Quinta-feira, 28 de maio
de 2015
Evangelho de Mc10, 46-52
Neste
Evangelho de hoje, bem como desde alguns anteriores, Jesus está a caminho de
Jerusalém, a capital da Palestina, caminho de cruz e de glória. Porque nós
sabemos que em Jerusalém ele vai pregar para aquele povo, incluindo
autoridades, políticos, políticos-religiosos, (= anciãos, saduceus, fariseus,
que faziam parte do Sinédrio, que foi o conselho que condenou Jesus a morte).
Em Jerusalém ele vai passar pela cruz, pelo sofrimento, lá ele vai morrer. Mas,
também é lá que ele ressuscitará, que ele terá sua glória.
Desde o cap. 9,30-37 que Jesus vem falando
para seus discípulos de sua morte e ressurreição. Porém, todas as vezes que
Jesus falava acrescentava que também seus discípulos eram convidados a terem a
mesma sorte que ele, partilhar a sua vida, que eles teriam que passar pelo
mesmo caminho de sofrimento e morte.
Porém, os discípulos
não entendiam as palavras de Jesus, porque os rabinos tinham-lhes ensinado que
o Filho de Deus não morreria nunca, que triunfaria sobre todos os inimigos.
Nutria-se a esperança, entre o povo hebreu, do surgimento de um Messias
descendente do Rei Davi, para restaurar a realeza, o esplendor daqueles tempos.
Por isso Eles esperavam um Messias vitorioso, guerreiro, lutador, que
expulsaria os Romanos dominadores de seu país, e tudo voltaria a ser glorioso
como nos tempos do Rei Solomão. Os discípulos consideravam Jesus o Messias
descendente do Rei Davi, acreditavam que ele seria capaz de liderar um
movimento, um levante contra os romanos, expulsando-os da sua Terra, do seu
país, do seu território. E muitos que se juntaram ao grupo de Jesus tinham esta
intenção, depositando nele esperanças de libertação política.
Por isso quando Jesus
falava em sofrimento, morte, eles não entendiam e tinham medo de pedir
explicações, pois o tipo de Messias que Jesus anunciava estava muito longe
daquele rei vitorioso, triunfante, imaginado por eles. Os discípulos não haviam
ainda entendido a mensagem de Jesus, como vimos no Evangelho da semana passada.
Até que quando Jesus fala em abandonar tudo para seguí-lo, tudo bem, mas quando
fala em renúncia ao poder, ao domínio... não conseguem entendê-lo de forma
alguma, pois a ideia deles era outra, tinham pretensões egoístas como: buscar a
honra, ambição, poder e desejo de recompensa. Enfim, os discípulos esperavam um
Messias Juiz e Senhor de um reino imperecível aqui na terra.
Mas
Jesus os desafia a uma mudança no modo de pensar e agir. O caminho do reino
passa pelos símbolos da paixão: o cálice aparece na bíblia como símbolo de
sofrimento e pode indicar o destino de uma pessoa. Como Jesus disse: Sereis
capazes de beber o cálice que vou beber? Beber o cálice significa ter o mesmo
destino do Mestre.
Então, Jesus, a
caminho de Jerusalém, acompanhado pela multidão, realiza um último sinal ou
milagre: a cura de Bartimeu. Novamente nesta ocasião Jesus revela aos
discípulos o objetivo de sua viagem: ir a Jerusalém, não para conquistar um
reino deste mundo, mas para oferecer a própria vida. Seguir Jesus no caminho de
Jerusalém significa partilhar da sua escolha de sacrificar-se pelos irmãos.
Proposta inaceitável para eles e para a sabedoria do nosso mundo atual! Os
apóstolos e a multidão o seguem, mas estão cegos. Continuam sonhando com os
primeiros lugares, esperam a vitória e um reino neste mundo. Se apegam as
ideias triunfalistas recebidas do judaísmo e são incapazes de questioná-las e
de agir por si próprios seguindo o projeto
proposto por Jesus. São incapazes de raciocinar sobre o que Jesus lhes
fala, de abandonar as ideias já estabelecidas, e analisar os ensinamentos de
Jesus. Estão cegos diante da realidade, das propostas de Jesus.
Bem, o cego está
sentado à beira do caminho, isto é, à margem da vida e da sociedade.
Desconhecemos o seu nome. Um sem nome. Um ninguém. Sabemos trata-se de um filho
de Timeu, em hebraico, Bartimeu. Timeu significa honrado, apreciado. O cego é
mendigo. Depende da caridade alheia, falta-lhe autonomia, isto é, ele não vê,
não pode trabalhar, ganhar a vida, o seu pão, ter seu próprio lar, sua
liberdade. Por isso pede esmolas para sobreviver. É um excluído da sociedade,
um marginalizado, um pobre coitado a mercê da bondade dos outros. Vive à
margem, não pode participar de nada.
Quando Bartimeu ouviu dizer que Jesus,
o Nazareno, estava passando, começou a gritar: “Jesus, filho de Davi, tem
piedade de mim!” Portanto o cego ouve falar, crê e põe sua esperança
no Filho de Davi. Acredita ser o Messias prometido e esperado. Bartimeu, então,
implora a compaixão, a piedade de Jesus.
