No mesmo instante, o homem ficou curado.
Este Evangelho narra a cura, feita por Jesus, de um homem doente que
estava ao lado da piscina de Betesda, havia trinta e oito anos. Ali perto, em
Epidauro, havia um santuário pagão, dedicado ao deus da saúde Esculápio, que
influenciava na esperança daqueles doentes que ali ficavam ao lado da piscina,
esperando a cura, que nunca vinha. Esse homem curado por Jesus é um símbolo das
pessoas enganadas pela sociedade consumista e alienadora.
Jesus vai até o doente, cura-o e manda que ele mesmo carregue a sua
cama. A diferença entre Jesus e os donos da piscina é que eles prometiam para o
futuro, Jesus liberta agora. Para eles, a pessoa não podia libertar-se sozinha,
Jesus manda que o curado se liberte com as próprias forças, carregando a sua
cama.
Mas, no caminho, outro problema: os judeus queriam impedi-lo de carregar
a própria cama, por ser sábado. Intimidam-no. Duas pessoas foram ao encontro
daquele doente: Jesus, que o liberta, e o judeu, que quer impedir essa
libertação.
Jesus se preocupava com a vida das pessoas. Para ele, o importante é
defender e promover a vida, mesmo que para isso seja necessário desobedecer a
alguma lei ou autoridade. Os judeus, ao contrário, estavam preocupados com as
leis, pouco se interessando pela vida humana.
Na sociedade atual, acontece algo parecido: todos querem ter um “lugar
ao sol”. Mas é difícil, porque cada vez que um levanta a cabeça, vêm as
pauladas, tentando afundá-lo novamente, a fim de que não concorra a este “lugar
ao sol”. Na hora da eleição, sempre surgem novas artimanhas, a fim de enganar o
povo.
Uma das grandes armas que os opressores usam para alienar o povo é o
paternalismo. O paternalista não promove o necessitado, pelo contrário, ele se
projeta às custas do necessitado, que continua cada vez mais necessitado. Os
mantenedores da piscina de Betesda eram paternalistas..
O pobre tem a tendência de destacar as próprias limitações e
incapacidades, e de exaltar as qualidades do “pai” que o ajuda. O pobre faz
isso a fim de ganhar mais favores do “pai”. Ele diz: “Nós somos fracos, ele (o
paternalista) é forte, é quase um “deus” para nós”. Isso impede a libertação
dos dependentes, pois esta libertação consiste justamente no contrário:
destacar as próprias forças, competências e virtudes.
O assistencialismo é a ferramenta que o paternalista usa para se
projetar diante dos pobres. O assistencialismo amarra as mãos dos “assistidos”.
Não confunda com a assistência prestada pelas obras assistenciais. Esta une as
duas coisas: a ajuda e a promoção. Muitas vezes, antes de ensinar a pescar,
temos de dar um pouco de peixe.
“Senhor, não tenho ninguém que me leve à piscina, quando a água é
agitada. Quando estou chegando, outro entra na minha frente. Jesus disse:
Levanta-te, pega a tua cama e anda.” Apareceu alguém que tomou sobre si as
dores daquele doente, e o libertou. Custou caro, pois o gesto, unidos com
outros semelhantes, lhe trouxe a morte.
“Em tudo vos mostrei que, trabalhando desse modo, se deve ajudar aos
mais fracos, recordando as palavras do Senhor Jesus que disse: há mais
felicidade em dar do que em receber” (At 20,35).
Na Missa, a consagração do pão e do vinho separados, tornando-se o corpo
e o sangue de Cristo, nos lembra a sua morte. Morreu para que tenhamos vida, e
para que, como seus continuadores, nos empenhemos na libertação de todas as
alienações.
Agora, na quaresma, Cristo nos faz a mesma pergunta que fez ao homem
doente: “Queres ficar são? Queres curar-te do teu pecado e comodismo? Queres
deixar a tua maca de inválido e começar a caminhar com as próprias pernas, sem
in na onda da mídia? Queres mergulhar na piscina da Água Viva, matando a tua
sede de felicidade e de libertação total? A turma do “deixa disso” vai
aparecer, pois viviam às custas da tua invalidez, mas não lhes dês ouvidos,
pois o que te espera é a filiação divina e a fraternidade eclesial”.
Certa vez, um alpinista estava escalando uma montanha e se perdeu.
Amarrou-se bem em sua corda de segurança e começou a subir e descer pedras. Mas
a noite chegou, uma noite totalmente escura, sem lua nem estrelas, e ele não
encontrou o caminho.
Numa hora, coitado, escorregou-se e caiu vários metros, ficando
dependurado na corda e balançando no ar. Uma voz interior lhe dizia: “Pula!
Solte-se dessa corda!” Mas ele teve medo e continuou ali, dependurado na corda,
balançando pra lá e pra cá.
No outro dia, os bombeiros o encontraram morto e congelado pelo intenso
frio, suspenso na corda, a apenas dois metros do chão!
Faltou-lhe uma oração e uma reflexão com calma a procura de saídas, por
exemplo, jogar um objeto para ouvir o barulho e medir a distância.
Deus nos enriqueceu com mil recursos, e nos assiste vinte e quatro horas
por dia. Com ele não existe barreira sem brecha, problema sem solução.
Quando estiver em situação parecida, não vamos agarrar-nos mais ainda na
nossa corda, nas nossas limitadas seguranças, mas jogar-nos na total e
ilimitada segurança que é Deus. Você continua ainda segurando firme na sua
corda? Que pena!
Campanha da fraternidade. Há três tipos de violência: a física, a
simbólica e a estrutural. A violência física nós conhecemos. A simbólica é a
que se faz pela mídia, a qual explora fatos sem dar espaço para análise; é
também a coação, a humilhação, a intimidação, a mentira, a ameaça, a negação de
informações, a privação dos bens necessários à subsistência... Muita gente não
pratica a violência física mas pratica a simbólica! A violência simbólica leva
à violência física.
A violência estrutural, que também leva à violência física, é a negação
da cidadania ou da igualdade, de forma sistemática. “Todas as pessoas são
iguais, porém algumas são mais iguais que as outras”. Por exemplo, hospitais
cheios de leitos vazios, médicos e enfermeiros ociosos e o povo em volta
precisando tratamento médico e não tendo acesso.
Existe violência na família: Educação inadequada e de forma incorreta,
separação ou brigas dos pais, pedofilia, maus tratos ou descaso dos idosos,
aborto que é pior que matar uma criança inocente andando na rua, pois a criança
já viu a luz do dia e pode se defender, ao passo que o feto não.
Maria Santíssima foi escolhida como Mãe do Messias. Esta era a maior
dignidade de uma mulher judia, na sua época. Mesmo assim, ela se considerava
serva. Santa Maria, rogai por nós!
No mesmo instante, o homem ficou curado.