Comentários Prof.Fernando* Pentecostes – 24 de maio de 2015
todos nós, judeus ou gregos,
fomos batizados num único Espírito
(da segunda leitura, 1coríntios12)
Obs.prévia:
Exatamente neste dia 24,de
Pentecostes, encerra-se a SEMANA DE ORAÇÃO (18 a 24 de maio) PELA UNIDADE dos
cristãos promovida pelo Conic (Conselho nacional das igrejas cristãs formado
pelas igrejas Católica Apostólica Romana (ICAR), Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB),
Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), Sirian Ortodoxa de
Antioquia (ISOA), Presbiteriana Unida (IPU)..
Oremos.
que significa Pentecostes
(cf. Atos 2)
·
É o “quinquagésimo dia”, termo
grego para a tradição judaica da Festa da Colheita (agradecimento pelos
primeiros frutos da terra), também chamada de Festa das Semanas porque
celebrada 7 semanas (ou 50 dias) depois da Páscoa. Já no judaísmo o costume
originado na cultura agropastoril a celebração foi espiritualizada
comemorando-se a Aliança no monte Sinai. A “Aliança” entre Deus e os hebreus
foi entendida segundo o modelo dos pactos entre um rei que iria defender seu
povo, o qual, por sua vez assumia seus compromissos.
que significa Espírito
·
O termo grego pnéuma (de onde,
em português, pneumático, pneumologia) tem dois usos (como os coprrespondentes ruáh, em hebraico e spiritus, em latim): 1º é o vento, o ar ou sopro, hálito. Na bíblia
conceitos antigos descrevem o vento como o “halito de Jahwé” (cf.
Exodo15,8;2Samuel22,16;Salmo8,16; cf. também Oseias13,15;Isaías30,28;Jó4,9).
Como a respiração é o sinal da vida o hálito é considerado o princípio da vida,
em paralelismo com neshamáh, termo
hebraico da raiz nasham (=hálito ou
respiração) e nefésh (hálito ou
alma). Ó o “sopro vital” ou “energia vital” é o dom recebido por todos os
viventes sobre a Terra.
·
Como a respiração tem íntima relação com os sentimentos o “espírito”
também a sede dos sentimentos e emoções. Em Êxodo 6,9 ou Miqueias 2,7, por ex.,
a pessoa irada está “com hálito curto”. No árabe também a expressão “alonga a
tua respiração” é usad para dizer a alguém que se acalme, como nós dizermos:
“respire fundo”. Ao contrário de influências que herdamos da cultura grega e
também de preconceitos de origem “maniqueísta” (doutrina que postula dois
deuses, o “deus do bem” e o “deus do mal”), a oposição espírito-carne não é o
mesmo que a oposição bem-mal ou bom-mau. Na bíblia Deus equivale ao Espírito
porque é o poderoso e imperecível em oposição a “Carne”, que equivale ao ser
humano frágil e perecível. Diz Van der Born (cf. Dicionário Enciclopédico da
Bíblia) que nas Escrituras, “embora não se afirme que Deus seja um espírito,
muitas vezes é dito que Ele possui um espírito, que Ele dá o espírito ou o seu
espírito, e que ele opera no homem e na natureza pelo seu espírito. É que a
linguagem hebraica não se interessa pela definição ou essência dos seres e
fenômenos, mas pela atividade exercida, seja de Deus seja dos homens. Neste
sentido podemos concluir que “Espírito” indica a força vital ou Vida originada
em Deus (por isso chamado criador). Espírito é poder e energia que existe em
tudo que é bom, pois tudo vem dele. Tanto no Antigo Testamento hebraico, como
no Novo cristão, a fé bíblica começa crendo na ação do Espírito na criação, na
Aliança mosaica, nas promessas anunciadas pelos profetas e, finalmente, na
pessoa de Jesus como o Cristo. É o próprio Deus falando, agindo ou
entregando-se ao ser humano e nele habitgando com sua Força, seu “Espírito”.
Que significa “O Verbo se fez Carne”
·
Tendo Deus falado antigamente muitas vezes e de muitas
formas/ aos nossos antepassados, pelos profetas/ nestes últimos tempos
falou-nos por seu Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo o que existe e por
meio de quem também fez o Mundo (cf
Hebreus 1).
·
A bíblia refere a atividade do Espírito na história de Israel em e
“etapas”: A) “no princípio” na criação do universo e do ser humano. Aí faz-se
“visível” como Força vital e dinamismo expresso na profusão variegada de
criaturas (luz, cosmo, viventes). B) numa “segunda” etapa o Espírito de Jahwé
se manifesta na vocação e animação dos líderes, desde as sagas dos patriarcas
até a marcha dos hebreus, da escravidão para a liberdade na terra prometida. C)
Dirigentes e povo, no entanto, abandonaram a Aliança (e seus Mandamentos) e
praticaram o inverso da “justiça” de Deus, descurando a proteção aos órfãos,
viúvas, pobres e estrangeiros. Então o Espírito suscita profetas: vozes que
anunciam a misericórdia, na esperança de uma definitiva reconciliação.
