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segunda-feira, 18 de maio de 2015

Batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo-Claretianos

DOMINGO, 31 DE MAIO DE 2015
Santíssima Trindade
Visitação
Deuteronômio 4,32-34.39-40: O Senhor é o único Senhor, não há outro
Salmo 32: Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança
Romanos 8,14-17: O espírito de filhos adotivos nos faz clamar: “Abba!”
Mateus 28,16-20: Batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
16 Os onze discípulos foram para a Galiléia, para a montanha que Jesus lhes tinha designado. 17Quando o viram, adoraram-no; entretanto, alguns hesitavam ainda. 18 Mas Jesus, aproximando-se, lhes disse: Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. 19 Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. 20 Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo.
COMENTÁRIO
Conscientes de que o material teológico para uma pregação tradicional sobre a Trindade é muito fácil de encontrar entre as várias dezenas de serviços bíblico-litúrgicos oferecidos na internet, nós, fiéis a nosso “carisma”, vamos completar os enfoques tradicionais com algumas perspectivas críticas para as comunidades que não querem simplesmente repetir o de sempre e sim repropor a temática.
A reflexão teológica poderia estar centrada na “trindade” mesma, ou seja, no “fato de que Deus seja três pessoas”, e a relação desta trindade com o monoteísmo. Vejamos.
Jesus era e sempre foi judeu e, como tal, foi absoluta e zelosamente monoteísta. Jesus nunca falou nem sequer pode pensar em uma “trindade” de pessoas em Deus, o que poderia ter-lhe soado praticamente uma blasfêmia. Para Jesus, Deus é uno e somente uno e nada mais que uno.
Isto quer dizer algo que muitos cristãos não sabem e que alguns acham estranho quando chegam a saber: que a doutrina da Trindade não é do tempo de Jesus, mas muito posterior. De fato, atribui-se ao Concílio de Niceia (325) sua primeira formulação definitiva. Isto quer também dizer que os evangelhos não nos podem falar da Trindade diretamente tal como nós a conhecemos e que essas frases citadas, como a do evangelho deste domingo, são inclusões posteriores.
Se a doutrina da Trindade é uma elaboração dos primeiros séculos da Igreja, que somente no século IV começaram a adquirir uma formulação que logo ficaria oficialmente consagrada, isto significa que existe aí um componente de construção teológica “construção humana”, pois. Não é, como diz a simplificação do uso, que Jesus veio do céu para nos revelar este mistério que não sabíamos, e contado no evangelho.
Outro filão importante deste bloque temático é a tremenda marca da filosofia grega que a doutrina da Trindade transpira: pessoa, substância, natureza, hipóstase… Tudo nela é uma articulação de conceitos da filosofia grega. De alguma maneira, a doutrina da Trindade é a resposta que o cristianismo daquele momento histórico deu a uma sociedade imbuída de filosofia grega, com a qual estava dialogando. A pergunta era a respeito do conceito de Deus professado por esta religião que saía das catacumbas e lutava por conseguir um lugar de reconhecimento na sociedade. Não há dúvida que a doutrina da Trindade é um modelo exemplar do que é a “enculturação” de uma religião em uma cultura alheia. O judeu-cristianismo, não sabia nada daquelas categorias filosóficas helenísticas, acabou expressando-se, reformulando-se a si mesmo em uma linguagem que nada tinha a ver com a linguagem bíblica do Novo Testamento. Esta “enculturação” foi posta como “modelo” do que deveria ser a enculturação da fé cristã em outras culturas. É a helenização do cristianismo, tão exemplar por uma parte, como nefasta por outra.
O problema é que aquela filosofia grega hoje só pode ser encontrada nos livros de história; na vida real ninguém a usa para responder às perguntas atuais. Enquanto o mundo e a cultura deixaram de crer na filosofia grega, a Igreja segue formulando para si a mesma doutrina, e suas doutrinas, em base naquela filosofia e tendo essas fórmulas como oficiais. Mais ainda, como intocáveis, e em poucos casas como ininterpretáveis.
(Um exemplo diferente ao da Trindade, porém não à margem do domingo: “a transubstanciação”, que é “hilemorfismo” aristotélico, pura filosofia grega, da qual ninguém usa para compreender cosmologicamente a realidade. Daí que um elemento central da eucaristia resulte ininteligível para todo cristão que hoje não partilha dessa filosofia vigente há vinte e cinco séculos. No último diálogo teológico que houve a respeito, os censores romanos descartaram toda e qualquer explicação, mesmo tendo-se apresentado várias e muito boas, e decidiram que somente a explicação da “transubstanciação” era recomendada oficialmente como correta. A partir daí acabou o diálogo teológico e pastoral sobre esse tema. Ficou concluído e arquivado).
