XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM 28/09/2014
1ª Leitura Isaias 55, 6-9
Salmo 144(145), 18 a “O Senhor se aproxima dos que o invocam”
2ª Leitura Filipenses 1,10c 24.27ª
Evangelho Mateus 20, 1-16a
"OS DOIS FILHOS"
Há uma música muito bonita chamada Filho Adotivo, onde o filho
adotado atende e assiste o pai, na hora de suas necessidades, fazendo aquilo
que competia aos filhos legítimos que não o fizeram, ou seja, sempre é de se
esperar, que o adotado nem sempre corresponda ao amor do pai, agindo com sentimento
de gratidão. Mateus escreve para as comunidades de origem judaica e sempre que
aparece em seu evangelho dois personagens diferentes, aquele que posa de “bom
moço”, mas que no fundo é enganado, são pessoas que pertencem ao judaísmo, a
reflexão segue nessa linha, se Mateus escrevesse a história do Filho adotivo,
certamente ele seria alguém de fora da comunidade e não o contrário. O desejo
de Deus é que todos os homens se salvem. O seu projeto de vida nunca exclui
ninguém, mas é necessário que através de uma fé encarnada na vida e na
história, o homem lhe dê uma resposta autêntica, pois em um primeiro momento,
essa relação com Deus foi marcada por uma ruptura, porque o homem optou em
dizer não, quando pecou, ao querer ser conhecedor do Bem e do Mal, quando
manifestou a vontade de fazer a sua própria história, sem se importar com o que
Deus pensava a respeito.
Israel é a nação escolhida, a raça eleita, a quem Deus convida a
caminhar junto com ele, quando chama Abraão, o Pai da Fé, confirma o chamado e
a aliança em Isac e Jacó, manifesta a força libertadora do seu amor através de
Moisés, o amado toma as dores da amada, humilhada, agredida, oprimida pelo
Egito, e depois, com o passar do tempo, manda recados de amor através dos
profetas, para que o povo não perdesse o rumo e a direção.Deus nunca escondeu o
seu projeto, ao contrário, foi se revelando aos homens que abriram a ele o
coração e a vida, havia um trabalho a ser feito, algo a ser plantado, um reino
novo com novos horizontes de uma vida nova, é como na relação de um casal de
esposos, o amor deve ser vivenciado em gestos concretos, Israel é na verdade
esse segundo Filho, que aceitou com entusiasmo ser o seu povo, o escolhido, o
amado, o predileto, “Eu serei o seu Deus, e Vós sereis o meu povo” – Mas logo esse
sistema religioso, centrado na aliança, e que exigia fidelidade diante de um
Deus que ama e que caminha junto, se tornou um mero formalismo, perdendo toda
graça e o encanto.
Hoje há muitas igrejas cristãs onde se diz SIM, na base do
entusiasmo, da euforia, de uma conversão milagrosa, ocorrida da noite para o
dia, por conta de algum prodígio, o SIM se torna fórmula mágica, quando no modo
de se viver a religião, nada se perde, mas tudo se ganha. O que importa é
participar do rito, sentir-se protegido por Deus, na religião do SIM da
euforia, sem raiz, sem maturidade, o homem pode determinar e Deus cumpre, na
religião do SIM formal, sem exigência e compromisso com a ética, moral, a
liberdade, o respeito à vida e a busca da justiça, o que vale é o SEJA FEITO Á
NOSSA VONTADE, é o homem poder tirar vantagem dessa “pseuda” relação com Deus,
por trás de uma instituição religiosa. Israel, o Povo da Promessa e da Aliança,
enveredou por este caminho, da religião dos detalhes, das formalidades, dos
ritos purificatórios, dos preceitos, e quando se faz o rito pelo rito, o
coração vai perdendo a esperança, a crença, sem compromisso com o chão da
história, vai se tornando monótona, vazia, sem sentido. Deus é nosso, a
salvação é nossa, a Vida Eterna é nossa, e o Espírito Santo vai e vem, conforme
nossas ordens. Não seria esse o modo de pensar do fenômeno religioso da
modernidade? Eis o grande perigo para nossa vida de fé na comunidade: Dizer um
SIM a Deus, ao seu projeto de Vida, mas ter o coração distante, frio, algo como
que um casamento apenas no papel, ou o casamento da aparência, onde marido e
mulher dormem em quartos ou camas separadas, porque não se suportam. Essa
religião é coisa do Homem!
Já o primeiro Filho, aquele que disse NÃO, acabou mudando de idéia
e foi trabalhar na Vinha do Pai, porque descobriu que a relação com ele, não se
fundamenta no formalismo, no contratual ou na obrigatoriedade, no meramente
ritual, mas sim no amor, que quer celebrar a vida, onde o rito de gestos e
palavras, nada mais é do que a expressão dessa gratidão, que irrompe do fundo
da alma humana, e sobe a Deus em oferta agradável. Este Filho descobriu todo um
projeto de vida, onde a vocação para o amor, faz dele alguém especial, que tem
nos mandamentos do Senhor, não preceitos moralistas marcados pelo rigorismo e
pela ameaça de um castigo, mas sim uma sinalização segura, a conduzir o homem
no rumo certo, dos braços de Deus, que o espera com alegria, como o Pai esperou
pelo Filho Pródigo em sua casa. Nesse sentido, nós cristãos atuantes e membros
da Igreja, precisamos tomar cuidado, pois todos aqueles que rotulamos como
Filhos perdidos e ovelhas desgarradas, poderão nos preceder no coração de Deus,
se continuarmos pensando que o mundo se divide entre bons e maus, entre santos
e pecadores, entre justos e injustos, e que nós, estamos sempre do lado dos
bons, só porque um dia dissemos SIM...
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