas fracassadas, alienadas, falhadas, mas pessoas com um
objetivo final bem definido e bem sugestivo. O caminho de Cristo é um caminho
de dom e de entrega da vida; não é um caminho de tristeza e de frustração.
Por quê, então, a tristeza, a
inquietação, o desânimo com que, tantas vezes, enfrentamos as vicissitudes e as
dificuldades da nossa caminhada?
Porque é que, tantas vezes, saímos das nossas celebrações eucarísticas
cabisbaixos, intranqüilos, de semblantes tristonhos e ar irritado?
Os irmãos que nos rodeiam e que nos olham nos olhos recebem de nós um
testemunho de paz, de serenidade, de tranqüilidade?
Evangelho de Jesus Cristo, segundo
Mateus (Mt 21, 33-43)
A
parábola fala de trabalhadores da “vinha” de Deus que rejeitam o “filho” de
forma absoluta e radical. É provável que nenhum de nós, por um ato de vontade
consciente, se coloque numa atitude semelhante e rejeite Jesus.
No entanto, fica a pergunta no ar: As
propostas de Jesus são, para nós, valores consistentes, que procuramos integrar
na nossa existência e que servem de alicerce à construção da nossa vida, ou são
valores dos quais nos descartamos com facilidade, sob pressão de interesses
egoístas e de acomodação?
Comentário Quem são os amos da Vinha?
A tentação permanente de quem tem o
“poder” é: apoderar-se do que não é seu! Isto se passa quase imperceptivelmente
do serviço à posse. Os melhores servidores ou servidoras - se não
prestarem atenção - acabam convertendo-se em proprietários ou proprietárias. E
isso é muito perigoso!
Jesus exagera ao máximo essa possibilidade. Na parábola nos fala de "um
proprietário" que plantou uma vinha e de alguns "lavradores" que
trabalhavam na vinha. Estes, ao chegar o tempo da vindima (colheita das uvas),
se apropriaram dela e começaram a impor seu poder, acabando com todos os que
eram enviados a ela, até com o Filho do proprietário. Ao final estavam sós,
impondo sua ditadura! ... Porém, fica no ar a grande pergunta: "quando
voltar o dono da vinha, o que fará com aqueles lavradores?”
Todos nós somos Igreja! As mulheres e os varões! Os laicos e os ministros
ordenados! Os seculares e os religiosos! Os jovens e as crianças, os adultos e
os anciãos! Os casados e os celibatários! Os africanos, os asiáticos, os
americanos e os europeus! Os grupos e os movimentos poderosos e também as
comunidades pequenas sem muitos recursos! Todos nós somos Igreja, todos somos a Vinha amada de Deus!
Nada, ninguém, senão Jesus é o centro da Igreja. Nada, nenhum grupo, deveria
usurpar aquilo que foi concedido a todos em herança. Somos Corpo e cada um de
nós é o membro. Cada um tem sua função, mas ninguém, nenhum grupo, deve “suplantar"
aos demais. É necessário criar espaços para que todo o corpo funcione evitando
áreas de paralisia, ou áreas de competitividade que elimina o
"outro."
Os do "ordeno e mando", os que sempre tem razão, quem impõem seu
poder, que introduzem uma ditadura na Vinha do Senhor e querem monopolizar
tudo, absorver tudo, dirigir tudo, não completam a vontade do Proprietário. São
como os lavradores da parábola. Sempre me pergunto: como é possível que em uma
grande comunidade de irmãos, todos ungidos pelo Espírito de Deus, tenha alguns
que se sintam tão "privilegiados" que querem supor que eles ou elas
tenham toda a razão e que os demais devam aplaudir e aceitar o que eles dizem?
Como é possível tanta hipocrisia, como para condenar os que não pensam como eu
ou como o meu grupo, sem descobrir minha fraqueza, meu pecado e minha mentira?
Ouço muitos irmãos e irmãs, em muitas partes da Igreja, reclamar de pequenas
ditaduras às que são submetidos e que fazem a vida eclesiástica muito
difícil; se sentem estranhos na própria casa, espancados na Vinha.
Não se pode impunemente dizer "em nome de Deus!", "em nome de
Jesus Cristo!" para impor o próprio ponto de vista, para condenar o
oponente, para defender interesses muito particulares. Se alguma vez se diz,
que seja com medo e tremor. É que o Espírito envia mensagens e mensageiros que
nós não esperamos. O mesmo Filho
de Deus chega a nós com formas inesperadas, com expressões novas. Quem
é movido pelo Espírito de Deus a reconhecem e acolhem.
Abbá nosso, como é fácil nós apropriarmos de teus dons! E quando isso
acontece, não damos glória a Ti, mas nós apropriamos de tua Gloria. Tu nos amaa
todos "Vinha tua”, sem lavradores proprietários... Todos nós somos
partícipes da comunhão no serviço. Livra a tua Igreja de toda a ditadura, dos
maus pastores que utilizam teu santo nome para impor sua vontade. Purifica os
poderes, santifica os poderes, humaniza os poderes... que teu Espírito nos
conceda o crescimento. Dá viabilidade também aos "novos poderes carismáticos" com
que agracias a tua vinha: que sejam acolhidas e acolhidos os teus
enviados... Com elas e eles nos chega teu Filho Amado, o que unicamente
proclamamosnosso Senhor!.
José Cristo Rey Garcia Paredes
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