Comentários Prof.Fernando* Ascensão - 17 de maio de 2015
Tempo e Eternidade
Sobre a Ascensão
1)
Sobre o final do Evangelho segundo Marcos (lido hoje) um estudioso da
bíblia (o canadense A.Gilbert – em quem me baseio para este comentário) observa que praticamente todos
biblistas são unânimes: este trecho final não pertence ao mesmo autor que
escreveu o resto do evangelho. Há diferenças de estilo e vocabulário. E os versos
10 a 20 contêm elementos próprios de Lucas (ex.: alusão aos discípulos de Emaús vv12-13) e de
sua outra obra, o livro de Atos (ex. a imposição das mãos dos apóstolos para
curar; Paulo que vence o veneno de cobra). Lembrar esta informação ajuda-nos mais
uma vez a escapar da tentação de ver a redação dos evangelhos como se fossem cenas gravadas
em sequência cronológica.
2)
O texto de hoje, em suas partes
(com tradução de alguns termos gregos):
a- começa com um “paralelo” (com os demais evangelistas)
– o encontro do Mestre com os apóstolos escondidos (cf. 1ºdomingo após a
Páscoa). Oneídisen/apistían/sclerokardían
= repreendeu-lhes o não crer e o coração seco (dureza de coração) por não acreditarem nos que o tinham visto
ressuscitado.
b- dá-lhes a missão de continuar seu anúncio. Kósmon hápanta/páse ktísei/euanggélion: por
todo o mundoa/a toda criatura/ser humano/as boas noticias de Deus: ide por todo o mundo contando a todos a Boa
Nova.
c- este anúncio liberta e há Sinais que apontam esta libertação
que acompanham aquele que crê. Ele será capaz não só de afastar o mal (“expulsarão demônios”) e de superar as
barreiras sociais (“falarão novas
línguas”), mas até de alcançar uma espécie de imunidade: nem doença nem
morte têm poder ilimitado sobre eles (“pegarão
serpentes/o que beberem não lhes fará mal”), pois, ao contrário, eles farão
bem a outros, impondo as mãos sobre os doentes (ficarão bem = inverso de ficar
doente).
d- Jesus Cristo retorna à sua condição divina (“retomou/subiu
ao céu e sentou-se à direita de Deus), mas deixa aos discípulos a missão de continuar
divulgando a Boa Nova.
Dizemos no Credo dos apóstolos: Creio no Filho de Deus que (...) e subiu
aos céus
1)
A chave de interpretação aqui é Fé. A fé
que surgiu da experiência de um amor sem limites (à cena batismo – início da atuação
pública de Jesus de Nazaré – os evangelistas associam a sua experiência de ser
amado por Deus: “Tu és o meu filho bem-amado”). O núcleo da fé é poder dizer:
eu sou um ser importante e amado; não estou só; eu participo de uma aventura
que até me ultrapassa e que, apesar de dificuldades e sofrimento, vale a pena. Fé
é esta confiança radical que transforma a perspectiva de vida, mesmo
atravessando crises, dores, rupturas ou fracassos. Quem crê sabe que, para além
de todo acontecimento passageiro e condicionamento mortal é possível uma
ressurreição:
2)
É esta fé que permite expulsar as pulsões
e tendências más (demônios); faz sair da prisão de nosso mundo pequeno para um
universo mais amplo (falarão línguas novas); permite superar acontecimentos
tristes e catástrofes (serpentes, venenos mortais) como uma reconstrução após o
terremoto. A propósito, lembremos-nos dos nepaleses neste momento.
3)
Esta fé nos faz transformar a “ausência”
do Mestre em nova “presença” – é o que chamamos de “Ascensão”: ele agora
compartilha as prerrogativas divinas da vida eterna, mas, por seu Espírito agindo
em nós, faz-nos faz sentir em modo novo sua presença E garante (cf. João
cap.14) o que disse na véspera de sua morte: para
que onde eu estiver estejais vós.
40 dias, quarenta anos ou a vida toda
·
Os primeiros escritos cristãos (e a
liturgia atual) colocam a Ascensão a 40 dias após a Páscoa. Será que Jesus
tinha de esperar exatamente 40 dias para retornar à casa celestial? É mais
provável que sua morte e sua passagem para a dimensão divina sejam um único e
mesmo evento. Mas o número simbólico de 40 aparece na bíblia lembrando os 40
anos de caminhada do povo hebreu até chegar à Terra Prometida. Se aceitamos que
a Fé conduza nossa vida renascemos para uma vida nova. Então, estamos falando
não tanto da Ascensão de Jesus, mas da nossa. Caminhamos na confiança. Neste nosso
espaço-tempo.
oooooooooo ( * ) Prof.(1975-2012-Edu/Teo/Fil)
fesomor2@gmail.com
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