Outro elemento é o próprio conceito de “pessoa”. É também um conceito grego e mais amplamente ocidental, porém que não é universal. Em toda sua concreta riqueza cultural se torna intraduzível em outras culturas, nas que essa categoria não se encaixa exatamente. Porém, para os ocidentais parece ser a categoria suprema, o máximo que poderíamos atribuir a Deus e também ao um mínimo que no poderíamos deixar de lhe atribuir. Assim, frente ao hinduísmo, o budismo, à espiritualidade “não dual”... é difícil ao cristão aceitar uma ideia de Deus menos “pessoal”. Porém, se pensamos bem, Deus não é pessoa... Chamá-lo assim não deixa de ser um “antropomorfismo”. Não deveríamos estar tão certos de que “pessoa” é uma categoria bem aplicada a Deus, um conceito que “lhe cai bem”... Não há nenhuma palavra na qual caiba Deus... e tampouco cabe na palavra “pessoa”. Mais que “pessoal”, pode ser que tivéssemos que dizer que Deus é transpessoal ou suprapessoal...
Um último elemento de reflexão a respeito da teologia trinitária é a frequência com que os cristãos entendemos mal a doutrina oficial da Trindade. Na prática muitos cristãos guardam em sua espiritualidade a imagem de “três pessoas como três deuses”, apesar da proclamação meramente verbal da unicidade de Deus... Transcrevemos algumas cautelas que Schillebeeckx expressava a respeito.
Haveria outro tema a revisar, sob o mesmo plano da Trindade, e seria o tema do “teísmo” mesmo. Muito facilmente falamos de “Deus”, como se soubéssemos do que estamos falando e como se nessa palavra coubesse Deus e lhe coubesse perfeitamente. Não é tema para desenvolver agora, porém pode ser bom apresenta-lo: “Deus tampouco é deus”, não é theos, não se lhe ajusta esse conceito. Nos últimos séculos, muitos homens e mulheres não se aguentavam do mal que sentiam ante essa crença de identificar o Mistério da Realidade com um theos, essa forma de crer que se chama “Deus” e tiveram que optar pelo “a-teísmo” para fugir da asfixia. Hoje, a esta altura do tempo, felizmente já muitas pessoas sabemos que o “teísmo” não é mais que um “modelo”, uma forma de modelar mentalmente esse mistério da Realidade, par entender-nos. E por isso mesmo sabemos que não é preciso dar mais importância do que se dá a um modelo. A alternativa já não é teísmo/ateísmo. Agora conhecemos a possibilidade do pós-teismo... Podemos continuar crendo no Mistério da Realidade, em tudo aquilo que nossos avós e ancestrais modelaram na categoria theos, deus, sabendo que não é senão um modelo e podemos deixa-lo de lado se não nos serve. Se não conseguimos assimilar aquelas crenças, enquanto crenças, enquanto modelos úteis, hoje podemos ser igualmente espirituais e até concretamente cristãos, sem ter que ser teístas, nem ateus, mas “pós-teístas”. O tema seria longo... Recomendamos o livro de John Shelby Spong: Um cristianismo novo para um mundo novo.
Concluímos recordando o tema das Comunidades Eclesiais de Base: “A Trindade é a melhor Comunidade”.
Schillebeeckx em “Sou um teólogo feliz”, afirma: “Para mim a Trindade é o modo de Deus de ser pessoa. Todas as exigências do dogma eu as admito sem correr o risco de falar de três pessoas, de uma espécie de família e, de fato, de um triteísmo, que é bastante popular na fé cristã.
Na verdade, não compreendo a especulação sobre a Trindade. Respeito as especulações de Santo Tomás, por exemplo, porém não dizem nada à minha espiritualidade. Especula-se muito sobre a Trindade. Onde está a utilidade para fé de todas estas especulações?
Deus é Trindade (isto é dogma), porém não são três pessoas. Seria triteísmo. Não escrevi nunca sobre este tema porém tenho medo. Não quero fazer especulações. Há uma trindade na natureza pessoal de Deus. Sou, portanto, muito modesto, quase agnóstico em relação a uma teologia trinitária. Confesso a Trindade, porém é necessário ter uma espécie de reticência a respeito da racionalização das relações das três pessoas. Não sou contra destas especulações, porém não vejo em que podem acrescentar à minha vida espiritual. Diria que não acrescentam nada.
Oração
Ó Deus-Trindade, “a melhor comunidade”, mistério eterno, insondável, do qual apenas podemos balbuciar uma longínqua aproximação. Aviva em nós tua vida, a mesma que criaste e depositastes em cada uma de tuas criaturas, para que nos sintamos convocados a acrescentar a vida, impulsionados por essa corrente original e eterna de vida em comunhão que tu mesmo és: Trindade santa, Pai, Filho e Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém. 



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