3º DOMINGO DA PÁSCOA 19/05/2015
1ª Leitura Atos dos Apóstolos 2,
14.22-23
Salmo 15(16), 11ab “Vós me ensinareis
o caminho da vida, há abundância de alegria junto de vós”
2ª Leitura 1 Pedro 1, 17-21
Lc 24,35-48
Nhá Maria era uma senhora bem pobre
que gostava muito de vir em nossa casa para receber alguma ajuda. Naquele
tempo, o pedinte não era um estranho que causava medo e insegurança como hoje,
e nós a acolhíamos na mesa da refeição, porque jamais minha mãe permitia que
ela ficasse na porta ou na calçada, um filho de Deus tem que sentar-se á mesa,
nos dizia sempre.
Claro que os tempos eram outros e
ninguém pensava em sequestro ou assalto. Depois de ouvi-la atentamente, a
conversa sempre terminava com a frase tão batida lá em casa, “Se for da vontade
de Deus, tudo vai melhorar e dar certo”, que minha mãe dizia, enquanto preparava
um cafezinho fresco que a Nhá Maria tomava antes de ir embora, toda agradecida.
Este evangelho mostra algo que hoje
não se pratica muito em nossas relações: ouvir as pessoas, caminhar com elas,
saber como está a vida, o que andam pensando ou sonhando, ou porque andam
tristes. Passamos de carro, sempre apressados, e no máximo fazemos um aceno ou
buzinamos para os conhecidos.
O caminhante que se junta aos dois
peregrinos age diferente, percebe que estão tristes e desanimados, se junta a
eles, quer saber o que aconteceu, qual a causa da tristeza, ouve com atenção e
somente depois falou, não deixou suas inquietações sem uma resposta, não
terminou a prosa com aquele jeito resignado “fazer o que, a vida é assim
mesmo...” Como muitas vezes encerramos nossa conversa com alguém que está
sofrendo ou desanimado.
É bem verdade que os censurou por
serem tão lerdos na compreensão da escritura antiga, mas a conversa foi
agradável, marcada pela ternura, pois não se pode anunciar o evangelho com
gestos bruscos e cara feia, como se quisesse dar uma lição de moral em quem
ouve, isso é perda de tempo! O texto não deixa dúvidas quanto a isso, seus
corações ficaram abrasados, enquanto Jesus lhes falava, levando-os a descoberta
de algo novo, o sofrimento faz parte da vida, mas não é a última palavra.
Considerando-se a intencionalidade
do autor, o texto trata de uma celebração eucarística, com duas partes bem
distintas: a Palavra e a Eucaristia. Vivemos um tempo histórico diferente do
que viveram esses discípulos, porém a situação é quase a mesma, achamos difícil
perceber a presença do Senhor em meio a um quadro muitas vezes tão desolador, e
a história de Emaús, mais parece uma bela lembrança. Eis uma fé distorcida e
fragilizada como a dos dois discípulos peregrinos! No coração do Cristão, Jesus
Ressuscitado na maioria das vezes é alguém distante de nossa vida e de nossos
problemas, parece que o Jesus da história é um e o Jesus da Salvação é outro,
Pois o evangelho desse domingo,
belíssimo por sinal, nos mostra que na comunidade, em cada celebração a
história se repete o Senhor nos questiona sobre o que estamos falando pelo
caminho desta vida, em que acreditamos, quais são nossas aspirações, o que
queremos ver realizado. A palavra que celebramos nos fala da vida de Jesus e de
nossa vida também, ela nos encoraja porque penetra em nosso coração, não se
restringindo a um mero ritual.
Uma caminhada, uma prosa saudável e
edificante, fortalecedora e motivadora, não tem coisa melhor neste mundo, assim
é que Jesus vem ao nosso encontro em cada domingo. A palavra de Jesus que
caminha com eles, não é conversa fiada, lamentação e choramingos, porque as
coisas não vão bem, em casa, na comunidade, no trabalho ou na política, Jesus é
alguém diferente, que encontrou um sentido novo e sua palavra renovadora,
fortalecedora é revigorante, porque nos faz dar a volta por cima, aos seus
discípulos de ontem e de hoje, ele vem confirmar o seu projeto de salvação,
anunciando que a morte e a força do mal, não têm nenhum poder sobre o Reino que
ele instalou no meio dos homens.
E depois de uma boa conversa, em
uma mesa de refeição, Cleofas e seu amigo de caminhada sentem que não podem
mais viver sem aquele homem, e o acolhem no coração, quando o conhecem ao
partir o pão, onde o Senhor partilha com eles seus sonhos e projetos de vida,
que ajudam a construir o reino novo.
Não tenhamos medo de percorrer o
caminho de Emaús, onde levamos, é verdade, nossos desânimos e fracassos, e
diante da palavra que nos aquece o coração, manifestemos o desejo de que o
Senhor fique sempre conosco, “Fica conosco Senhor pois é tarde, e a noite vem
chegando”. E no pão que se parte e reparte, nos fortalecemos, e voltamos com
pressa á nossa comunidade, onde não há mais noite, mas na fé caminhamos com os
irmãos e irmãs, diante da luz sempre reluzente que é o próprio Deus, presente
em Cristo - Jesus!
José da Cruz - Diácono permanente
da
Paróquia Nossa Senhora Consolata-
Votorantim
cruzsm@uol.com.br
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