QUINTA – DIA 15 - Evangelho Lc 9,22-25
Neste Evangelho, Jesus nos fala abertamente a
respeito das perseguições que sofrerá, dos seus sofrimentos e morte, mas afirma
que ressuscitará ao terceiro dia. E ele nos alerta que, se quisermos segui-lo,
a nossa sorte será a mesma. Mas garante: “Quem perder sua vida por causa de
mim, esse a salvará”.
Ser cristão não é título honorífico, mas tem
um alto preço: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz
cada dia e siga-me”. Cada dia porque o importante é a perseverança nos pequenos
atos e acontecimentos de cada dia, anos a fio. Os verbos renunciar, carregar a
cruz e seguir a Jesus são sinônimos, como o são perder a vida e salva-la
definitivamente.
Este é o segredo da quaresma: passar pela
cruz para chegar à Páscoa; perder a vida para a ganhar, como Cristo e em plena
solidariedade com ele. A ressurreição é um presente maravilhoso de Deus, mas
tem um preço, que é o mesmo preço que Jesus pagou: a cruz, e a cruz até o fim,
até a morte.
Como a nossa natureza é ferida pelo pecado,
faz parte do seguimento de Jesus a renúncia a nós mesmos. Portanto, não é pouca
renúncia; aliás é a maior renúncia que existe. Por outro lado, a recompensa não
será pequena: a vida eterna, isto é, a vida sem fim com Deus e com a sua e
nossa Família, numa felicidade também infinita.
Concluindo, Jesus nos motiva a segui-lo,
apesar desses tropeço: “O que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, se se
perde e se destrói a si mesmo?” Destrói-se a si mesmo porque sua vida abundante
vai terminar na morte. Depois, será um eterno sofrimento.
Nós celebramos todos os anos a Páscoa, não é
só para recordar e agradecer a Deus a redenção.. O acontecimento, pela graça de
Deus, se torna atual e a redenção, em seus efeitos, acontece novamente. Passado
um ano, nós estamos em situação diferente, vivendo em contexto de vida, por
isso precisamos ser novamente redimidos e transformados por Cristo.
Por isso que o batismo tem relevância na
Páscoa. É um reassumir do nosso Batismo, com suas glórias e compromissos. A
palavra penitência resume bem a caminhada quaresmal, porque é um esforço
acentuado de vida nova e transformada pelo Evangelho.
Os três grandes sacramentos da renovação
quaresmal são o Batismo, a Confissão e a Eucaristia, porque os três são
eminentemente sacramentos pascais.
A nossa celebração da quaresma não consiste
apenas no acréscimo de algumas devoções e exercícios de ascese. Somos parte de
uma sociedade, e nela colaboramos em suas virtudes e pecados. Cada cristão que
se santifica, santifica o mundo em volta de si.
Havia, certa vez, um senhor que morava no
sertão, muito distante da cidade. Ele tinha um violino e gostava de tocá-lo.
Mas o violino desafinou, e ele não tinha o diapasão, um instrumento que dá para
o músico uma nota no tom natural, a fim de que, a partir dela ele afine o
instrumento musical. Então o homem mandou uma carta para um radialista, de cujo
programa ele gostava muito, pedindo que ele lhe desse, pelo rádio a nota
"la". Logo que recebeu a carta, o radialista tocou várias vezes a
nota "la", e o homem afinou o seu violino.
Quaresma é tempo de afinarmos o nosso violino
com Cristo, nosso caminho, verdade e vida. O radialista que nos trás a nota é a
Sagrada Escritura, interpretada de acordo com quem a escreveu, que é a Igreja.
O Papa Bento 16, quando esteve em Aparecida,
disse que a causa que leva um grande número de católicos brasileiros passarem
para as outras religiões é a falta de catequese, especialmente catequese sobre
a Igreja. Não podemos deixar de falar certas verdades sobre a Igreja, “para não
ofender ninguém”.
Se estivermos junto com Maria Santíssima, ela
não permitirá que morramos com o nosso violino desafinado, pois isto estragaria
a beleza da orquestra do céu. Se tivermos alguma nota perdida, peçamos a ela
que com certeza nos ajudará a encontrá-la.
Quem perder sua vida por causa de mim, esse a
salvará.
Padre Antonio Queiroz
Nenhum comentário:
Postar um comentário