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sexta-feira, 29 de maio de 2015

Este é o meu corpo, este é o meu sangue-Claretianos

04 - de Junho - Quinta - Evangelho - Mc 14,12-16.22-26

Quinta-feira, 04 de Junho de 2015
Corpo e Sangue de Cristo
Roberto, Cláudio
Êxodo 24,3-8: Este é o sangue da aliança que o Senhor faz com vocês
Salmo 115: Elevarei o cálice da salvação, invocando o nome do Senhor
Hebreus 9,11-15: O Sangue de Cristo poderá purificar nossa consciência
Marcos 14,12-16.22-26: Este é o meu corpo, este é o meu sangue.
12 Vieram, então, os discípulos de João transladar seu corpo, e o enterraram. Depois foram dar a notícia a Jesus. 13 A essa notícia, Jesus partiu dali numa barca para se retirar a um lugar deserto, mas o povo soube e a multidão das cidades o seguiu a pé. 14 Quando desembarcou, vendo Jesus essa numerosa multidão, moveu-se de compaixão para ela e curou seus doentes. 15 Caía a tarde. Agrupados em volta dele, os discípulos disseram-lhe: Este lugar é deserto e a hora é avançada. Despede esta gente para que vá comprar víveres na aldeia. 16 Jesus, porém, respondeu: Não é necessário: dai-lhe vós mesmos de comer.  22 Logo depois, Jesus obrigou seus discípulos a entrar na barca e a passar antes dele para a outra margem, enquanto ele despedia a multidão. 23Feito isso, subiu à montanha para orar na solidão. E, chegando a noite, estava lá sozinho. 24Entretanto, já a boa distância da margem, a barca era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário. 25 Pela quarta vigília da noite, Jesus veio a eles, caminhando sobre o mar. 26 Quando os discípulos o perceberam caminhando sobre as águas, ficaram com medo: É um fantasma! disseram eles, soltando gritos de terror.
COMENTÁRIO
Situada entre dois mares, com seus dois portos, Corinto era o centro mais importante do arquipélago grego, encruzilhada de culturas e raças, meio do caminho entre Oriente e Ocidente.
Sua população era composta por duzentos mil homens livres e quatrocentos mil escravos. Corinto teria oito quilômetros de muralhas, 23 templos, cinco supermercados, uma praça central e dois teatros, um deles para 22 mil espectadores. Em corinto eram comuns os vícios típicos dos grandes portos. A ociosidade dos marinheiros e a afluência de turistas, chegados de todas as partes, a haviam convertido em uma espécie de capital de “Las Vegas” do Mundo Mediterrâneo. “Viver como coríntio” era sinônimo de depravação, “coríntia” era o termo universalmente empregado para designar as prostitutas, e já se pode imaginar o que significava “corintianizar”.
Em Corinto, cuja população era muito heterogênea (gregos, romanos, judeus e orientais) eram venerados todos os deuses do Panteon grego. Acima de todos estava Afrodite, cujo templo era cuidado por mil prostitutas.
Paulo chegou a esta cidade pelos anos 50. Depois de pregar o Evangelho, fundou uma comunidade cristã. Durante dezoito meses permaneceu como animador da mesma. Seus fiéis pertenciam às classes populares (pobres e escravos), havia também pessoas de prestígio, por sua cultura e pelas posses. Nasceu assim uma das comunidades cristãs primitivas mais conflitivas.
Quando Paulo, por exigência de seu trabalho missionário, saiu de Corinto, houve uma verdadeira luta de classes no interior da comunidade; o conflito se manifestava de forma vergonhosa na celebração da Eucaristia. Os novos cristãos, ricos e pobres, livres e escravos, conviviam, mas não partilhavam; não havia solidariedade entre eles. Na celebração da Eucaristia (naquele tempo simplesmente se tomava uma refeição juntos, lembrando o nome de Jesus), todos se reuniam, porém cada um formava um grupo com os de sua classe social, de modo que “enquanto uns passavam fome outros s embebedavam” (1 Cor 11,17ss). Isso tem uma atualidade espantosa.
Estando em Éfeso, Paulo dirigiu-lhes uma dura carta para recriminar o que acontecia na Eucaristia. A partir daí escreve: o que Jesus fez na noite antes de ser entregue à morte, quando “enquanto comiam, Jesus domou o pão, pronunciou a bênção, partiu-o e o deu a eles dizendo: Tomai, isto é o meu corpo. E tomando um cálice, pronunciou a ação de graças e o passou e todos beberam. E lhes disse: Isto é o sangue da minha aliança, derramado por todos”.
