06 de Setembro - Sábado - Evangelho -
Lc 6,1-5
A observância da lei do sábado era a
maior instituição do judaísmo, e para isso tinham sido criadas leis
extremamente rígidas e pormenorizadas, que proibiam qualquer atividade que se
assemelhasse a um trabalho. Por exemplo, os especialistas interpretavam o gesto
de debulhar espigas de trigo como colheita e, portanto, como violação do
repouso sabático (6,1-2; Êxodo 34,21). Jesus responde à acusação dos
adversários recorrendo a um exemplo tirado da Escritura (1 Samuel 21,1-6):
fugindo do rei Saul, Davi e seus homens entraram no santuário e comeram os pães
oferecidos a Deus (os doze pães, renovados a cada sábado, e que só os
sacerdotes do santuário podiam comer- veja Levítico 24,5-9). Esse precedente
celebrado na própria Escritura, diz Jesus, mostra que a lei positiva está
subordinada ao bem do homem, e que a necessidade de sobreviver está acima de
qualquer lei.
É a segunda vez que Jesus se arroga um
direito: o Filho do homem, que tem poder para perdoar pecados (5,24), também é
“o senhor do sábado” (6,5). Em outras palavras, Jesus está introduzindo uma
nova ordem humano-religiosa, onde as instituições, estruturas, leis e costumes
devem estar sempre a serviço do homem, podendo ser abolidos e cair para segundo
plano em qualquer circunstância em que uma necessidade urgente o exigir.
“Sábado” provém do hebraico “Shabath”,
que significa “repouso, cessão”. Assim, o sábado bíblico nada mais é que um dia
de descanso observado a cada sete dias. Ele na Bíblia se prende ao ritmo
sagrado da semana, que se encerra com um dia de repouso e de culto a Deus (cf.
Os 2,13; 2Rs 4,23; Is 1,13; Ex 20,8; 23,12; 34,21). O sábado deveria ser
observado por diversas razões: por questões humanitárias (cf. Ex 23,12; Dt
5,12-14), por ser sinal de distinção com relação aos outros povos (cf.
Ez20,12.30; Ex 31,13-17), por ser um dia que não poderia ser profanado pelo
trabalho (Ez 22,8) e por ser legislação sacerdotal, já que Deus teria
descansado no 7º dia (cf. Gn 1,1-2.4a; Ex 30,8-11; 31,17). O sábado era um dia
festivo (cf. Os 2,13; Is 1,13), no qual não podia haver compras, vendas ou
trabalhos no campo (cf. Am 8,5; Ex 34,21). Era também proibido acender fogo (Ex
35,3), recolher lenha (Nm 15,32) e preparar alimentos (Ex 16,23). Até mesmo a
guarda do palácio era reduzida (2Rs 11,5-9)… Os fiéis iam ao santuário (Is
1,12s), após uma convocação santa (Lv 23,3), ofereciam sacrifícios (Nm 28,9-10)
e renovavam o pão da proposição (Lv 24,8; 1Cr 9,32) ou simplesmente aguardavam
a visita de um profeta (2Rs 4,23). Após o exílio babilônico, a observância do
sábado foi radicalizada: Neemias agiu com energia para garanti-lo (Ne
13,15-22), as viagens foram proibidas (Is 58,13) assim como o transporte de
cargas (Jr 17,19-27). Na época macabéia, a observância era tão cega que muitos
se deixaram matar sem oferecer resistência (1Mc 2,37-38; 2Mc 6,11-12; 15,1-2).
Finalmente, na época de Jesus, os fariseus elaboraram verdadeira “casuística”
quanto ao sábado: 39 tipos de trabalho eram proibidos (entre eles colher
espigas [Mt 12,2], carregar fardos [Jo 5,10], etc). Os médicos somente podiam
atender os doentes em perigo iminente de morte (motivo pelo qual se opuseram a
Jesus, que curava aos sábados – cf. Mt 12,9-13; Mc 3,1-5; Lc 6,6-10; 13,10-17;
14,1-6; Jo 5,1-16; 9,14-16)… os essênios chegaram ao absurdo de proibirem a
defecação no sábado!
Já no Novo Testamento, os discípulos
observaram o sábado para pregar o evangelho nas sinagogas (At 13,14; 16,13;
17,2; 18,4) logo se deram conta que a Nova Lei havia superado a Antiga. São
Paulo sempre lutou contra a infiltração de idéias judaizantes, sobretudo quando
escreve “que ninguém vos critique por questões de alimentos ou bebidas ou de
festas, luas novas e sábados. Tudo isto não é mais do que a sombra do que devia
vir. A realidade é Cristo.” (Cl 2,16-17; v.tb. 2Cor 5,17). Os cristãos, então,
passaram a realizar seus cultos no dia seguinte ao sábado, isto é, no domingo,
dia em que o Senhor Jesus ressuscitou (aliás “domingo” vem de “domini dies”,
isto é, “Dia do Senhor”). Diversas são as provas bíblicas da observância do
domingo: Jo 20,22-23.26; At 2,2; At 20,7-16; 1Cor 16,1-2; Ap 1,10. Repare-se
bem que esse era o dia em que os cristãos se reuniam! Dessa forma, a
perspectiva cristã sempre enxergou o antigo sábado dos judeus como uma figura,
da mesma forma que outras instituições do AT.
“Pelo repouso do sábado os israelitas
comemoravam o repouso (figurado) de Deus após haver criado o mundo e o homem.
Ora, com a ressurreição de Cristo, a primeira criação tornou-se prenúncio e
figura da segunda criação ou da nova criação do gênero humano que se deu quando
Cristo venceu a morte e apareceu como novo Adão. Era justo, portanto, ou mesmo
necessário, que os cristãos passassem a observar, como Dia do Senhor ou como
sétimo dia e dia de repouso (sábado), o dia da ressurreição de Cristo” (d. Estevão
Bettencourt, “Diálogo Ecumênico, p.250). A própria carta aos Hebreus acentua a
índole figurativa do sábado, afirmando que o repouso do sétimo dia era apenas
uma imagem do verdadeiro repouso que fluiremos na presença de Deus (cf. Hb
4,3-11). E você cristão católico, ainda tem dúvida do porque deves observar os
domingos e festas de guarda?
Finalmente Cristo se auto-declarou como
“Senhor do Sábado” (tendo, portanto, poder sobre ele); Jesus ressuscitou num
domingo; o Espírito Santo veio sobre a Igreja num domingo; os apóstolos se
reuniam aos domingos; os cristãos antes do Período Constantiniano (séc. IV) se
reuniam aos domingos; os cristão pós-Constantinianos também se reuniam aos
domingos; todos os cristãos atuais (católicos, ortodoxos e protestantes – com
exceção dos adventistas e batistas do 7º dia) ainda observam o domingo… Como
duvidar que o domingo não foi instituído divinamente? Temos todos os
testemunhos que precisávamos: Bíblia, Tradição e Magistério; temos a palavra
final: Domingo é o Dia do Senhor!
Faço minhas as palavras do Pe. Arthur
Betti: “Vale mais um domingo, dia em que Cristo ressuscitou, do que todos os
sábados sem ressurreição, sem a verdadeira libertação”! Que a vitória de Cristo
sobre o sábado e a morte seja também a minha e a tua sobre o pecado e
consequentemente sobre a morte para que com Cristo ressuscitemos eternamente!
Pai, torna-me sensato na prática das
exigências religiosas, para eu buscar, em primeiro lugar, o que realmente é do
teu agrado e está a serviço da vida, cuja fonte és Tu.
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