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Fevereiro 2018
Lectio
Primeira
leitura: Ezequiel 18, 21-28
Assim fala
o Senhor. 21 *«Se o pecador renuncia a todos os pecados que cometeu, se observa
todas as minhas leis e pratica o direito e a justiça, ele deve viver, não
morrerá. 22Não serão lembradas as faltas que cometeu, viverá por causa da
justiça que praticou. 23Porventura me hei-de comprazer com a morte do pecador
õráculo do Senhor DEUS- e não com o facto de ele se converter e viver? 24Mas se
o justo se desvia da sua justiça e pratica o mal, imitando os crimes abomináveis
a que se entrega o pecador, porventura viverá? A justiça que praticou não será
recordada; por causa da infidelidade a que se entregou e do pecado que cometeu,
morrerá. 25Porém, vós dizeis: ‘O modo de proceder do Senhor não é justo. ‘
Escutai, pois, casa de Israel:
Então é o
meu modo de agir que não é justo? Ou é o vosso que o não é ? 26Se o justo se
afasta da sua justiça para praticar o mal e morre por causa disto, é por causa
do mal que praticou que ele morrerá. 27Se o pecador se afasta do pecado que cometeu
para praticar o direito e a justiça, ele merece viver. 28Se ele se afasta dos
pecados que cometeu, viverá certamente, não morrerá.
o capítulo
18 de Ezequiel assinala um notável progresso da revelação. Israel já
compreendera que a sua dignidade derivava da sua eleição, de ser «povo eteni».
Também já tinha tomado consciência da responsabilidade colectiva do pecado (cf.
Dt 5, 9s.). Mas Jeremias alertara também para o «pecado pessoa!», isto é, para
o facto de que cada um é o primeiro responsável pelas suas acções (cf. Jer 31,
29ss). Ezequiel retoma estas afirmações e vai mais longe.
Os
exilados estavam convencidos de que sofriam pelos pecados dos pais.
Ezequiel
diz-lhes que é cada um que decide o seu destino, com o seu modo de agir, e
acrescenta que, também o destino pessoal, não é imutável. Deus é Deus de vida e
não encontra felicidade na morte do pecador. Espera e suscita a conversão de
cada um, para que viva.
Por isso,
a vida nova é uma possibilidade ao alcance do pecador, que pode converter-se.
Mas também o justo deve continuar atento e perseverante no cumprimento da
vontade de Deus. Ninguém é justo de uma vez por todas. Mas é aderindo a Deus e
à sua vontade, cada dia, que vivemos na justiça.
Evangelho:
Mateus 5, 20-26
20Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Se a vossa justiça não superar a dos
doutores da Lei e dos fariseus, não entrareis no Reino do Céu.» 21 *«Ouvistes o
que foi dito aos antigos: Não matarás. Aquele que matar terá de responder em
juízo. 22*Eu, porém, digo-vos: Quem se irritar contra o seu irmão será réu
perante o tribunal; quem lhe chamar ‘imbecil’ será réu diante do Conselho; e
quem lhe chamar ‘louco’ será réu da Geena do fogo. 23Se fores, portanto,
apresentar uma oferta sobre o altar e ali te recordares de que o teu irmão tem
alguma coisa contra ti, 24deixa lá a tua oferta diante do altar, e vai primeiro
reconciliar-te com o teu irmão; depois, volta para apresentar a tua oferta.
25*Com o teu adversário mostra-te conciliador, enquanto caminhardes juntos,
para não acontecer que ele te entregue ao juiz e este à guarda e te mandem para
a prisão. 26Em verdade te digo: Não sairás de lá até que pagues o último
centavo.»
Jesus
exige aos seus discípulos, para entrarem no reino dos céus, uma justiça
superabundante, em comparação com a dos escribas e fariseus. Mas pede ainda
mais, porque dá aquilo que pede. E é esta a grande novidade que tudo muda. Não
se trata apenas de observar as prescrições e proibições da Lei. É preciso
partir do coração, donde brotam as motivações profundas do nosso agir.
A partir
do v. 21, o texto que escutámos, oferece várias explicitações sobre essa
justiça superior, introduzidas por: «foi dito», expressão no chamado passivo
divino que, portanto, significa: «Deus disse». O homicídio, que é um crime que
é levado a juízo, começa no coração de quem o comete. Por isso, quem se ira
contra o irmão merece igual castigo. Uma injúria exige maior pena: o juízo do
sinédrio. Um insulto ofensivo merece a condenação pelo supremo Juiz, com o fogo
eterno (v. 22). Também o culto, mais do que uma purificação exterior, exige um
coração pacificado e construtor de paz. Por isso, não tolera divisões entre os
irmãos, e sabe dar o primeiro passo em ordem à reconciliação, condição
essencial para ter comunhão com o Senhor (vv. 23ss.).
O v. 25
sublinha a urgência da reconciliação em perspectiva escatológica: o outro já
não é o irmão, mas o adversário, o acusador. É preciso reconciliar-se também
com ele, porque no fim do caminho está à nossa espera o justo Juiz. É preciso
estar preparado para enfrentar o seu juízo.
Meditatio
A
conversão do pecador, enquanto vive neste mundo, é possível. Deus promete a
vida a quem se converter: «não morrerá. .. viverá por causa da justiça que
prsticoo» (cf. vv. 21.22). É um recurso da misericórdia divina para nos motivar
à conversão.