Quem vai à mesa da eucaristia e não manifesta compromisso com a vida, não entendeu a proposta de Jesus. O rito se torna vazio se antes de participar da mesa da eucaristia não partilhamos, como Jesus, o pão da nossa pessoa, de nossos bens, de nossa vida inteira, com os que são nossos próximos cotidianos.
Impressiona visitar as igrejas e comprovar a diversidade de classes sociais que ela comporta. Nelas todas encontram um lugar, sem que lhes exija nada em troca. O rico entra rico e o pobre, pobre, e saem os dois da mesma forma que entraram. Há uma similaridade entre a nossa realidade e a advertência de Paulo aos coríntios: “É impossível comer assim a ceia do Senhor”. Dito de outro modo: “assim não vale a eucaristia”, pois a ceia do Senhor iguala a todos os comensais na vida e comungar exige, para que o rito não seja uma farsa, que haja partilha entre todos.
A luta de classes, como em Corinto, está instalada em nossas eucaristias. E onde ela existe não pode nem deve haver celebração da ceia do Senhor. Os israelitas no deserto compreenderam bem que a aliança entre Deus e o povo era sinal de compromisso no cumprimento do que pede o Senhor nos mandamentos. Jesus, antes de partir, celebra a nova aliança com seu povo e deixa o único mandamento, o do amor sem fronteiras. Este é o requisito para celebrar a eucaristia: acabar com todo sinal de divisão e desigualdade entre os que a celebram.
É preciso recuperar, portanto, o significado profundo do rito que Jesus realiza. “O sangue derramado por vós” significa a morte violenta que Jesus teria que padecer como expressão de seu amor pelo ser humano; “beber do cálice” leva consigo aceitar a morte de Jesus e o compromisso com ele e como ele a dar a vida, se necessário, pelos outros. E isto é o que se expressa na eucaristia; esta é a nova aliança, um compromisso de amor aos demais até a morte. Quem não entende assim a eucaristia, pode estar fixado no puro rito que de nada serve.
Uma interpretação errônea das palavras de Jesus identificou o pão com seu corpo e o vinho com seu sangue, chegando-se a falar do milagre da “transubstanciação ou conversão do pão em corpo e do vinho no sangue de Cristo”. Os teólogos procuram explicar este mistério. Como se isto fosse o mais importante daquele rito inicial. O significado daquelas palavras é bem diferente: “Na ceia, Jesus oferece o pão (“tomai”) e explica que é seu corpo. Na cultura judaica “corpo” (em grego soma) significa a pessoa enquanto identidade, presença e atividade; em consequência, ao convidar a se alimentar do pão/corpo, Jesus convida a assimilar-se a ele, a aceitar sua pessoa e atividade histórica como norma de vida; ele mesmo dá a força para isso, ao se fazer pão/alimemnto. O efeito que o pão produz na vida humana é o que produz Jesus em seus discípulos. O evangelista não indica que os discípulos tenham comido o pão, pois ainda não estavam assimilados a Jesus, não haviam digerido sua forma de ser e de viver, tornando- a vida de suas vidas. Ao contrário do pão, Jesus se serve do cálice e diz explicitamente que “todos beberão dele”. Depois de ter dado de beber, Jesus diz que “este sangue é o sangue da aliança, derramado por todos”. O sangue derramado significa a morte violente ou a pessoa enquanto sofre tal gênero de morte. “Beber do cálice” significa, portanto, aceitar a morte de Jesus e comprometer-se, como ele, a não desistir da atividade salvadora (representada pelo pão) por termo nem sequer à morte. “Comer o pão” e “beber do cálice” são atos inseparáveis, isto é, que não se pode aceitar a vida de Jesus sem aceitar sua entrega até o fim e que o compromisso de quem segue a Jesus inclui uma entrega como a sua. Este é o verdadeiro significado da eucaristia. Talvez nós a tenhamos reduzido ao mistério, aliás bastante difícil de ser explicado e entendido, da conversão do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Cristo.
“Todos os domingos, e, nossa paróquia, juntos vão à missa os trabalhadores e os proprietários. Se todos recebem a graça de Deus, isto não o entende Santa Luzia nem este servidor” (Letra do conjunto musical “La Bollonera”, Zaragoza, Aragón, Espanha);


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