Os que acompanhavam Jesus repreendiam o cego
para que se calasse. Mas ele gritava mais ainda: “Jesus, Filho de Davi, tem
piedade de mim!” Aqueles que mandavam o cego se calar representa toda a
sociedade que exclui os desfavorecidos da vida como: os cegos, os aleijados, os
doentes, e naquela época também as mulheres e crianças. Os discípulos não
querem que aquele cego atrapalhe a caminhada de Jesus, que atrase a sua viagem,
que não era preciso Jesus perder tempo com uma pessoa inútil, qualquer, um
cego.
Bartimeu grita forte por piedade e ser piedoso
é uma das características do Messias. Por isso Jesus para e manda chamá-lo. A
atitude misericordiosa de Jesus demonstra a preferência de Deus pelos que se
encontram à margem do caminho da vida, pelos pobres, desprezados, escluídos.
Ele interrompe o seu caminho para dar atenção àquele que lhe implora piedade.
Ao ser chamado por Jesus, o cego joga fora o
manto, dá um pulo e foi até Jesus. E Jesus lhe pergunta: “O que queres que eu
faça?” Bartimeu diz a causa da sua pobreza que é a cegueira e lhe pede: “Mestre
que eu veja”. Jesus lhe diz: “ Vai a tua fé te salvou”. Com estas palavras
Jesus relaciona a fé com a cura. É preciso ter fé para ser curado. A fé ardente
supera todos os obstáculos colocados por outros que querem impedi-lo de se
encontrar com Jesus. E como consequência de poder olhar, enxergar a realidade
com um novo olhar que Jesus lhe proporcionou, Bartimeu segue Jesus, isto é,
torna-se seu discípulo.
O
evangelho nos diz que no mesmo instante que ficou curado, começou a seguir
Jesus pelo caminho. O que significa seguir Jesus pelo caminho? Seguir Jesus
pelo caminho é se tornar um discípulo dele. Porque Jesus é o caminho. Se tornar
discípulo é estar disposto a viver como o Mestre ensina, a passar por tudo que
o mestre passa, a morrer para si, doar sua vida, a imitá-lo em tudo.
Bartimeu ao pedir compaixão ao Senhor,
demonstra uma abertura para a fé. Ele ouviu falar de Jesus, acreditou nele, sem
vê-lo, sem conhecê-lo. Enquanto que os discípulos e muitos do povo enxergavam,
viam e ouviam, mas estavam cegos para a realidade que o Messias lhes apontava.
Se eles estivem dispostos a deixar-se curar da cegueira, por meio de uma fé
autêntica, e a refazer sua idéia de Messias, estariam como o ex-cego, em
condições de segui-lo pelo caminho, sendo verdadeiros discípulos, dispostos a
tudo.
O primeiro passo em direção à cura acontece
quando se toma consciência da própria situação e se toma a decisão de sair dessa
situação. Também a cura da cegueira espiritual começa dessa maneira. Tem início
no desejo de sair da enfermidade interior para uma vida mais autêntrica e de um
relacionamento mais profundo com o Senhor.
Existem muitas formas de cegueira:
São cegos os que não querem enxergar sua
missão, seus dons e colocá-los a serviço da comunidade, dos irmãos; há os que
estão conformados com o comodismo e não se deixam curar; há ainda aqueles que
além de serem cegos, impedem os outros de enxergar e tentam calar os gritos
incômodos dos que querem ver.
O cego Bartimeu pode ser um bom exemplo para
nós: superar os obstáculos próprios da cegueira, não se deixar levar pelas
críticas da sociedade, mas como Bartimeu gritar, pular, jogar o manto e enfim
buscar a força em Jesus, naquele que nos pode libertar e fazer ver uma nova
realidade. Jogar o manto significa uma vida nova, uma mudança, uma
transformação. Ele se servia do manto para recolher esmolas que lhe jogavam,
agora ele não mais precisa de esmolas. Ele será capaz de viver por ele mesmo,
com o seu trabalho.
Por isso nos momentos de tribulação, grite
Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim! Nas tristezas da vida, nos momentos
difíceis, na doença, na depressão, nas contrariedades, nos desentendimentos,
grite, clame, pule, jogue o manto, mas recorra a Jesus o nosso Salvador.
Enxergue que a solução é Jesus e se comprometa com Ele. Aceite ser seu
discípulo, ser como Ele Servo Sofredor. Porque seguir Jesus pelo caminho é
passar por tudo que Ele passou, enfrentar desafios, querer continuar a missão
de Jesus. Porque se queremos chegar à glória com Cristo, temos que passar pelo
caminho da cruz, que é o caminho do serviço, da doação, do amor, colocar os
dons que recebemos de Deus a serviço do irmão, do Reino de Deus, sem comodismo,
sem preguiça, mas se preocupar em ser outro Jesus que dá vida para todos, que
nos faz enxergar, mudar de vida, crescer na fé, no amor, na doação e fazer o
que Jesus nos pede: ser seu discípulo!
Maria de Lourdes: Bela reflexão como sempre. Que Deus te abençoe e continue iluminando seus caminhos nesta caminhada.
ResponderExcluirMaria de Lourdes: Bela reflexão como sempre. Que Deus te abençoe e continue iluminando seus caminhos nesta caminhada.
ResponderExcluirMuito bom Maria de Lourdes
ResponderExcluirsempre sigo os comentarios, e voce sempre guiada pelo Espirito Santo, com sabedoria e discernimento, fala ao nosso coração, parabens
ResponderExcluirMuito obrigada pela gentileza de vcs. Deus abençoe a nós todos. Abraços em Cristo! Maria de lourdes
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