Vós deveríeis praticar isto, sem contudo deixar aquilo.
Neste Evangelho, Jesus censura fortemente os escribas e os fariseus,
devido à sua hipocrisia. O piro é que os pecados deles são muito comuns entre
nós. Usando a comparação de limpar um copo, Jesus se refere às nossas atitudes
erradas, que são as raízes dos nossos atos errados. Eles se preocupavam com os
atos externos (limpar o copo por fora), mas Jesus quer mais, quer a nossa
mudança de coração, isto é, a nossa mudança de atitudes (limpar o copo por
dentro).
A palavra hipócrita, naquele tempo, significava não só dar uma aparência
daquilo que não é, mas falsificar as ações religiosas, a fim de dar uma
aparência de santo. Os verdadeiros enviados se colocam humildemente como seus
servos, e estão sempre em processo de conversão, a fim de não dar mau exemplo.
Do contrário eles podem afastar o povo de Deus, em vez de aproximar. Quem pensa
que sabe tudo, não dá a Deus a chave da sua mente. Quem pensa que cumpre todos
os mandamentos, não dá a Deus a chave do seu coração. Quem se afasta dos
pecadores e dos humildes, se afasta da misericórdia de Deus.
As opções fundamentais da nossa vida, embora sejam invisíveis, têm as
suas epifanias (manifestações), pelas quais elas se tornam perceptíveis a nós e
aos outros. Por exemplo, se a minha vida não é direcionada para Deus, aparecem
as epifanias, que são os atos de pecado, grandes ou pequenos.
Há uma diferença entre ato e atitude. A comparação com a árvore nos
ajuda a entender. Uma árvore tem folhas, galhos, tronco e raízes. Não vemos as
raízes, mas são elas que sustentam e dão vida a tudo, através da seiva. As
raízes são as nossas atitudes (fé, esperança, virtude da caridade, humildade...
Também as negativas: egoísmo, preguiça...), e o resto, o que aparece na árvore
são os nossos atos (solidariedade, alegria, perseverança, atos de caridade.. Ou
os negativos: roubo, violência, infidelidade...) Assim como não vemos as raízes
de uma árvore, não vemos as atitudes de uma pessoa. Mas elas são as mais
importantes, pois são elas que geram os atos da pessoa, bons ou maus.
É importante descobrir, através dos nossos atos, quais são as nossas
atitudes que estão gerando esses atos. Pelo estilo de vida de uma pessoa
podemos identificar suas opções fundamentais.
Uma árvore tem folhas, frutos e raízes. Nós vemos as folhas e os frutos,
mas não vemos as raízes. No entanto, são elas que alimentam as folhas e os
frutos. O mesmo acontece com o pecado e com a falta de fé; são frutos de raízes
escondidas.
“Filhinhos, não ameis o mundo nem o que está no mundo. Se alguém ama o
mundo, o amor do Pai não está nele; pois tudo o que está no mundo – a
concupiscência da carne, a cobiça exagerada de bens, e a soberba da vida – não
vêm do Pai, mas do maligno” (1Jo 2,15-16). Nesse texto, S. João cita os três
grandes ídolos do mundo, que começam com “p”: O prazer, e posse e o poder. O
maior obstáculo é o apego exagerado ao dinheiro, que está no segundo “p”.
Essas tendências nossas, em si, são boas. Acontece que o pecado
desorganiza as nossas inclinações.
Pelo prazer, às vezes buscamos vícios, faltamos ao domínio de nós
mesmos, abusamos do nosso próximo, caímos no comodismo, palavra bonita para
dizer preguiça.
Pela posse, caímos na avidez de ter coisas. Não partilhamos e facilmente
pulamos da posse de coisas para a posse de pessoas. “Quanto mais tem, mais
quer”.
Pelo poder, caímos na avidez de estar por cima, de mandar, ou de ter
fama e prestígio. Usando uma linguagem figurada, nós matamos pessoas só para
subir em cima dos seus cadáveres e assim todos nos verem. E ainda acenamos com
cara lavada: “Oi, estou aqui!” Claro, não deixamos ninguém ver o que há embaixo
dos nossos pés. Coisa horrível!
Outras raízes do pecado e da incredulidade: A preguiça (Cf Pr 26,13-16),
o egoísmo, o egocentrismo... A fé cristã nos leva ao alocentrismo, que é o
contrário de egoísmo.
“Vós pagais o dízimo da hortelã... e deixais de lado os ensinamentos
mais importante, como a justiça e a fidelidade!” Pagar o dízimo da hortelã é um
ato pequenino, mas bom. Agora, a justiça e a fidelidade são virtudes internas
nossas que geram atos bons muito mais importantes.
“Vós limpais o copo e o prato por fora, mas por dentro estais cheios de
roubo e cobiça.” Limpar o copo é ato bom, embora pequenino. Agora, o roubo e a
cobiça são pecados grandes. O pior é limpar o copo para abafar ou esconder o
roubo e a cobiça.
“Guias cegos!” Se o guia é cego, os dois vão cair num buraco. Imagine
quem é guia de todo um povo! E os fariseus e mestres da Lei não eram só cegos,
mas exploradores do povo a eles confiado. Esses guias cegos, de ontem e de
hoje, torcem o sentido das Sagradas Escrituras em função de seus interesses
gananciosos, e com isso, em vez de aproximar, afastam o povo de Deus e do seu
Reino.
Vamos limpar-nos por dentro, tirando as raízes do mal eliminando os
vícios e enriquecendo-nos com as virtudes, e assim com certeza produziremos
muitos e bons frutos.
Certa vez, um monge mestre e um noviço estavam viajando a pé. Chegaram a
beira de um rio e viram ali uma linda moça querendo atravessar o rio mas não
conseguia porque o rio não dava pé e ela não sabia nadar.
Então a moça pediu a eles: “Por favor, levem-me até o outro lado. Eu
preciso chegar em casa!” O mestre a pegou, colocou nas costas e atravessou a
nado o rio. O noviço também atravessou nadando, e os dois continuaram a viagem.
Várias horas depois, o noviço criou coragem e disse ao mestre: “A nossa regra
nos proíbe de tocar em mulher. Como que o senhor fez aquilo, atravessando
aquela moça nas costas?” O mestre respondeu: “Eu deixei a moça lá na beira do
córrego. E você está trazendo-a consigo até agora!”
Aí aparece direitinho onde está o pecado. Ele está no nosso coração, não
nos nossos atos externos simplesmente. Se nós fazemos as coisas com reta
intenção e querendo agradar a Deus, ele nos protege e não fazemos pecado, mesmo
que atravessemos um rio com uma linda moça nas costas. Por isso, não precisamos
ter medo dos nossos irmãos ou irmãs do sexo oposto.
Maria Santíssima é toda pura e santa, por dentro e por fora. Isso
transparece em seus olhos, em seu coração, em tudo. Ela não se preocupava em
aparecer, como os hipócritas; o que ela queria era amar e servir a Deus e ao
próximo. Por isso foi escolhida por Deus para ser a Mãe do seu Filho e de todos
nós. “Ó virgem santa, rogai por nós pecadores!”
Vós deveríeis praticar isto, sem contudo deixar aquilo.
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