Dia 16
Dias virão em que o noivo lhes será tirado, e
então jejuarão.
Este Evangelho nos conta que um dia os
discípulos de João Batista procuraram Jesus e lhe perguntaram: “Por que razão
nós e os fariseus praticamos o jejum, mas os teus discípulos não?” Jesus
respondeu, que jejuara quarenta dias no deserto, comparando a sua presença
física na terra com uma festa de casamento. Explica que não fica bem, numa
festa de casamento, os amigos do noivo jejuarem, enquanto o noivo está com
eles.
Jesus está se referindo à comparação que os
profetas fazem entre a aliança de Deus com o seu povo e o casamento. Veja o que
diz o profeta Oséias: “Naquele dia, ela (a família do Povo de Deus) passará a
chamar-me de “meu marido” e não mais de “meu Baal”... Afastarei desta terra o
arco, a espada e a guerra, e todos poderão dormir em segurança. Eu me caso
contigo para sempre, casamos conforme a justiça e o direito, com amor e
carinho” (Os 1,18-20). Aplicando a profecia a si mesmo, Jesus se declara Deus,
pois o casamento é entre Deus e o povo. A sua presença na terra foi a festa do
casamento “para sempre”, isto é, uma aliança eterna.
O jejum praticado pelos judeus tinha um
sentido de preparação para a chegada do Messias e do Reino de Deus. Como que os
discípulos de Jesus iam praticar esse jejum, se o Messias já estava com eles?
Mas “dias virão em que o noivo será tirado do
meio deles. Então, sim, eles jejuarão”. O noivo é Jesus. Ele será tirado do
meio dos discípulos pela sua morte violenta. Então os discípulos jejuarão em
sentido figurado, isto é, sofrerão tristeza e desolação, dificuldades e
perseguições, por lhe serem fiéis na missão recebida.
Hoje em dia, a Igreja suavizou sensivelmente
a lei do jejum, por exemplo, o jejum quaresmal que era tão duro e prolongado.
Mas continua em pé o jejum do domínio das nossas más inclinações. Existem sete
vícios capitais que são os geradores dos pecados: Soberba, avareza, erotismo,
inveja, gula, ira e preguiça. O grande jejum para o cristão consiste também em
perdoar ou pedir perdão, voltar a conversar depois de um atrito, conviver com
pessoas difíceis... Nós só conseguimos praticar tudo isso, se nos exercitarmos,
inclusive com o jejum no seu sentido estrito, que é dominar o apetite.
Existe ainda outro tipo de jejum muito
importante: O jejum dos olhos. Há cenas que nos fazem mal, incitam-nos à
violência, ao ódio, à desordem, à luxúria... Quantos filmes e revistas nos
conduzem a isso! “Vigiai e orai para não cairdes em tentação”, disse Jesus.
Vigiar é, entre outras coisas, praticar o jejum dos olhos.
Muitos líderes cristãos dão aos jovens um
conselho muito simples, mas eficaz: “Você sentiu sede? Não beba logo a água,
mas espere cinco minutos. Recebeu uma carta? Não abra logo, mas espere cinco
minutos...” É um ótimo treinamento do domínio sobre os impulsos do nosso corpo,
ferido pelo pecado. Os instintos são cegos, tanto podem levar-nos para o bem
como para o mal
Existe ainda o jejum do espírito. É controlar
a língua, o afeto, o humor, a disposição para o trabalho, o domínio das
emoções, saber dar um abraço quando sentimos vontade de fazer o contrário,
saber engolir seco e não dizer nada, quando a nossa vontade seria fazer o
contrário. As pessoas são capazes de fazer grandes sacrifícios pelo seu amado
ou amada. Os que amam a Deus devem fazer o mesmo por ele. Por isso que os
santos diziam que para eles a cruz era doce como o mel.
Na primeira Leitura, Isaías fala como é o
jejum que agrada a Deus: “Acaso o jejum que prefiro não é outro? Quebrar as
cadeias injustas, desligar as amarras do jugo, tornar livres os que estão
detidos, enfim, romper todo tipo de sujeição?... Então brilhará tua luz como a
aurora.”
A exploração econômica é uma bofetada em
Deus, pois prejudica os irmãos, especialmente os mais pobres. “Vocês não podem
servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24). Esse é o lema da Campanha da
Fraternidade. Para o cristão, o dinheiro está a serviço da vida, não para escravizá-la.
Seria o maior absurdo alguém explorar o irmão e se considerar em ordem com Deus
porque faz abstinência de carne. Ou alguém fazer gastos inúteis, comprando
coisas supérfluas, furtando-se à ajuda aos necessitados.
Certa vez, um garoto de dez anos, chamado
Jorge, voltava da escola, quando um homem se aproximou dele e perguntou se
poderia ajudá-lo na escolha de um presente de aniversário para o seu pai,
dizendo ser amigo dele. A criança entrou no carro do homem e foram. Entretanto,
homem tinha ressentimento contra o pai de Jorge, porque, quando ele era
enfermeiro do seu tio, foi despedido por causa de bebida. Mas o garoto não o
conhecia.
O homem levou o pequeno para uma área
isolada, onde o perfurou várias vezes no peito com uma chave de fenda, depois
lhe deu um tiro na cabeça e o deixou lá, para morrer. Felizmente, a bala havia
passado por trás dos seus olhos, não danificando o cérebro. Depois que retomou
a consciência, Jorge ficou sentado na beira do asfalto, onde foi socorrido por
um motorista que passava.
Duas semanas depois, Jorge descreveu para um
desenhista da polícia o rosto do agressor. O próprio tio o reconheceu.
Entretanto, o menino, devido ao trauma, não conseguiu identificar se era aquele
mesmo, ou não. Por isso ele não foi preso.
O ataque deixou Jorge cego de um olho. Mas,
sem nenhum outro problema grave, voltou para a escola e deu continuidade à sua
vida. Formou-se, casou-se e tiveram dois filhos.
Um dia, um policial lhe telefonou para
informar que o antigo enfermeiro, agora com setenta e sete anos, havia
confessado o crime. Sem família, ele estava em um asilo e Jorge foi visitá-lo.
Ele se desculpou pelo que havia feito e Jorge disse que o havia perdoado.
Depois disso, visitou-o muitas vezes. Apresentou-lhe sua esposa e filhos, a fim
de lhe dar uma sensação de família. Ele ficava feliz quando Jorge aparecia,
porque o tirava da solidão e era um grande alívio para ele, após vinte e dois
anos de arrependimento.
Mais do que tragédia, Jorge via no fato um
milagre, sentia-se abençoado por Deus. Apesar de muitos não entenderem como que
Jorge pôde perdoar aquele homem, ele mesmo via o perdão como a única saída para
fazê-lo feliz. Se tivesse escolhido o ódio, ou passar a vida procurando
vingança, não seria o homem feliz e realizado que é hoje.
O perdão também é uma penitência, que faz bem
aos dois lados: a quem perdoa e a quem é perdoado.
O amor de mãe é o mais belo retrato do amor
de Deus por nós. “Acaso uma mulher esquece o seu neném, ou o amor ao filho de
suas entranhas? Mesmo que alguma se esqueça, eu de ti jamais me
esquecerei!" (Is 49,15). Maria Santíssima, Mãe de Jesus e nossa, enfrentou
situações difíceis, como a fuga para o Egito, a morte do Filho na cruz... Sinal
de que ela se exercitava no auto domínio, a fim de promover a vida. Santa
Maria, rogai por nós!
Dias virão em que o noivo lhes será tirado, e
então jejuarão.
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