SEGUNDA – DIA 26 - Evangelho Lc 6,36-38
Neste Evangelho, Jesus nos pede para sermos
misericordiosos. E explica o que isso significa: Não julgar ninguém, não
condenar ninguém, perdoar a todos que nos ofendem e partilhar os nossos bens
com os que precisam.
O exemplo ou modelo que ele nos apresenta é o
próprio Deus Pai, que nos perdoa, nos ajuda e é misericordioso conosco.
Misericórdia é a compaixão suscitada pela
miséria alheia. Vem do latim: “mittere + cor” = Jogar o coração. Misericórdia é
mais que simples sentimento de compaixão. É a compaixão levada à ação; é fazer
alguma coisa para ajudar a pessoa da qual sentimos compaixão.
A pessoa misericordiosa “tudo crê, tudo
espera, tudo suporta”. Sempre descobre o lado bom das pessoas. Afinal, todos
nós, mesmo os maiores criminosos, no fundo, somos bons, pois fomos criados por
Deus e ele só faz coisas boas.
No catecismo, as crianças decoram as catorze
obras de misericórdia, sete corporais e sete espirituais. As corporais são: dar
de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar
abrigo aos peregrinos, visitar os doentes e encarcerados, libertar os
escravizados e sepultar os mortos. Elas seguem, quase literalmente, Mt
25,31-46, onde Jesus nos diz o que vai cobrar de nós no Juízo Final. Portanto,
se trata de coisa séria, pois está em jogo a nossa salvação.
As espirituais são: dar bom conselho, ensinar
os que não sabem, corrigir os que erram, consolar os aflitos, perdoar as
ofensas, suportar as fraquezas do próximo e orar pelos vivos e falecidos.
A pessoa misericordiosa tem um amor
compreensivo. É muito comum essas pessoas usarem a expressão: “Coitado!”
“Perdoai e sereis perdoados.” É o que rezamos
no Pai Nosso: “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem
nos tem ofendido”. Todos nós somos pecadores e temos dívidas com Deus. Só
entraremos no céu se ele nos perdoar. Acontece que o perdão de Deus a nós é do
tamanho do nosso perdão aos nossos irmãos.
O perdão faz feliz não só quem é perdoado,
mas também quem perdoa. Quanto mais reconhecemos que somos pecadores, mais
sentimos a necessidade de perdoar os outros, a fim de sermos também perdoados
por Deus. Temos dois caminhos: ou abrimos o nosso coração à generosidade e à
misericórdia, ou nos fechamos na nossa própria mesquinhez e intransigência.
“Dai e vos será dado. Uma medida calcada,
sacudida e transbordante será colocada no vosso colo.” Jesus usa como
comparação a medida de grãos, usada nos armazéns antigos. Por exemplo, se uma
pessoa queria comprar cinco litros de feijão, o balconista enchia a vasilha de
cinco litros, depois sacudia (abaixava um pouco), socava (abaixava mais), em
seguida punha mais feijão até derramar. Isso é generosidade! É assim que Deus
faz para recompensar as nossas obras de misericórdia.
Jesus, quando estava na cruz, deu-nos um belo
exemplo de amor misericordioso, quando rezou: “Pai, perdoai-lhes, eles não
sabem o que fazem!” Também quando disse ao bom ladrão: “Ainda hoje estarás
comigo no paraíso”. Que exemplo para nós!
Não temos outra opção: ou aceitamos os outros
com as suas limitações humanas, ou nos fechamos na nossa pequenez e egoísmo.
Está aí uma grande oportunidade de conversão nesta quaresma.
E não vale o “perdôo mas não esqueço”, porque
seria perdão pela metade. Se a fraqueza cometida por nosso irmão chegar à nossa
memória, que seja rebatida com a virtude da misericórdia.
Sobre a Campanha da Fraternidade – economia e
vida – lembramos que justiça não é “dar a cada um o que lhe pertence” ou “pagar
pelo trabalho que fez”, mas é dar a cada um o necessário para viver dignamente.
Que os bens que vêm de Deus sejam distribuídos para todos os seus filhos e
filhas, sem excluir ninguém. Economia significa, literalmente, administração da
casa. Que esta grande casa de Deus, o planeta terra, seja bem administrado,
colocando a vida em primeiro lugar. Há cidades que estão usando, em vez do
conhecido saquinho de supermercado, sacolas de papel, que são biodegradáveis e
não poluem a natureza. Que a economia esteja a serviço da vida, não o
contrário, a vida a serviço da economia.
Havia, certa vez, um operário de construção
que todos os dias comia a mesma coisa: sanduíche de queijo. Os outros operários
esperavam com alegria o toque da sirene para o almoço, quando se dirigiam ao
galpão, onde haviam guardado suas refeições. Uns esquentavam, outros não. Quase
sempre feijão, arroz e um pedaço de carne. Todos comiam com visível prazer. Mas
aquele trabalhador comia seu sanduíche de queijo reclamando. Todos os dias ele
dizia: “Detesto sanduíche de queijo”. Comia silenciosamente e no final amassava
o papel, jogava-o no lixo e repetia a ladainha: “Detesto sanduíche de queijo”.
Um dia, um dos colegas sugeriu: “Por que você
não pede a sua esposa que faça um sanduíche diferente?” Ele respondeu: “Quem
disse que é a minha esposa quem prepara o sanduíche? Sou eu mesmo que o
preparo”.
Já pensou? Cada um colhe aquilo que planta;
cada um come o sanduíche que preparou. À semelhança desse caso, muitas vezes as
nossas desavenças nascem de nós mesmos. Somos nós que fazemos uma imagem do
outro, que não corresponde à realidade. Depois começamos a nos desentender com
o próximo, baseados numa imagem dele que nós mesmos criamos.
Maria Santíssima, no Magnificat, cantou a
misericórdia de Deus: “A sua misericórdia de estende de geração em geração”.
“Salve Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve!”
Perdoai e sereis perdoados.
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