·
Podemos dizer também que são 3 as formas de ação do Espírito, e que
culminam em Pentecostes: na 1ª o
Espírito deu TESTEMUNHO DE SEU PODER por meio dos líderes escolhidos (tais como
Abraão, Moisés, os Juízes); na 2ª o Espírito COMUNICOU sua palavra por meio dos
profetas; a 3ª forma de atuação encontra-se na culminância da pregação
profética, a GRANDE PROMESSA “escatológica” (= relativa aos “últimos dias”) e
que aparece sobretudo em Isaías, Ezequiel e Joel (reafirmada pelo próprio Jesus
– cf.Marcos1: pregando a todos as boas
novas de Deus: ‘CUMPRIU-SE O TEMPO, e está chegando o Reino de Deus’). A
grande Promessa diz que a humanidade será “empapada” pela chuva do Espírito
(cf. Pedro em seu discurso de Pentecostes: foi predito pelo
profeta Joel: ‘Nos últimos dias, diz o Senhor, derramarei, do meu Espírito,
sobre toda a Carne’).
·
A Promessa concretiza-se, então, 1º) na própria vida de Jesus; 2º) na comunidade dos seus
discípulos; 3º) em cada um deles. A primeira parte da Promessa se cumpre em Jesus
desde seu nascimento (Lucas 1: o Espirito
Santo virá sobre ti). Nele “acontece” a plenitude da presença do Espírito
na vida humana (Ele é a imagem do Deus
invisível manifestada na história pelo
primogênito de toda criação – cf. Colossenses 1,15). E dele “transborda” o
cumprimento da segunda e terceira partes a partir do dia de Pentecostes, sobre
TODOS os que creem e sobre CADA UM individualmente. Por isso Lucas escreveu: ficaram TODOS cheios do Espírito; e todos
viram línguas de fogo que, distribuídas entre eles pousou SOBRE CADA UM.
Da “Torre de Babel” à reconciliação universal
Diz o relato de Lucas sobre o Pentecostes que os Apóstolos e os discípulos voltaram a se reunir
em Jerusalém (Atos cap.1) todos em
harmonia (homothymadón = com a
mesma mentalidade, em harmonia) perseveravam
em oração juntamente com as mulheres,
com Maria, mãe de Jesus e com todos os irmãos dele. A comunidade, reunida
em torno dos Apóstolos e de outras testemunhas da Ressurreição (é de se notar
que Lucas destaca a presença de Maria e das outras mulheres numa sociedade de
tradição patriarcal e numa época em que eram “menores”) encontra sua unidade na
oração e depois vai em busca dos outros divulgando a Boa Notícia de Deus a
todos, de todas as culturas e línguas. O grande milagre foi cada ouvinte
entender a mensagem em sua própria língua. Diz o espanhol Frei G.S.Mielgo OP:
“este milagre do Espírito está mais nos ouvidos dos ouvintes do que nos lábios
dos Apóstolos [a chamada ‘glossolalia’]. A finalidade deste fenômeno está em
relação com a enumeração dos povos que se encontram representados em Jerusalém.
Trata-se de uma lista que inclui a totalidade dos povos então conhecidos. Lucas
quer sublinhar sutilmente que se restaura a comunhão rompida (Babel) e que que
esta comunhão entre os povos será levará a cabo pela disseminação da Boa Nova,
estando os discípulos (a Igreja), impulsionados pelo Espírito.
·
Babel é o símbolo da divisão entre os povos, línguas e culturas.
Pentecostes passa a ser o símbolo da unidade em toda a Terra. “Evangelização”
atualmente é um termo muito desgastado, querendo dizer muitas coisas. Às vezes
a evangelização pode até ser reduzida a venda de livros e CDs. Sempre corremos
o risco de banalizar as palavras, e nos esquecemos até da oração, na
contemplação do Mistério da Fé e na renovação constante daquela missão deixada
por Jesus Cristo para os seus discípulos. Evangelização leva à reconciliação
dada por Deus a todas as nações e ao Ensino como ele ensinou (cf. a conclusão
no último capítulo de cada um dos 3 evangelhos sinóticos: Mateus, Marcos e
Lucas). É bom relermos nas cartas joaninas a orientação: não se pode amar só em
palavras, mas em ações e na verdade).
·
Recentemente vimos na TV os socorristas que, da China e de outros
países, foram ajudar a população do Nepal. Também vimos voluntários e bombeiros
procurando as pessoas sob deslizamento de terra, na Bahia, na Colômbia, em
tantos lugares! Será que enxergamos – para além do pragmatismo de governos e de
outros eventuais interesses – que, por trás de cada gesto que visa preservar a
vida, está o Espírito movendo pessoas à solidariedade? Cada ação ecológica, e
principalmente cada gesto humanitário, são in-spirados pelo E-spírito.
·
Vem Espírito, e renova a face da terra (cf. Salmo 104).
oooooooooo ( * ) Prof.(1975-2012-Edu/Teo/Fil)
fesomor2@gmail.com
muito bem
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