No
evangelho, Jesus aconselha a pôr-nos de acordo com o nosso adversário, enquanto
vamos a caminho. Esse adversário, em certo sentido, pode ser o próprio Deus,
quando estamos em pecado. Mas, como nos diz a primeira leitura, também podemos
pôr-nos de acordo com Ele: «Se o pecador renuncia a todos os pecados … se
observa todas as minhas leis e pratica o direito e a justiça, ele deve viver,
não morrerá. Não serão lembradas as faltas que cometeu … viverá. .. » (vv.
21-22). O maior pecado consiste em desesperar da salvação. Pensar que é
impossível mudar, é uma terrível tentação, que pode encerrar-nos
definitivamente nos nossos defeitos e pecados. Deus, pela boca do profeta,
diz-nos que é possível mudar e incita-nos à mudança, porque prefere dar-nos a
vida do que o castigo eterno: «Porventura me heide comprazer com a morte do
pecador õráculo do Senhor DEUS – e não com o facto de ele se converter e
viver?» (v. 23). Tal como o pai do filho pródigo, o que Deus mais quer é
ver-nos voltar para Ele.
A atitude
de Deus, deve iluminar a nossa relação com todos os irmãos, também com aqueles
que julgamos pecadores ou cheios de defeitos. Quem somos nós para julgar o
nosso próximo. Há mesmo que evitar classificá-los em compartimentos estanques
de bons e de maus. Com efeito, se o bom se pode tornar mau, o mau também se
pode tornar bom, pode converter-se, mudar de vida. A caridade sabe esperar a
hora da mudança, a conversão, a melhoria de vida e de atitudes dos outros. As
nossas Constituições lembram-nos: «A caridade deve ser u
ma esperança activa daquilo que os outros podem vir a ser com a ajuda do nosso apoio fraterno» (Cst 64).
ma esperança activa daquilo que os outros podem vir a ser com a ajuda do nosso apoio fraterno» (Cst 64).
Mais do
que classificar os irmãos, há que ajudá-los a mudar, a converter-se. Mas será
bom lembrar todo o n. 64 das Constituições: «Certamente imperfeitos, como todo
o cristão, queremos, no entanto, criar um ambiente que promova o progresso
espiritual de cada um. Como consegui-lo, a não ser aprofundando no Senhor as
nossas relações, mesmo as mais normais, com cada um dos nossos irmãos? A
caridade deve ser uma esperança activa daquilo que os outros podem vir a ser
com a ajuda do nosso apoio fraterno. O sinal da sua autenticidade será a
simplicidade com que todos se esforçam por compreender o que cada um tem a
peito (cf. ET 39)>>.
Quando se
aproximavam de Jesus, os pecadores tornavam-se mais justos do que os fariseus.
Estes limitavam a sua justiça ao conhecimento da Lei e à prática escrupulosa
dos preceitos. O pecador que é tocado pelo amor de Jesus muda interiormente, ao
nível do próprio ser.
Na relação
com o Senhor, e aprofundando n ‘ Ele as nossas relações fraternas, podemos
mudar para melhor e ajudar os outros a melhor também.
A caridade
é também "uma esperança activa daquilo que os outros podem vir a ser com a
ajuda do nosso apoio fraterno. O sinal da sua autenticidade será a simplicidade
com que todos se esforçam por compreender aquilo que cada um tem a peito (cf.
ET 39" (n. 64). Cada um tem a peito a sua dignidade e liberdade, porque,
sem estes valores, não são criaturas humanas, nem filhos de Deus, nem
religiosos.
Oratio
Jesus
misericordioso, faz-me compreender que posso mudar para melhor, que posso
converter-me e que estás disposto a ajudar-me a transformar-me com a tua graça.
Afasta de mim a tentação do desespero ou da acomodação nos meus defeitos.
Aproximando-me de Ti, posso converter-me, transformar-me interiormente,
conformando-me cada vez mais à tua imagem e semelhança.
Faz-me acreditar
que também os meus irmãos podem mudar e tornar-se, cada vez mais, tua imagem e
semelhança, também com a minha ajuda.
Eis-me
aqui, Senhor: converte-me e converter-me-ei! Uma vez convertido, faz de mim
instrumento e servidor da reconciliação dos homens Contigo e entre si. Para que
tenha a vida, e a tenham em abundância! Amen.
Contemplatio
Esta
parábola (do filho pródigo) é fecunda em ensinamentos. Os publica nos e os
pecadores vinham ter com Nosso Senhor. Ele recebia-os com bondade. Os fariseus
e os escribas estavam escandalizados. Com esta parábola Nosso Senhor encoraja
os pecadores arrependidos e generosos, mostra-lhes a sua ternura com a qual
acolhe as ovelhas desgarradas. E assim, responde indirectamente aos fariseus.
Quando uma
alma se separa de Nosso Senhor para se entregar às suas paixões, Ele não faz um
milagre para a reter contra a sua vontade. Lamenta que façamos um mau uso dos
seus dons, mas não atenta contra a nossa liberdade, não pode. Deplora o mau uso
que fazemos de um privilégio que deu aos homens para lhes permitir darem ao seu
Pai e a Ele um amor livre, e de servirem a Deus não como escravos, mas como
servos afeiçoados, voluntária e livremente agarrados ao seu mestre. Como o pai
desta parábola, deixa o pobre coração abusar em todo a liberdade dos dons que
recebeu.
Deixa o
pecador esgotar o primeiro furor da paixão; depois quando vem o período da
fadiga e do tédio, vem com as suas primeiras inspirações salutares (Leão Dehon,
OSP 4, p. 123).
Actio
Repete
frequentemente e vive hoje a palavra:
«Se o
pecador renuncia aos seus pecados … viverá» (cf. Ez 18, 21-22)
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