02 de Junho- Terça - Evangelho - Mc 12,13-17
Estamos na última semana da vida de Jesus. Ele atua como mestre no
pórtico de Salomão ao oriente da esplanada do Templo. Seus inimigos estão à
espreita para ver como apanhá-lo em suas palavras e, por isso, propõem diversas
questões – que eram discutidas na época – com o intuito de ver seus
conhecimentos e até de poder acusá-lo diante das autoridades por sua
discrepância da Lei ou sua oposição às autoridades romanas.
Um destes episódios é o de hoje: “Mestre, sabemos que és
verdadeiro e que, de fato, ensinas o caminho de Deus. Não te deixas influenciar
pela opinião dos outros, pois não julgas um homem pelas aparências. Dize-nos,
pois, o que pensas: É lícito ou não pagar imposto a César?”
É lícito significa se está de acordo
com a Lei. Pagar o tributo a César seria, segundo os zelotas e os fariseus, dar
dinheiro a um representante de um deus pagão. Seria manter o princípio de
propriedade do Estado Romano sobre terras que Javé-Deus tinha dado a Israel a
título inalienável. Segundo os juristas romanos, o povo de Israel tinha
unicamente o usufruto destas terras. Por isso, a taxação era uma escravidão
evidente segundo o povo eleito.
Diante deste fato, a resposta se fosse favorável aos romanos atrairia o desprezo do
povo sobre Jesus. Mas, se a resposta de Jesus fosse contrária ao pagamento do tributo, poderia ser
causa suficiente para tratar Jesus como zelota e os herodianos acusá-lo-iam às
autoridades – como realmente o fizeram – de impedir o pagamento do tributo a
César (Lc 23,2).
Jesus pede a moeda onde estava escrita ao redor da efígie do César: César
Tibério, do divino Augusto filho, ele mesmo Augusto Pontifice Máximo. A moeda foi cunhada em Roma – como
todas as moedas em ouro ou prata. Todos, tanto fariseus como herodianos, usavam
a moeda, o que era de fato aceitar o domínio de César. A tradução mais exata da
resposta de Jesus seria: “Dai pois a César o que é de
César, e a Deus o que é de Deus”.
Sem dúvida, Jesus aponta para uma dívida que temos tanto com as
autoridades civis como para com Deus:
1º – Ele estabelece uma clara distinção entre os deveres cívicos e
os religiosos, não confundindo as áreas, mas separando-as.
2º – Toda autoridade da qual nos servimos – como se serviam do
denário os judeus – tem origem divina, como Ele respondeu a Pilatos: “Nenhuma
autoridade terias sobre mim se de cima não te fosse dada”. (Jo 19,11)
Deus quer ser representado na autoridade do homem, como diz Paulo,
independentemente dessa autoridade ser boa ou má. Em Rm 3,1 afirma: “Não
há autoridade que não proceda de Deus e as autoridades que existem foram por
Ele instauradas”.
No mundo moderno não interrogamos Jesus sobre o tributo a César,
mas interrogamos a Igreja sobre o Jesus que está mostrando ao mundo: O homem oprimido
tem substituído a mensagem evangélica sobre o verdadeiro Jesus, Filho de Deus,
Redentor e Salvador. Do Evangelho tomamos unicamente a mensagem sobre a justiça
e igualdade. E a fé, fundamento da vida cristã, fica diluída em termos humanos.
O homem substitui o Deus encarnado.
Em Jesus queremos ver um revolucionário e, na revolução, um remédio
universal, uma redenção necessária embora dolorosa. Portanto, devemos
favorecê-la e acompanhá-la com ilusão e até propagá-la como remédio dos males
modernos. Da frase eu vim evangelizar os pobres reduzimos o Evangelho a uma simples
conclusão de semelhante afirmação. O resto da boa notícia não interessa.
É por isso que os milagres de Jesus ou são silenciados ou são
negados e, entre eles, a Ressurreição. A vida eterna do Evangelho é traduzida
como vida melhor na terra por uma repartição mais justa das riquezas. O
sobrenatural é substituído pelo natural. O pão de cada dia desloca o Pão
Eucarístico necessário para a verdadeira vida.
A política tem tomado o lugar da religião. Damos a César o que é de
César. Mas não damos a Deus o que é de Deus, embora esse Deus moderno seja o grande arquiteto que anula o
Cristo do qual temos recebido o nome. A fé se reduz a uma ideia mais conforme
com a filosofia natural do que com a dos versículos dos Evangelhos.
Temos que nos perguntar se damos a Deus o que é de Deus. Porque,
embora sabendo que Ele é o verdadeiro Senhor de nossas vidas, muitas vezes O
temos relegado a um segundo plano quando nos declaramos independentes ou
buscamos nosso próprio bem, no lugar da vontade que é absoluta no céu e que
deveria ser também soberana na terra, como rezamos no Pai Nosso.
Padre Bantu Mendonça
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